Opinião

Um tiro no porta aviões

21 abr 2020 10:00

A França privilegiou a segurança das pessoas, em contraste com a Marinha dos EUA quando soube que havia vários casos de coronavírus a bordo do seu porta aviões Theodore Roosevelt.

Segundo uma notícia publicada no sítio do Público no passado dia 10/4, o porta aviões francês Charles de Gaulle abandonou os exercícios militares em que participava no Mar Báltico e regressou a França face à infecção por coronavírus de 50 marinheiros, de um total de 1760 pessoas da sua tripulação, para serem tratados.

A França privilegiou a segurança das pessoas, em contraste com a Marinha dos EUA quando soube que havia vários casos de coronavírus a bordo do seu porta aviões Theodore Roosevelt, um dos dois porta aviões destacados pela Marinha norte-americana no Pacífico para projectar poderio militar contra a China e a Coreia do Norte.

Apesar dos pedidos insistentes do comandante do navio para que 90% dos marinheiros fossem desembarcados e tratados na ilha de Guam, já que não estavam numa guerra pelo que não tinham de morrer em combate, o Secretário da Marinha americana recusou, privilegiando a operacionalidade do navio.

Depois de várias peripécias que alertaram a opinião pública, os marinheiros foram desembarcados, o comandante do navio demitido e o Secretário da Defesa demitiu-se.

Este episódio não me teria despertado grande interesse se não tivesse lido o que o Professor Amado da Silva escreveu neste jornal, na edição de 26/3/2020, confidenciando ao seu “Caro Zé” que tinha ficado siderado por, nesta conjuntura trágica provocada pelo Covid-19, ter ouvido que os norte americanos orçamentaram 3,2 mil milhões de dólares no Orçamento para 2021, para desenvolverem, em cinco anos, um míssil hipersónico capaz de fazer concorrência às armas similares desenvolvidas por russos e chineses.

Pois, se me permite o Professor que também me dirija ao “Caro Zé”, acrescento que os EUA, em 2018, gastaram em Defesa 649 mil milhões de dólares (aproximadamente 590 mil milhões de euros), em contraste com o pacote de 500 mil milhões de euros aprovados pelo Eurogrupo para apoio de emergência aos governos, empresas e trabalhadores da União Europeia, mas como empréstimos e, mesmo assim, arrancados a ferro por Centeno.

Para consolo interior e sinal de esperança no futuro de todos nós, leio na edição do Expresso de 10/3/2020, que mais de três mil voluntários se disponibilizaram para dar apoio aos lares, a título gratuito, no combate à Covid-19 em apenas dois dias, através da plataforma online “Cuida de Todos”, juntando-se aos 929 outros voluntários que se candidataram noutra bolsa (“Portugal Voluntário”), lançada no início da pandemia.

Entre estes voluntários há os mais diversos perfis, desde administrador de empresas a desempregados, arquitectos, actores, jornalistas, cabeleireiros, médicos ou domésticas.

Um quarto dos candidatos oferece-se, mesmo, para lidar directamente com pessoas infectadas, uns em horários extra laborais, outros para os sete dias da semana.

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