Sociedade

Bombeiros da Benedita entregam capacetes em protesto contra a direcção

2 out 2021 17:58

Dezenas de homens ameaçam passar à reserva. Consideram que o socorro está a ser descurado

bombeiros-da-benedita-entregam-capacetes-em-protesto-contra-a-direccao
Bombeiros afirmam que corporação se transformou numa "empresa de transporte de doentes"
Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

Dez bombeiros voluntários da Benedita, no concelho de Alcobaça, entregaram ontem os capacetes em protesto contra a direcção da corporação e ameaçam passar à reserva por considerarem que o socorro está a ser descurado.

O protesto tem por base uma assembleia-geral realizada na quinta-feira à noite, onde foi eleita a direcção que deverá gerir os destinos da associação durante os próximos três anos, mas com a qual “os bombeiros não concordam” e cujas opções “não estão mais dispostos a suportar”, disse à agência Lusa Dinis Coito, bombeiro na corporação há 14 anos.

Das eleições de quinta-feira, a que concorreram duas listas, saiu vencedora a lista A, encabeçada por Filipe Marques, que no mandato anterior ocupava o cargo de vogal na direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários da Benedita.

“No fundo a direcção é a mesma, tendo havido apenas troca de cadeiras, com o anterior presidente a concorrer como vogal e o anterior vogal a concorrer a presidente”, afirmou aquele que foi o primeiro bombeiro entregar o capacete “em protesto contra uma situação que se arrasta há anos e que havia a expectativa de vir a mudar com uma nova direção”.

A contestação dos voluntários prende-se com “a degradação do corpo de bombeiros, perante as opções da direcção, que transformou a corporação numa empresa de transporte de doentes, em detrimento do socorro”, disse o operacional à Lusa.

Dinis Coito sublinha que “o transporte de doentes é uma vertente importante” do serviço dos bombeiros, mas defende que “tem de haver também investimento no socorro, porque sem ele os voluntários acabam por se desmotivar e não aparecer nos serviços, porque já sabem que não vão em missões de socorro, mas apenas levar doentes à diálise e a outros tratamentos”.

A insatisfação com a direcção levou a que dez dos cerca de 20 voluntários não assalariados tenham, no final da assembleia, deposto os capacetes em frente ao quartel dos bombeiros, num protesto a que “vários bombeiros do quadro se quiseram juntar", tendo no entanto sido desaconselhados de o fazer "uma vez que os seus postos de trabalho poderiam ficar em risco ou sofrerem retaliações”, explicou Dinis Coito.

Se a nova direcção tomar posse, vários bombeiros não assalariados ameaçam passar à reserva, o que “colocará em risco a resposta e o socorro nas freguesias de Benedita e de Turquel”, acrescentou, admitindo que, "entre os assalariados, haja alguns que estão dispostos a sair e que recusam compactuar mais com esta situação.

Contactado pela Lusa, o comandante dos bombeiros da Benedita, António Paulo, disse que o comando “não vai tomar posição” em relação ao que considera ser “uma manifestação pacífica de desagrado”, que espera ver “rapidamente resolvida para que não venham a existir dificuldades em suprir todas as necessidades do serviço”.

A Lusa tentou obter esclarecimentos por parte do novo presidente da Associação, Filipe Marques, com o qual não foi possível chegar à fala.

A candidata derrotada, Alice Lourenço, disse à Lusa que a lista B “vai reunir e avaliar se avança com um pedido de impugnação das eleições”, dado, “não ter sido facultado o acesso à lista dos sócios que votaram”, ficando assim impedida de confirmar se “alguns não cumpriam o requisito de estarem inscritos há mais de seis meses”, entre outras irregularidades que consideram ter havido na assembleia.

De acordo com a página da internet da associação, a corporação tem atualmente 120 bombeiros voluntários, 83 dos quais no quadro activo.