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Capital europeia. Dois anos após o fim da candidatura, o que fica da Rede Cultura?

7 mar 2024 09:30

O que responde o Município de Leiria e o que dizem duas dezenas de artistas, autarcas, programadores, investigadores e representantes de associações e estruturas de criação ou produção

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Maciço, da companhia Corpo, projecto apoiado no âmbito da Rede Cultura 2027
Ricardo Graça

“Não é possível aceder a este site”, surge no ecrã quando se procura aceder a www.redecultura2027.pt. É caso para dizer (como naquele meme sobre Leiria) que a Rede Cultura não existe. Paulo Lameiro, o antigo coordenador da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, confirma: “Deixou de existir, não tem órgãos”. Já o Município de Leiria comenta assim: “Não está definido um projecto comum com os municípios associados à Rede Cultura 2027”.

Dois anos após o fim do sonho – a 11 de Março de 2022, com a decisão de eleger Aveiro, Braga, Évora e Ponta Delgada para a lista de finalistas, de que Évora viria a emergir como vencedora – o que se segue é, por enquanto, uma incógnita.

Entre duas dezenas de testemunhos recolhidos pelo JORNAL DE LEIRIA, a quase totalidade dos artistas, autarcas, programadores, investigadores e representantes de associações e estruturas de criação ou produção considera que há ganhos para Leiria (e para a região). E, embora menos, também quase todos defendem a utilidade (e, alguns, a necessidade) de continuar o trabalho – em rede.

Talvez o mais crítico seja o presidente do Orfeão de Leiria. “Muito dinheiro gasto para tão poucos resultados”. Mais: “o Orfeão de Leiria não foi incluído nessa cooperação”, aponta Vítor Lourenço.

Foram ainda contactadas outras sete câmaras municipais, que não responderam em tempo útil.

Leia também: Paulo Lameiro: “Não há profissionais da cultura na nossa cidade”

Quanto custou a corrida (uma parceria de 26 municípios) a Capital Europeia da Cultura 2027? “Não gastámos muito mais de 700 mil euros”, diz Paulo Lameiro. “O investimento na elaboração da candidatura cifrou-se num total de 258.900 euros”, adianta, por outro lado, o Município de de Leiria. No entanto, em Março de 2021, a informação enviada pela autarquia ao JORNAL DE LEIRIA apontava para 750 mil euros de investimento já realizado.

MUNICÍPIO DE LEIRIA

1 O que ficou da candidatura encabeçada por Leiria a capital europeia da cultura 2027?
O sentimento de pertença a uma região mais coesa, não assenta em fronteiras administrativas, mas de contiguidades associadas à Cultura, às gentes, ao Património e ao Território. Na sequência do trabalho e da dinâmica instituída com a Rede Cultura 2027, alguns Municípios continuam a desenvolver projetos em parceria.

2 Neste momento, a Rede Cultura está formalmente extinta? Existe actualmente algum projecto no âmbito da Rede Cultura?
Não está definido um projeto comum com os Municípios associados à Rede Cultura 2027, pese embora o Município de Leiria continue a acolher propostas e programas alicerçados numa lógica de trabalho colaborativo, intermunicipal e de capacitação dos agentes culturais. Sublinhe-se que, em resultado de um trabalho comum, muitas sementes de colaboração ficaram no território da Rede Cultura 2027.

3 Consideram que a Rede Cultura deve continuar ativa? Como, com quem e com que objectivos?
O Município de Leiria continua a acreditar no potencial da Cultura como fator de coesão territorial e promotor de uma Região Cultural de referência. Tal significa que outras atividades e projetos poderão ser concretizados através de redes de parceria, apoiadas por programas comunitários, como é o caso da criação recente da Rede das Cidades Criativas da UNESCO do Centro de Portugal. Havendo disponibilidade de programas financiados, o Município de Leiria mantém-se aberto a novas experiências capazes de mobilizar agentes locais e regionais.

ADELINO MOTA, DIRECTOR DO FESTIVAL JAZZ VALADO

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Leiria, sem dúvida que ganhou, pois senti que tiveram bastante actividade e projectos apoiados pela autarquia. Já, que eu tenha sentido, a região não teve grandes mudanças no panorama cultural.

2 Uma candidatura desta natureza deveria trazer mais valias culturais à região, no entanto penso que não foram sentidas ao nível dos concelhos mais periféricos e, sinceramente, acho que não ficou "grande pegada".

3 Com os diversos programas de apoio à cultura, com a necessidade de identificação cultural própria de cada município, a sua existência poderá não se justificar.

4 Só faria sentido a sua continuidade com a reestruturação dos seus meios, a coerência de servir uma região e com os objectivos redefinidos que pudessem proporcionar a todos os municípios condições de actividade cultural.

ANA SARAIVA, INVESTIGADORA, ANTIGA CHEFE DE DIVISÃO DA CM LEIRIA E DA CM OURÉM

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Foi uma causa sonhada e muito participada, com ganhos imediatos, em construção e com potencial. Desde logo, deu protagonismo à cultura, uma área tendencialmente secundarizada e valorizou quem a promove e pratica, por vezes, mesmo saber que o faz nos seus quotidianos. Esta experiência ajudou a superar equívocos associados à ideia de concelhos, distritos e outras formas de divisão administrativa como espaços de “fronteira” que condicionam a cooperação em torno de projetos comuns; contribuiu também para aumentarmos o nosso capital de conhecimento sobre um território mais vasto e plural. A dinâmica gerada promoveu ainda o diálogo, a amizade e a empatia entre pessoas e instituições de diferentes proveniências, perfis e posicionamentos, que souberam mobilizar-se e cooperar por um lema comum: a cultura como plataforma de cidadania por um desenvolvimento sustentado.

2 Ficou mais presente a noção da diversidade do território da Rede 2027 como um potencial para a construção de formas ousadas e benéficas de agir com base em diferentes valores e modos de olhar; ficou uma consciência mais desperta para o papel da cultura na qualidade de vida dos cidadãos que habitam e vivem estes locais; ficou mais cimentada uma visão do potencial da cidade e da região como laboratório de cultura com iniciativas que podem inspirar novas formas de criar, com escala e ganhos para a saúde, a educação, o social, a economia e o ambiente.

3 A região teria vantagens nisso.

4 Foram identificados recursos com enorme potencial a partir da cooperação continuada e permanentemente ajustada entre instituições e cidadãos dos concelhos que integraram a Rede 2027. É um caminho que vale a pena prosseguir para ajudar a consolidar o tecido cultural da região, esbater assimetrias e empoderar as comunidades, sempre com o foco na valorização das suas especificidades e processos próprios de construção identitária.

ANA UMBELINO, VEREADORA DA CÂMARA MUNICIPAL DE TORRES VEDRAS

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Inequivocamente. Leiria e a região ganharam com a candidatura à capital europeia da cultura por uma constelação de razões que passo a enunciar:

Inscrição das Artes e da Cultura nas agendas política, cívica e mediática destas comunidades promovendo um diálogo alargado e multiperspectivado que convocou decisores políticos, a academia, as instituições culturais públicas, os agentes culturais (na sua pluralidade e polimorfismo), os cidadãos e cidadãs. Um diálogo que ocupou o espaço público e foi verdadeiramente plural. Não ficou, com efeito, acantonado, ou sujeito a uma sectorialização, nem foi tão pouco capturado por grupos restritos.

Contribuiu para a co-construção de pensamento integrado sobre o território que temos e o território que desejamos/almejamos ter (olhar de dentro e a partir do confronto com outros olhares externos, qualificados e perspectivantes).

Promoveu a reflexão sobre o lugar das artes e da cultura no quadro de um projecto de desenvolvimento territorial. A Artes e a Cultura ocuparam, com efeito, um lugar de maior centralidade no pensamento sobre a “cidade”. Um exercício mais alargado - longe de acantonar as artes e a cultura, mas pelo contrário mostrando a sua relação com a educação, economia, inclusão social, saúde e uma miríade de outras áreas e domínios sectoriais - foi elicitado. O impacto económico e social das artes e da cultura foi equacionado. E o seu papel enquanto alavanca de desenvolvimento discutido de forma aprofundada, articulada e situada.

Catalizou a reflexão e construção de pensamento sobre o desenvolvimento de estratégias locais de promoção da cultura, com especial enfâse nas condições que garantem a criação e/ou manutenção de ecossistemas sustentáveis. A articulação entre os diferentes instrumentos de política pública de base local ou em resposta e seus impactos foi analisada e pensada em conjunto. As relações com o sector cultural e criativo, nas vertentes da participação, do financiamento, da governança foram analisadas, promovendo o diálogo, a reflexão partilhada à escala local e supra local. A necessidade de se desenhar localmente uma estratégia para a cultura resultou evidente deste processo e foi legitimada e impulsionada. Pensaram-se os públicos e como convocar os mais jovens a participar garantindo direitos culturais para todos.

Foi realizado um mapeamento dos activos histórico-culturais e artísticos desta “região cultural comum”, resgatando-os da invisibilidade. Esse reconhecimento permitiu edificar uma maior consciência das afinidades e comunalidades entre estes diversos lugares e os seus actores e das complementaridades que podem ser construídas, maximizando o que existe, isto é todas estas pré existências que compõem um portfolio de activos e recursos comum. Este trabalho de reconhecimento, que mobilizou uma extensa plêiade de intervenientes, tem um valor inestimável. É a matéria prima para a co-criação.

O diálogo e a aproximação entre instituições culturais e entre agentes culturais permitiu alargar o campo de possibilidades de cooperação. A título de mero exemplo, saliente-se que em Torres Vedras, uma ponte se ergueu entre a Omnicord Records e os agentes culturais ancorados localmente, em micro-lugares deste território e o projecto Mapas teve expressão numa outra geografia.

A candidatura foi propulsora da constituição da Rede Cultura, cujo conceito, arquitectura, funcionamento constitui uma referência. Em Torres Vedras, em resposta às aspirações emanadas pelo Plano Estratégico em Cultura local e tomando como referência a Rede Cultura 2027 foi constituída uma rede territorializada que tem como missão desenvolver processos participativos de governança cultural que permitam co-construir, implementar, monitorizar e avaliar as estratégias locais integradas para a cultura fomentando a aprendizagem cooperativa e a capacitação dos agentes do setor cultural e criativo. A rede Cultura 2027 serviu claramente como arquétipo desta rede local.

Leiria e a constelação de cidades vizinhas concitaram um olhar externo sobre um território multiforme com inúmeras singularidades e dinâmicas culturais e artísticas já instaladas, que carecia de um maior reconhecimento e visibilidade externa. A notoriedade desta “região” saiu beneficiada enquanto potência artística e cultural, espaço de experimentação e de inovação, portador de um património valioso e de um pulsar no domínio das artes contemporâneas que não pode ser ignorado e se tornou, por esta via, mais visível.

2 Com expressões e intensidades distintas, sobrevive um legado intangível manifesto no reforço da literacia sobre este território polimórfico, traduzido na expansão do acervo de conhecimentos, competências dos decisores políticos, quadros técnicos e agentes culturais e manifesto na transformação de mundividências, de políticas, de modelos de governação e de práticas institucionais. Fica como herança uma reforçada capacidade para cooperar e mutualizar recursos de inegável valor para que se desenvolvam co-produções e co-criações de carácter artístico, maximizando os activos do território percepcionado como um espaço comum expandido. Experiências de cooperação concretas de que é exemplo o Museu na aldeia, que envolveu 13 aldeias e 13 museus, demonstraram ser possível criar inovação a partir dos territórios e potenciação dos recursos endógenos de que os mesmos são portadores. Só a consciência pode mudar a realidade. Todos os processos de reflexão e de capacitação reforçaram o potencial desta “região” e inscreveram um “pensamento novo” sobre as artes e a cultura e o seu papel no âmago de um projecto de desenvolvimento territorial. Os valores e princípios, o conceito, a arquitetura e o funcionamento da Rede foram, e são, modelares e tornearam visões, políticas, práticas e metodologias com reverberação à escala local na estruturação de um sistema promotor das artes e da cultura e na abertura de possibilidades de cooperação, até então inexistentes. Um claro contributo para a qualificação das políticas públicas em cultura e para o reposicionamento das instituições culturais que prestam um serviço público de cultura resulta de todo um processo de capacitação decorrente da aprendizagem colectiva que envolveu um universo alargado de pessoas. A inteligência deste “território expandido” saiu reforçada na dimensão de conhecimento (sobre múltiplas dimensões do território e entre os diferentes actores e agentes) e de coesão. A experimentação, a criatividade e o ensaio de inéditas formas de gestão de recursos comuns inaugurou uma maneira diferente de olhar o território e de avaliar os seus activos e recursos com repercussões à escala de cada município.

3 A rede traz vantagens inequívocas na maximização do potencial endógeno destes territórios promovendo o seu desenvolvimento. A complexidade do presente torna este o “tempo de pensar e fazer juntos”. A continuidade da rede implica uma comunhão de vontades e, desde logo, uma manifesta vontade política. A refundação da rede enquanto expressão de uma governança em cultura baseada na cooperação implica um compromisso político e um pacto cívico. A continuidade da rede tem de ser desejada colectivamente. O percurso trilhado, o legado construído e a sua reverberação são evidências das externalidades desta rede que mostrou a potência da cooperação, a partir do reconhecimento dos recursos dos territórios.

4 A rede deve criar um compromisso entre a formalidade e a flexibilidade. Nesse sentido, a sua existência formal é fundamental para garantir a existência de uma estrutura que perdure e ofereça previsibilidade mas a flexibilidade é essencial para que se mantenha ágil, ofereça possibilidades de cooperação de geometria variável, agregando, com fluidez, os diferentes interesses. Consolidar o dispositivo cultural deste “território comum expandido” como um factor estrutural da sua capacitação para implementar as transformações que o presente reclama e o futuro prefigura avulta como aspiração primordial da rede e a sua actualidade mantém-se. Cooperação entre instituições e agentes culturais envolvidos em processos de pensamento e de co-criação; desenvolvimento de laboratórios colaborativos que estímulem a experimentação e a inovação; capacitação dos decisores políticos e dos agentes culturais; incremento da democracia e cidadania cultural; maior capacidade de captar recursos financeiros, cognitivos e artísticos através da intercooperação avultam como aspirações. A rede cultura 2027 teve o mérito de convocar a inteligência e criatividade colectivas, mobilizando múltiplas actores e agentes, ultrapassando a atomização ou sectorialização que empobrecem o pensamento e obscurecem o reconhecimento e a activação de recursos. Essa premissa dever-se-á manter. Um equilíbrio entre a dimensão política, nunca esquecendo que o propósito da Rede é, do ponto de vista instrumental, contribuir para o desenvolvimento integrado e sustentável de um território alargado, elegendo as artes e a cultura como alavanca; a dimensão institucional, convocando as instituições de natureza diversa que nele estão ancoradas (académica, cultural, religiosa, artística), os agentes culturais e as comunidades cívicas. A missão, o desenho estrutural e funcional, o modelo de financiamento carecem de uma reflexão conjunta alargada. Na minha modesta opinião, seria fundamental consensualizar um referncial e um conjunto mínimo de objectivos que implicassem, numa fase inicial, a alocação de recursos financeiros mais reduzidos (que garantissem as condições mínimas requeridas para o rearranque), para que o edifício se fosse reerguendo de uma forma orgânica e adoçada às dinâmicas dos diferentes territórios. Seria desejável não pulverizar objectivos, mas, ao invés, criar um número reduzido de constelações a partir do que é comum em termos de intenções e horizontes e partir de uma análise ao que foi feito baseado no impacto do que foi feito, suportado em evidências.


CARLOS ALVES, VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ARRUDA DOS VINHOS

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Sim.

2 A possibilidade de trabalhar em rede intermunicipal ao nível da cultura.

3 Sim.

4 Trabalho conjunto e de partilha de conhecimento e informação entre os municípios, através da  comunidade interurbana do oeste.


CÁTIA BISCAIA, REALIZADORA E CO-ORGANIZADORA DO LEIRIA FILM FEST

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Leiria, a Região e os próprios agentes culturais ganharam com esta candidatura, sem sombra de dúvidas. Faziam-se já várias iniciativas aqui e ali que ao longo do tempo foram morrendo, mas a candidatura deu voz a imensos agentes culturais que andavam há muitos anos a tentar puxar a carroça cultural para a frente e outros apareceram e criaram, sem dúvida, burburinho. Durante aquele tempo falou-se muito das actividades que os agentes culturais promoviam e criaram-se novas. Foi uma altura que "mexeu" com a forma que se via o ambiente cultural e viu-se na exposição crescente de actividades e multidisciplinaridades. E, acima de tudo, tivemos também voz ativa nisso. Portanto, por mais que a candidatura tenha ficado pelo caminho, falou-se e respirou-se cultura, o que foi, francamente, positivo, porque é na cultura que se vê a evolução humana e o seu questionamento.

2 Não sei se ficou alguma coisa. Sei que houve actividades que começaram naquela altura e que persistem. Houve incrementos de apoios na altura, mas, neste momento, já não se fala da importância da cultura como se falou naquela altura e acho que tudo esmoreceu um pouco.

3 Mas ainda existe? É que até se saber a resposta houve grande frenesim que se dissipou, rapidamente, logo que soubemos que não fomos seleccionados. Acontece amiúde neste tipo de iniciativas: há um grande impulso, mas que, depois, fica pelo caminho porque não se alcançou o objectivo. O que é pena, porque havendo uma base criada, apesar do resultado não ser esperado, o caminho foi importante e é pena perder o trabalho feito.

4 Se existe ainda, deveria continuar, mas com algumas alterações. Acho que se peca muitas vezes por meter no mesmo saco actividades que são díspares em todos os sentidos. Nesta ânsia de distribuir apoios irmanamente por todos, esquecemo-nos que as actividades são diferentes e merecem atenção diferente. Também considero fulcral a profissionalização dos agentes culturais e, só com equidade na distribuição de apoios é que se poderá alcançar esse objectivo. Dar diferente ao que é diferente. Uma cidade com profissionais culturais especializados é uma cidade que cresce no âmbito cultural. E, todos sabemos que, em termos de exposição exterior, a cultura e as suas actividades são o canal de distribuição mais eficaz para se dar a conhecer uma cidade, concelho ou região.


CLARA LEÃO, COREÓGRAFA

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Qualquer cidade ganha com um período em que intensa e publicamente se discute a sua capacidade de deixar uma marca no panorama cultural do país. Para isso, é preciso pensar a cidade, e esse levantamento de ideias aconteceu. Quanto à região, tenho dúvidas; creio que 25 municípios foram demais para um pensamento colectivo tão alargado.

2 Ficou uma discussão pública e tomadas de posição, ficou um levantamento do que se faz, ficou vincada a importância do trabalho dos agentes culturais na identidade de uma cidade, e ficaram uns interessantes encontros, importantes por essa possibilidade de encontrar.

3 Não creio que faça a diferença. Não se pode forçar o encontro porque as pessoas encontram-se nas conversas de acaso ou procuram-se nas afinidades antigas, e não me parece que, no auge da sua existência, tenha servido para juntar os 25 municípios nessa rede gigantesca.

4 A ideia de nos podermos encontrar em Leiria, de tempos a tempos, de sabermos uns dos outros de viva-voz, de trocarmos ideias e projectos e de, eventualmente, encontrarmos uma brilhante parceria, é muito importante. Proponho que as aprendizagens feitas com a Rede possam então vir a dar origem à construção dessa nossa Teia.


FRÉDÉRIC DA CRUZ PIRES, DIRECTOR ARTÍSTICO DO LEIRENA

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Ganharam, pois a candidatura provocou uma profunda discussão sobre o tema, evidenciando as fragilidades e necessidades presentes no nosso território. Executivos e agentes culturais de diferentes municípios uniram-se, impulsionando e fortalecendo projetos e redes já existentes, ao mesmo tempo que abriram portas para novas iniciativas a serem desenvolvidas.

2 Houve um investimento que não deve ser desperdiçado, e um esforço significativo foi realizado, o qual não podemos abandonar.

3 A continuidade e presença perene de uma rede são fundamentais. Por isso ela deve continuar a existir. Todos colhemos benefícios com a sua manutenção. É imperativo que ela permaneça viva e ativa para preservar a união do território, dos agentes culturais e dos agentes políticos. Quanto à necessidade de ser uma rede tão extensa, minha resposta é não. No entanto, a porta deve manter-se sempre aberta e disponível.

4 A Rede Cultura é fundamental porque é um meio facilitador para manter a sinergia e a cooperação entre os diversos agentes culturais da região. Deve continuar a existir através de parcerias contínuas, diálogo entre municípios, agentes culturais e a comunidade em geral. Caso a questão esteja relacionada ao financiamento, é crucial persistir nos investimentos, pois representam não apenas um investimento na cultura, mas também na comunidade. Os objetivos devem incluir o fortalecimento de projetos culturais, a promoção da diversidade cultural na região, a garantia da acessibilidade e a criação de condições para o desenvolvimento sustentável da cultura na região e a sua internacionalização. Com quem? Quanto a "com quem", a colaboração deve envolver todos os parceiros, garantindo uma abordagem holística e inclusiva.


HUGO FERREIRA, FUNDADOR DA OMNICHORD

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

Acredito que sempre que se tenta trazer a discussão em torno da cultura e do território para a praça pública todos ganhamos. O facto de vários autarcas de diferentes territórios e eleitos por diferentes partidos e ou movimentos políticos se juntarem à mesma mesa para falar de uma construção conjunta é muito positivo e, ainda que não tenha trazido o resultado que se ambicionava, reveste toda uma prática muito pouco usual e que pode vir a ser inspiradora de novos processos em que as supostas diferenças iniciais se esbatem para pensar em algo comum.

Acho que o processo nos deixou uma percepção de que não conhecíamos bem muito do território que nos rodeia, nem os seus interlocutores, acho que o que fica do processo foi a possibilidade do encontro, o estímulo da curiosidade e da empatia com os que nos rodeiam. E esse processo parece invisível e não tem um efeito imediato mas acredito que tanto a população de Leiria passou a ter mais no seu radar o território que a circunda como acredito que o inverso também se esteja a verificar. Tanto em relação ao território como em relação às estruturas artísticas, eu confesso que, apesar do histórico colaborativo que já tinhamos na Omnichord, passámos a conhecer e a trabalhar mais com estruturas e municípios vizinhos.

Gostava que continuasse. Acredito que se não continuar se desperdiça o efeito do que já se investiu. Acredito que o trabalho em parceria e uma articulação de ações e partilha de meios, de boas práticas culturais e de programação pode ser essencial e extremamente vantajosa a todos os níveis para territórios vizinhos ou pelo menos próximos. E acredito que alguns dos municípios envolvidos estão interessados nisso. Pelo menos entre esses, acredito que era muito importante continuar esta rede.


HUMBERTO PINTO, DIRECTOR DO TEATRO AMADOR DE POMBAL

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1. Ganharam as pessoas que a desenvolveram e dinamizaram e alguns projetos que nunca seriam apoiados se não existisse a candidatura. Ganhou a cultura que, durante essa fase, pareceu um produto apetecível para os políticos da nossa praça, mas apenas isso. Será necessária uma nova candidatura para voltarem a pensar na cultura e nos agentes culturais da nossa região?

2. Ficam para memória futura, algumas iniciativas e alguns projetos que só existiram graças a essa candidatura. Espero que fique a perceção do que correu mal e que exista vontade de corrigir os erros, para que uma candidatura futura seja vencedora. Fica um site, que tinha algumas funcionalidades interessantes e que agora está desativado.

3. Sim, mas deve ser revista.

4 Sempre achei o projeto megalómano, deve ser revisto, começar por reduzido o número de parceiros e aumentar o orçamento, no mínimo, para o dobro.


JOAO AIDOS, DIRECTOR DO TEATRO MUNICIPAL DE OURÉM

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Sim. Hoje na estratégia da elaboração da candidatura, um conjunto de sinergias e trabalho em rede que reforçou a partilha de ideias, experiências de trabalho e alguma capacitação das equipas. O projecto do Museu na Aldeia é um bom exemplo desse trabalho em Rede.

2 Creio que ficou essa vontade de trabalhar em rede. Apoiar a criação através de projectos que circulem no território. Apoiar projectos de criação que possam envolver a comunidades, artistas emergentes e que trabalhem a identidade dos lugares.

3 Considero uma pena não aproveitar a experiência e as sinergias do processo. É fundamental uma liderança uma liderança inclusiva, atenta e com grande capacidade de Mediação, que na minha opinião era uma mais valia dos protagonistas que geriam a Rede. Politicamente também é necessário os decisores políticos, quer das autarquias quer da CIM e CCDR, perceberem o impacto e transformação que poderá ter um projecto desta natureza, na coesão e desenvolvimento das comunidades e  desta natureza e  por outro lado quererem apostar nele.

4 Acho que a maior dificuldade é a convergência de interesses. Os territórios de cada Municípios são muito diferentes e a aposta na cultura é muito desigual.  O sistema Cultura e Criativo em algumas geografias é escasso e sem grande apoio, falta um mapeamento mais exaustivo. Para a REDE continuar tem de definir duas a três  áreas/projectos de intervenção, não se dispersar e haver um enfoco mais estruturante. Isso também, poderá ajudar a concorrer a financiamentos o que será uma premissa base para o desenvolvimento da REDE. Trabalhar em complementaridade com as áreas sociais e educativas parecem-me uma boa aposta.


JOÃO LÁZARO, ACTOR E ENCENADOR, TE-ATO

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Quiçá um ganho não tangível. Houve um tempo para a reflexão e esse é sempre de mais-valia.

2 O ganho de os agentes culturais terem tido a possibilidade de discutir ideias entre si.

3 Uma entidade orgânica deve existir até que se torne autofágica.

4 A junção de vontades, ideias e recursos será sempre a melhor forma de vencer obstáculos. O com quem (em que patamar da pirâmide de decisão) é o cerne da questão, porquanto saberá o como e defenderá os seus objetivos.


JOÃO DOS SANTOS, DIRECTOR DA ESAD.CR

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Sim. Sucintamente e destacando apenas dois pontos, correlacionados, o investimento em programação cruzada e equipamentos e a atenção renovada sobre a região. O valor e o modelo dos apoios concedidos para programação obrigaram a um trabalho de descoberta de parceiros e à construção de uma nova visão desta região, diversa e baseada em interesses comuns. Ao mesmo tempo criaram-se as condições materiais para acolher os resultados desta programação, com investimento realizado e planeado para melhoria e conversão de infraestruturas culturais. Por fim, segundo ponto, a notoriedade que esta candidatura trouxe à região e especialmente à cidade de Leiria, que fica com um legado de enorme responsabilidade para cuidar.

2 Sucintamente e atendo-me a dois pontos apenas: uma dissonância saudável que contraria a ideia de coro a muitas vozes e que só enriquece o panorama cultural e artístico de Leiria e, espero, a discussão pública do significado da cultura para o desenvolvimento da região. Apesar de se notar um investimento crescente no apoio às artes e à cultura, não é minha intenção acrescentar um terceiro ponto sobre o notório desequilíbrio entre o investimento em programação de entretenimento, tão necessária, e de partilha, criação e experimentação de conhecimento cultural e artístico, tão urgente em tempos de crise.

3 Sim, ou não.

4 Se sim, através da constituição de uma entidade comum, independente e ágil que defina a visão, valores e missão, acordados entre aqueles municípios que entendam os benefícios que uma rede desta natureza pode trazer a cada um e a todos – a ideia sempre foi muito simples: uma entidade comum é menos do que muitos municípios e para que muitos tenham mais e melhor basta haver esta que os ajude, ou seja, muitos parceiros + uma entidade comum é maior do que muitos parceiros sem uma entidade comum. Os objetivos terão de ser definidos pelos muitos.


JOSÉ GIL, MARIONETISTA E AUTOR NA COMPANHIA S.A. MARIONETAS

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Sim,ganhou se muito principalmente com a consciência colectiva dos artistas existentes na região.

2 Ficou uma frustração de descontinuidade de apoio aos artistas.

3 Sim.

4 Devia "existir" todo o ano e não só de 4 em 4 anos ou em ocasiões pontuais. Os agentes  culturais da região também têm culpa pela falta de partilha de informação. Mas terão de ser os municipios os principais impulsionadores no apoio às artes. É impossivel os artistas sozinhos vingarem sem apoio institucional. Principalmente na divulgação e oferta de condições de trabalho ( espaços de apresentação e criação).


LUÍS BERNARDINO, DIRECTOR EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO DAS FILARMÓNICAS DO CONCELHO DE LEIRIA

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Sim, ganharam bastante. Permitiu conhecer o tecido cultural da nossa região, permitiu a criação de links entre muitos agentes culturais.

2 Ficou uma rede de contactos e as experiências de projetos em comum.

3 e 4 Na minha opinião, sim. Deveria ser tutelada pelas vereações de cultura dos municípios da antiga rede, ter uma direção artística e executiva que defina eixos comuns para o território e que alavanque financiamentos nesta área.


MARGARIDA REIS, VEREADORA DO MUNICÍPIO DE ÓBIDOS

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Do ponto de vista dos organismos internos ligados à Cultura e ao Turismo dos diferentes Municípios, a região ganhou com uma harmonização da comunicação entre os diversos profissionais ligados ao setor e que até então alguns trabalhavam muito dentro do seu concelho, tentando com os meios e conhecimentos próprios alavancar a promoção turística, criação cultural e conservação patrimonial. Os diferentes projetos inicializados pela candidatura a Capital Europeia da Cultura fez com que estes profissionais saíssem dos seus concelhos e se juntassem por um bem comum, para uma troca de experiências e evolução na forma de pensar, produzir e programar, com vista à sustentabilidade, preservação e promoção do património, numa perspetiva global da região, na criação de sinergias e linhas de orientação que efetivamente iriam mudar o "horizonte" desta região e torná-lo comum a todos os Municípios.O cruzamento de informação e contacto entre os diferentes agentes culturais permitiu o nascimento de novas redes e teias de influência, onde sobretudo os técnicos camarários dos diferentes municípios tiveram oportunidade de partilhar as suas dificuldades e mais-valias, ficando todos a ganhar com esta partilha permanente de experiências.

2 Ficou a conexão e a vontade de continuar a partilhar e a evoluir. Projetos foram finalizados e tiveram um grande impacto positivo sobre as comunidades envolvidas, renovando-lhes o olhar sobre a sua própria identidade cultural, social e patrimonial, alargando-a como identidade regional. Muitos deles ficaram incompletos ou não iniciaram. A identidade regional de todos os agentes envolvidos ganhou mais vida e mais forma, mas muito trabalho ainda estará pela frente, para que verdadeiramente se pudesse concretizar. A candidatura deixou essas portas abertas. Quando pensamos no que ficou da candidatura, vem claramente à memória o projeto financiado "Museu na Aldeia", premiado nacionalmente e internacionalmente, que marcou as comunidades por onde passou e a todos aqueles nele envolvidos. Foi talvez o melhor exemplo do sucesso que estas interligações possibilitaram e deixaram sempre uma vontade de continuidade e de levar a arte às comunidades mais isoladas com ligação aos museus.

3 Desta forma ou de outra, é importante que continue a existir. Poderá não ser da mesma forma, com os mesmos calendários, e tendo em conta todos os constrangimentos que poderá envolver em termos orçamentais, de recursos humanos e de volume de funções e tarefas associados a cada Município e respetivos objetivos estratégicos. Mas o caminho deverá continuar a ser trilhado, a troca de experiências, a construção de projetos em comum, a construção de pontes que melhor beneficiem cada município naquilo que sãos as suas necessidades na área da cultura, do turismo, do património, e outras que possam surgir.

4 As autarquias locais devem ter esta "união" e devem ser sempre a base de construção desta rede. Além destas, é essencial que outros agentes sejam também os atores na construção de novos projetos que permitam a deslocação das diferentes comunidades entre si com o objetivo principal de construção de novas identidades e de novas formas de apropriação do património e da identidade cultural e no moldar do futuro para os mais jovens seguirem e sentirem esta identificação com a região e os seus diferentes municípios, com vista à continuidade da preservação e fruição do seu património e na criação do novo, porque os objetivos serão sempre transformadores.


NUNO GRANJA, PROGRAMADOR DO CICLO DE CINEMA DOCUMENTAL HÁDOC

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 A candidatura de Leiria a capital europeia da cultura teve, antes de mais, a capacidade de permitir realizar um diagnóstico ao panorama cultural da região e potenciar a criação de sinergias entre os diversos intervenientes, chamando-os a intervir. Independentemente de qualquer outro resultado, esta ação é, por si só, positiva.

2 A constatação de uma capacidade de organização, moblização e crescimento. Pessoalmente, questiono-me se uma estratégia intermunicipal, ou pelo menos intermunicipal a 27 terá sido uma boa opção, quer em termos de dispersão da capacidade quer especificamente como conceito da candidatura. É uma avaliação que precisa de ser feita.

3 Provavelmente não nestes moldes. É antes de mais necessário avaliar os resultados e perceber se continua a ser uma mais-valia esta abordagem. Mas há com certeza lições positivas a retirar e processos a replicar.

4 A Rede surge como ferramenta para alimentar a candidatura a capital europeia da cultura. Se essa candidatura falhou, é importante perceber as forças e fraquezas dessa candidatura e, por via de uma análise crítica, reformar e reformular as estratégias inicialmente seguidas. Provavelmente um conjunto de pequenas redes, focadas em áreas culturais específicas ou mais delimitadas em termos geográficos, ainda que utilizando os canais de comunicação estabelecidos e abertura à cooperação demonstrada, seriam um caminho possível.


PAULO KELLERMAN, ESCRITOR E EDITOR

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 e 2 Não tive envolvimento e não acompanhei o suficiente para poder responder. Quero acreditar que todo o processo tenha sido avaliado de forma rigorosa e tenham sido produzidas conclusões claras e factuais; acredito que tenham sido feitas aprendizagens importantes que possam vir a ser aplicadas no futuro.

3 e 4 Penso que as estruturas mais funcionais e eficazes são as que se baseiam, de raiz, na cumplicidade e na partilha, as que se estruturam de forma orgânica e intuitiva a partir de pontos de vista convergentes que se complementam entre si. Mais do que grandes organizações de alguma forma artificiais e de difícil gestão, acredito na complementaridade de uma teia de micro, mini e médias redes. Uma teia que, partindo do respeito pela diferença e pela independência de cada um, acolha todos os que pretendam colaborar na construção de uma actividade cultural consistente, multidisciplinar e dinâmica, alicerçada no longo prazo, na originalidade, na diversidade, no arrojo, na sustentabilidade e na valorização de cada pessoa, de cada contributo, de cada projecto, de cada público.


SUSANA MARTINS, DIRECÇÃO EXECUTIVA DA ABA - BANDA DE ALCOBAÇA

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Criada com o intuito de candidatar Leiria e a região a Capital Europeia de Cultura a Rede Cultura teve o mérito de inicialmente agregar as mais diversas entidades públicas e privadas e agentes culturais da região, e isso é sempre uma vitória. Contudo, após o ímpeto inicial a sensação que fica foi que o trabalho em parceria poderia ter ido mais longe.

2 Para além dos contactos entre os agentes envolvidos e das atividades dinamizadas no enquadramento da candidatura não temos conhecimento de que tenha permanecido qualquer conceito de Rede.

3 A nosso ver, a existência de uma rede de cultura faz sentido na região para dinamização das atividades artísticas e culturais.

4 Só fará sentido se a mesma se basear na cooperação/coprodução entre os agentes instalados e emergentes. Uma programação dentro da rede pode também consubstanciar uma forma de dinamizar os equipamentos instalados na região. Seria muito interessante ver a articulação desta rede de cultura com outros programas que se desenvolvem no território, nomeadamente no âmbito da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses.


VÍTOR LOURENÇO, PRESIDENTE DO ÓRFEÃO DE LEIRIA

1 Leiria e a região ganharam com a candidatura a capital europeia da cultura?
2 O que ficou da candidatura de Leiria a capital europeia da cultura?
3 A Rede Cultura deve continuar a existir?
4 Como, com quem e com que objectivos?

1 Mal seria que não houvesse algum ganho com um ou outro projeto realizado. Seguro é que houve pessoas que ganharam com a candidatura. Certo é que a avaliação final do júri foi muito penalizadora, não apenas para quem a fez, mas sobretudo para Leiria que ficou com um selo de vencido.

2 O muito dinheiro gasto (nunca foi divulgado o montante!) para tão poucos resultados reconhecidos pela generalidade dos cidadãos.

3 Uma rede cooperativa só tem eficácia se for construída pela base e com as bases. O Orfeão de Leiria não foi incluído nessa cooperação, pelo que não pode medir o alcance dessa continuidade. Basta reforçar o trabalho em rede do muito que já existe: Museus, Teatros, Festivais, etc.

4 A única perceção que permanece é que terá havido excessivo paternalismo de Leiria em relação à região e o recurso exagerado a “especialistas” exteriores.