Viver
A professora de História que respira teatro
Isabel Ferreira foi à Máquina do Tempo
Isabel Ferreira, professora de História e ex-deputada municipal da Marinha Grande, deixou as aulas e a Assembleia. Mas o JORNAL DE LEIRIA foi encontrá-la com um entusiasmo redobrado. É que a reforma chegou e Isabel Ferreira pode agora dedicar-se a um dos maiores prazeres da sua vida: o teatro.
Para celebrar 25 anos de A Soprar se Vai ao Longe, Isabel Ferreira está actualmente envolvida na reposição desta peça encenada por Norberto Barroca. Trata-se de um trabalho desenvolvido pelo Sport Operário Marinhense (SOM), que conta a história da Marinha Grande, desde a Idade Média, com maior ênfase no século XVIII e no legado dos irmãos Stephens.
Na sua versão original, a peça envolvia mais de 30 pessoas em palco e mais de 50 pessoas nos bastidores. Contava também com um excelente guarda-roupa. E chegou a apresentar-se em Lisboa, na antiga FIL, recorda Isabel Ferreira.
E é na reposição desta peça, que é também um marco na representação da Marinha Grande, que Isabel Ferreira tem vindo a trabalhar como actriz. “Norberto Barroca mantém-se na encenação e será interessante rever as jovens da época, que agora são mães”, considera Isabel. O elenco não deverá ser agora tão extenso, mas o evento, previsto para o início de Dezembro, contará com novos atractivos, como a projecção das filmagens da estreia, de há 25 anos, adianta ainda.
O envolvimento de Isabel Ferreira no associativismo também continua a marcar os seus dias. A professora mantém-se nos órgãos sociais do SOM, onde integra a Assembleia Geral. E colabora ainda, desde 2005, com a ADESER II.
Neste caso, dá aulas a alunos idosos, no âmbito do projecto Tertúlia dos Anos de Ouro. E, devido ao seu gosto pela poesia, Isabel continua ainda a ser convidada para participar na apresentação de livros, conta a docente.
Isabel não podia aposentar-se e, simplesmente, entregar- se ao aconchego do sofá e das pantufas. Antes pelo contrário. Este era já o cenário mais ou menos previsí-vel, pelo menos na perspectiva de quem a conhece e sabe a energia tem e que sempre colocou em tudo que fez.
Isabel Ferreira nasceu há 64 anos em Caldas da Rainha e licenciou-se em História, na Clássica, em Lisboa. Deu aulas no Alentejo e leccionou também em Trás-os- Montes, para onde seguiu o marido nos seus afazeres profissionais. Por ali acabou por ter os seus filhos.
Mas regressou ao distrito de Leiria e fixou-se na Marinha Grande, há mais de 30 anos. Foi na Escola Básica 2/3 Guilherme Stephens que sempre leccionou até se aposentar. Ultimamente, tinha trocado as aulas de História pelas de Expressão Dramática, e adorava o desafio. Aliás, conta a professora, as suas aulas de História também sempre se caracterizaram pelos momentos de encenação.
“Sempre usei muito o teatro para dar conteúdos programáticos. Arranjava-se um aluno que assumia a figura do Papa, outro que assumia a figura de rei ou de bobo da festa”, recorda Isabel Ferreira. Por isso, dar aulas de Expressão Dramática foi um desafio aceite de muito bom grado.
“Não tinha curso superior, mas tinha muita formação, décadas de experiência e gosto pela área”, salienta a docente. A paixão pelos palcos despertou quando ainda era garota. “O meu pai era uma pessoa muito cómica, que adorava fazer imitações. Os amigos iam lá a casa e no final das refeições formavam uma roda à volta dele, para o ouvir”, recorda Isabel Ferreira. “E ia muito a Lisboa, para ver teatro de revista. Tinha boas relações com os artistas, as coristas, as fadistas, pedia-lhes autógrafos”, explica a professora, que gostava muito daquele ambiente.
Ainda menina, Isabel também já entrava nalgumas récitas, na sua aldeia. Mais tarde fazia teatro, no liceu, e integrou também o grupo de teatro na faculdade. Estava a viver há poucos anos na Marinha Grande, quando leu no jornal que o Sport Operário Marinhense precisava de actores. Foi nessa altura que conheceu o encenador Norberto Barroca.
A política marcou também o seu currículo. A convite do saudoso amigo Osvaldo Castro, Isabel Ferreira foi deputada municipal pelo PS durante oito anos. Desse período, lamenta não ter tido tempo disponível para andar mais no terreno, como entende ser necessário.