Desporto
A Barbie, o recordista mundial e a encomenda que nunca chegou
Eduardo Valério interpela atletas de todo o Mundo à procura de enriquecer a colecção de equipamentos de selecções de atletismo.
A dona Otília passa-se, sempre que abre o armário do filho. As calças de ganga, as t-shirts e as camisas estão numa barafunda, mas a colecção de equipamentos de atletismo parece um altar.
Tudo alinhadinho, muito bonitinho, como se fosse a única coisa que conta para o Eduardo. Não é que seja, porque a namorada e a mãe têm um lugar maior no coração do atleta, mas que é muito importante, lá isso é.
Vamos por partes. Com 20 anos, Eduardo Valério é um atleta de provas combinadas do Benfica. Residente na Batalha, entrou no atletismo há coisa de sete anos pela porta da Juventude Vidigalense.
Apaixonado pelo desporto, experimentou o futebol, o futsal, a natação, o badminton, o voleibol e o andebol, mas foi a correr, a saltar e a lançar que se sentiu bem. E resolveu levar as coisas a sério.
Em 2011 representou a Juventude Vidigalense na Taça dos Clubes Campeões Europeus de juniores, competição que teve lugar no Magalhães Pessoa e foi nesse momento que surgiu o click.
“E por que não juntar o útil ao agradável e começar a coleccionar os equipamentos dos atletas? Digo que sou coleccionador e se concordarem tudo bem. Se não concordarem, tudo bem também. Dou-lhes um aperto de mão e desejo-lhes boa sorte”, explicou.
O primeiro que angariou foi de um dos clubes presentes nessa competição: o Sparta. “Foi o maillot do Nicolai Hartling, barreirista que já esteve no Europeu de 2014 e já fez mínimos para a mesma prova deste ano”, sublinhou. “Perguntei-lhe se era possível, ele disse que sim e trocámos.”
O mais difícil estava feito. Depois, foi sempre a somar, muitas delas conseguidas como voluntário nas Taças da Europa de Lançamentos, competição que decorreu em Leiria, em 2014 e 2015.
A coisa até tem corrido bem, como o leitor pode constatar ao observar a fotografia que acompanha este texto. Suécia, Jamaica – não, não é do Usain Bolt –, República Checa, Estónia, Alemanha, Suíça, Eslovénia, China e muitos outros países estão já representados no armário que põe os nervos em franja à dona Otília.
“A minha mãe está sempre a dar-me nas orelhas, porque dou muita atenção àquilo e o resto está a um canto. Fica incrédula como consigo tanto material. Como nunca representei Portugal, não tenho equipamento para troca. Como faço? Pergunto se me podem oferecer ou como posso recompensá-los.”
Entre os equipamentos mais originais destaca os da Jamaica, de Granada e de Trinidad e Tobago, três países das Caraíbas, mas as peças que mais se orgulha são um casaco do recordista mundial desde 1986, o antigo discóbolo Jürgen Schult, ou a camisola do dardista que venceu a Diamond League de Xangai, Thomas Röhler.
E claro, a camisola de Silvia Salis, a Barbie dos lançamentos. Senhor leitor, garanto-lhe: vale a pena ir ao Google e pesquisar.
Mas nem tudo são rosas nesta incessante corrida por novas camisolas, principalmente quando os contactos são pelas redes sociais. Houve, até, um caso que o deixou “de pé atrás”, quando perguntou a um atleta queniano a disponibilidade para vender um equipamento, com respectivos portes de envio.
“Pediu-me o equivalente a 30 euros, disse que mandava o kit completo e até hoje não recebi. E já passou mais de um ano...”
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