Opinião
Um Parlamento novo
Antecipo, por isso, que André Ventura numa próxima eleição já não vá ter necessidade de exigir a disponibilidade de tempo, porque será o Partido que mais margem de progressão apresenta no actual espectro político português
As primeiras semanas desta nova legislatura têm vindo a ser de habituação a uma nova geometria política na Assembleia da República, sobretudo com a presença de novos partidos de deputado único. E para lá da questão inicial da arrumação no hemiciclo - veja-se a relevância que tem para a resolução dos problemas dos portugueses e de Portugal - nos últimos dias muito se discutiu sobre os tempos disponíveis para a intervenção dos pequenos partidos.
E a ex-gerigonça demonstrou, claramente, os seus grandes valores da democracia, quando pretendiam não disponibilizar tempo para os novos partidos nos debates quinzenais, mesmo quando se abriu uma excepção na anterior legislatura para o PAN.
Valeu a posição do PSD e do CDS/PP, a par do Presidente da Assembleia da República, para permitir que o Chega, Livre e Iniciativa Liberal possam utilizar um minuto e meio… sim, isso mesmo, um minuto e meio, cada um!
Por tão redutor do ponto de vista da participação, ainda se torna mais ridícula e incompreensível a não concordância inicial do PS, BE, PCP e PEV, e a discussão deste tema, até porque no final lá se concretizou a possibilidade de aceitar essa grandiosa excepção de “ceder” quatro minutos e meio aos três novos partidos no Parlamento!
Parece-me, pois, que algumas pessoas ainda não perceberam que a tendência futura será claramente de surgimento de pequenos partidos com representatividade no Parlamento, que se movimentam através de bolsas eleitorais muito específicas e objectivas.
Antecipo, por isso, que André Ventura numa próxima eleição já não vá ter necessidade de exigir a disponibilidade de tempo, porque será o Partido que mais margem de progressão apresenta no actual espectro político português, podendo, inclusivamente, ultrapassar o PAN.
E também não vale a pena perder muito tempo sobre a sua ideologia e a associação deste Partido à extrema-direita, porque aquilo que André Ventura já demonstrou neste início de legislatura é que não se vai coibir de utilizar alguma demagogia e populismo para ir ganhando espaço, junto de muitos eleitores que estão altamente descrentes da política!
Para já, apresentou uma proposta para redução do número de deputados de 230 para 180, o mínimo possível no actual quadro constitucional. A maioria dos portugueses concorda, ou não?
E estou certo que iremos ouvir falar no Parlamento de muitos temas que animam as conversas de muitos eleitores, por essas mesas de café do País, num registo de quem sabe o que quer e ao que vem!
Um alerta para o CDS/PP, que passa um tempo difícil, sobretudo quando tem uma Iniciativa Liberal ávida de ocupar o seu espaço e com um discurso bem consolidado!
Apesar de tudo, o actual sistema protege os maiores partidos, sendo que só vai sendo possível conquistar mandatos pelos novos partidos nos maiores círculos eleitorais: Lisboa, Porto, Setúbal, Braga e Aveiro, que nas últimas eleições elegeram 141 deputados.
Vivemos, por isso, um tempo novo, que se vem apresentando, paulatinamente, assente na falta de credibilidade que os portugueses vão associando à actividade política e na inércia dos partidos tradicionais darem resposta adequada às novas dinâmicas da sociedade actual!
Por isso, em próxima oportunidade desenvolverei esta opinião, designadamente através dos desafios que se apresentam ao PSD!