Viver
A amizade não se ensina…
Ninjas e Princesas, por Rita Gomes
... Não se força, não se compra, não se agradece. Deverá ser inata, adquirida, contudo refinada e aperfeiçoada com as vivências. Esta semana o Ninja contou-nos que uma menina da escolinha dele não percebia porque é que ele era tão “beijoqueiro”.
A explicação dele era simples (como são simples as explicações quando temos três anos de idade e muita inocência a fervilhar): “Ela disse-me que eu era o melhor amigo dela! Claro que agora lhe dou muitos beijinhos!”
Aqui tenho de admitir que senti despertar o meu lado de futura sogra demoníaca… aproveito este espaço para tornar público que nunca vai haver nenhuma mulher suficientemente boa para o meu filho (ou algum homem merecedor da minha filha, já agora…).
Dizia eu, que senti despertar isso tudo, mas com o ar mais doce do mundo só lhe perguntei onde é que ele dava beijinhos à amiga: “Na cara, na boca, até já lhe dei um na perna!”
Orgulhoso e malandreco, sorri e espera pela minha reacção. Eu sorri, também. Meio em tom de brincadeira digo-lhe que na boca talvez não seja muito boa ideia, por causa das constipações e assim. Mas no fundo acho graça porque sei que foi a maneira que ele arranjou de se expressar, de “agradecer” o facto de uma menina lhe ter dito que ele era o seu melhor amigo. É aqui que se aperfeiçoa o dom da amizade.
Na escola, nas interacções com quem nos rodeia, mas também nos exemplos que vamos vendo. E lá em casa, felizmente, o que não faltam são amigos a entrar e a sair a toda a hora, como se fossem também eles da casa.
Os meus filhos sabem isso, aprendem assim a amizade, aprendem que qualquer hora é uma boa hora para visitar um amigo, para trocar dois dedos de conversa, um abraço e sim, às vezes também um beijinho.
O Ninja sabe isso, porque ele tem a mania que é ninja, mas no fundo é um menino carinhoso e fofinho que dá abraços capazes de derreter o coração da frieza do Jack Arrepios (referência de desenhos animados que só quem grama muito canal 44 é que vai perceber…). Aparentemente a amizade aprende-se.
E isso já é um bom começo. Mesmo que a primeira abordagem dele quando chega a um grupo de meninos que não conhece seja invariavelmente entrar com um salto ninja e ar ameaçador...