Sociedade
Bypass na Figueira demorará anos a repor areal nas praias da região
O ministro do Ambiente declarou que a construção do sistema fixo de transferência de areais vai avançar na Figueira da Foz. Leiria aguarda com expectativa.
Mesmo que a construção do bypass estivesse concluída amanhã, só dentro de cinco anos São Pedro de Moel poderia recuperar o seu areal, exemplifica Filipe Duarte Santos, investigador e geofísico, a propósito do sistema fixo de transferência de areias a construir na Figueira da Foz, obra que o ministro do Ambiente disse recentemente que é para fazer avançar.
No distrito de Leiria, a solução é aguardada com expectativa, mas teme-se que os efeitos da mesma demorem a sentir-se por cá, onde o avanço do mar se agrava a cada ano que passa.
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, assumiu à agência Lusa que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz, com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada e que será concretizada.
A decisão aconteceu após a análise do estudo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que apresenta quatro soluções distintas de transposição de areias. Destas, notou o governante, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.
João Matos Fernandes realçou que se trata ainda de um estudo de viabilidade, económica e ambiental, que terá de ser transformado num projecto, mas “depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio”.
A construção do bypass representa um investimento inicial de cerca de 18 milhões de euros, sendo que o custo total, a 30 anos (que inclui o funcionamento e manutenção), está estimado em cerca de 59 milhões de euros.
Será constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego.
Recorde-se que, com o prolongamento do molhe na Figueira da Foz, obra inaugurada em 2011, a erosão nas praias a sul acentuou-se, com a destruição da duna de protecção costeira a fazer sentir-se em vários locais. O problema estendeu-se pelo distrito de Leiria, até à Nazaré.
Para Filipe Duarte Santos, a construção do bypass “é uma iniciativa positiva”, que está em linha com o que preconizou o Grupo de Trabalho para o Litoral num relatório de 2014, que o próprio investigador coordenou.
“Estou satisfeito, é a melhor solução, vai beneficiar todas as praias a sul”, sendo que os efeitos demorarão a fazer sentir-se nas praias mais distantes, realça o geofísico, que exemplifica com a situação de São Pedro de Moel (Marinha Grande), local que bem conhece e onde passa férias regularmente.
Apesar de distar cerca de 50 quilómetros da Figueira da Foz, esta praia tem perdido grande quantidade de areia, verifica Filipe Duarte Santos.
E embora a solução preconizada seja semelhante àquela que se mostrou vantajosa em Twin Rivers, na Austrália, uma vez construído o sistema, será preciso “continuar a monitorizá-lo, dado que as condições das zonas costeiras são muito dinâmicas e é necessário garantir a optimização da estrutura”, acrescenta.
Para João Coelho, proprietário de uma habitação situada a 100 metros das arribas, no Vale Furado (Alcobaça), a construção do bypass “peca por tardia”. Com perda de areal e erosão das arribas de tal modo expressivas, a APA deu indicação para relocalizar várias casas, expõe o morador.
Entre habitações que oferecem risco mais ou menos elevado de derrocada, a agência sinalizou uma área com 56 imóveis, contabiliza João Coelho. “Esperemos que a construção do bypass chegue a tempo de evitar relocalizações.”