Viver

Acaso: sem crítica social o teatro não faz sentido nenhum

15 set 2016 00:00

Sobe o pano para a 21.ª edição do Festival, que se prolonga por mês e meio e chega a seis concelhos.

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Duas personagens mitológicas clássicas (Dédalo e Ícaro) e um episódio bíblico (o sacrifício de Isaac) abrem hoje, 15 de Setembro, a 21ª edição do Acaso Festival de Teatro. Demasiado denso? Nem tanto. "Sem crítica social, religiosa, política, o teatro não faz sentido nenhum, passa a ser folclore. Deixa de ser uma arma e torna-se um veiculo do sistema", assinala Pedro Oliveira, actor e encenador da companhia O Nariz, que desde a primeira hora organiza o Acaso. "E esta edição tem como ponto comum tudo isto, esta carga de tentar despertar os públicos para aquilo que não funciona bem. Todos os grupos trazem trabalhos nesta linha e perspectiva", explica.

Em palco, nesta quinta-feira inaugural, um nome que há muito acompanha o Festival: Filipe Crawford. "É uma presença quase constante. Pela qualidade do trabalho dele e porque trabalha textos do Dario Fo, um autor que nos interessa bastante, o único dramaturgo a ser laureado com o prémio Nobel até hoje", comenta Pedro Oliveira, sublinhando, em relação a Crawford, que "tantos anos de cumplicidade colocam as relações de trabalho e pessoais em patamares diferentes".

Em 2016, vamos ter Acaso entre 15 de Setembro e 30 de Outubro. Mais de duas dezenas de espectáculos de teatro, poesia, música, contos, documentários, uma exposição, um laboratório de clown e uma residência artística. Neste cardápio, sobressaem nomes bem conhecidos do público, alguns até do pequeno ecrã, lá em casa, como por exemplo Sofia Nicholson, André Gago ou André Nunes, e o próprio Filipe Crawford, mas também momentos de absoluto contra-poder, patrocinados pelo colectivo Fulo HD, de Leiria, que sugere uma exposição de casacos de pessoas famosas, uma sessão de vinhoterapia reikiana com sexo tântrico platónico e meditação xamânica vinícola, e ainda, não menos importante, uma reconstituição histórica das discotecas do século XX numa noite em que as mulheres também pagam. 

Rui Paixão, Teatro dos Aloés, Malier Teatro, Companhia da Esquina, Filipe Crawford, André Gago, Jer Ensemble e Jorge Serafim, são alguns dos actores, músicos e companhias presentes nesta edição, numa selecção de espectáculos que privilegia o trabalho de actor e o texto dramático. Por um lado, confere relevo à produção nacional e contemporânea, por outro, divulga autores internacionais de referência. Ao Nariz cabe a tarefa de assegurar a única estreia de teatro: S. Paulo, no âmbito de um novo ciclo cultural que leva leituras encenadas de textos religiosos às Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha.

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