Sociedade

Australis desiste de prospecção de gás em Leiria e na Batalha

4 set 2020 12:01

Presidentes de Câmara satisfeitos com decisão

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Projecto tem motivado vários protestos na região
Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

Os presidentes dos Municípios de Leiria e da Batalha mostraram-se hoje satisfeitos com o fim do projecto de prospecção de gás natural na região, pela Australis Oil & Gas Portugal, salientando que o ambiente fica a ganhar.

“Ainda não temos a informação oficial, mas, acreditando nas notícias, é uma grande vitória para a população da Bajouca, que se mobilizou para que pudessem ser travadas estas explorações na sua freguesia e que teve o apoio de todas as outras freguesias do concelho”, afirmou o presidente do Município de Leiria, Gonçalo Lopes.

Sublinhando que as "questões ambientais são decisivas para o futuro da região", o autarca socialista reforçou que a decisão é uma “vitória para a população e para o ambiente”.

O presidente do Município de Leiria considerou ainda que esta decisão prova que “quando as pessoas estão unidas em torno de um objectivo conseguem alcançar os seus objectivos”, o que “representa uma esperança para resolver outras deficiências ambientais” do concelho.

Gonçalo Lopes entende ainda que também é uma “vitória política”, porque a Câmara “assumiu que era contra a exploração e apresentou uma análise técnica e argumentos políticos”.

Também o presidente do Município da Batalha, Paulo Batista Santos (PSD), considerou que a informação “não só é uma boa notícia, como é a confirmação do que se vinha a alertar”.

“A concessão, como foi lançada, não era sustentável e a empresa não tinha grandes interesses, além do aspecto financeiro. Pena que tivéssemos de andar a lutar”.

Paulo Batista Santos alertou o Governo para que “não renove esta concessão" e para que ela "seja cessada definitivamente”. “As questões ambientais sairiam prejudicadas no nosso Maciço Calcário Estremenho. A prospecção iria contaminar as linhas de água que também suportam o consumo de água humana”.

Para Paulo Batista Santos, “essa concessão não traria qualquer valor acrescentado para a região e nem para o País, até porque se conseguiria o gás mais barato indo buscar a Marrocos e à Argélia”.

Em Setembro de 2015, o Estado português assinou um contrato para a pesquisa e produção de hidrocarbonetos com a empresa Australis Oil & Gas Portugal, que abrangia duas concessões onshore, na Bacia Lusitânica, denominadas “Batalha” e “Pombal”, esta seria na zona da freguesia da Bajouca, no concelho de Leiria, cobrindo uma área de aproximadamente 2,500 quilómetros quadrados.

Quanto à associação ambientalista Zero, considerou hoje que a desistência “põe um ponto final na possibilidade de se vir a explorar combustíveis fósseis em Portugal”. A associação adianta que a decisão foi comunicada em 24 de Agosto à Direcção-Geral de Energia e Geologia e terá efeitos no final de Setembro, cinco anos após a assinatura do contrato.

A associação ambientalista destaca na nota que esta desistência marca o fim de um conjunto de processos que em 2015 envolvia 15 contratos de concessão para pesquisa e exploração de petróleo e gás natural, do Algarve à Figueira da Foz, além de zonas marinhas e onde progressivamente as empresas (entre elas ENI/GALP, REPSOL, PARTEX, PORTFUEL e agora Australis Oil & Gas Portugal) foram desistindo com diferentes argumentos.

Em Janeiro, moradores da freguesia da Bajouca, Leiria, e de outras localidades vizinhas realizaram uma marcha de cerca de dois quilómetros para travar a prospecção de gás na zona.