Sociedade
“Coimbra está num patamar claramente superior a Leiria”
Há décadas que se fala na possibilidade de Leiria ascender a 3.ª cidade mais importante do País. Afirma-se o seu potencial, a massa crítica, os negócios, a iniciativa privada e o individualismo, as mentes brilhantes e a concorrência de Aveiro e Coimbra.
No início de mais um mandato autárquico, quando se delineiam estratégias de futuro e desenvolvimento regional, com a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2017 e a luta pela criação de um aeroporto internacional na região em cima da mesa, comparámos Leiria - que se diz almejar ser a 3.ª cidade do País, juntamente a Aveiro, Braga e Coimbra - e a "cidade dos estudantes", para perceber o que as aproxima e distancia, na liderança da zona Centro.
O tema do desenvolvimento regional e o da liderança da região Centro estiveram em cima da mesa nas últimas eleições legislativas, especialmente quando se falou da possibilidade de criar um aeroporto internacional na região e nas candidaturas a capital europeia da cultura, tanto em Leiria como em Coimbra, embora não tenham sido profundamente explorados.
Terão sido apenas palavras atiradas no calor do debate político? Podem ter sido, mas os próximos anos exigem que o tema seja debatido e que o futuro, no cenário de crescimento económico e social em que vivemos, seja pensado em termos macro-regionais e não apenas concelhios.
Neste artigo, comparámos as duas cidades e ouvimos especialistas sobre uma e outra capital de distrito. Num período em que cresce de forma lenta mas obstinada, novas equipas autárquicas chegam ao poder e novos desígnios são traçados, servirá para alertar consciências. Elísio Estanque, sociólogo e docente na Universidade de Coimbra ouvido pelo JORNAL DE LEIRIA entende que Coimbra está “num patamar claramente superior a Leiria” e aponta factores que pesam num confronto directo entre as duas cidades.
No entanto, o investigador diz que Coimbra tem perdido relevância para Aveiro, que foi catapultada pela abertura da universidade local e tecido empresarial, e para Leiria, que lidera um dos mais importantes clusters do País. O dos moldes e plásticos. Aponta ainda como uma das forças da cidade do Lis o Instituto Politécnico local.
“A componente tecnológica e o desejável reforço da articulação entre o IPL e o tecido empresarial da região podem contribuir para um desenvolvimento da cidade.” Estanque acredita que um aeroporto internacional poderia impulsionar e enriquecer ambas as cidades e as regiões que capitaneiam, porém, defende a sua construção em Condeixa, às portas de Coimbra.
Mais pragmático, João Tiago Carapau, especialista em urbanismo, afirmou, na recente conferência da Arquivo, Leiria, Cidade Imaginada, que Leiria tem problemas de “ausência de identidade”.
"É uma cidade encalhada na sua força industrial, económica, de pensamento e de competência", disse, sublinhando que se perde demasiado tempo a discutir e não há acção suficiente, “devido à vontade de se agradar a todos os intervenientes locais”.
"Se Leiria quer ser a, eventual, terceira cidade de Portugal, tem já uma competência excepcional dos pensadores, dos processos de transformação e transdisciplinariedade, mas há que mostrar aos que estão lá fora que há coisas para visitar e descobrir e não apenas um discurso demasiadamente hermético."
Para Pedro Biscaia, antigo dirigente da Adlei – Associação para o Desenvolvimento de Leiria, Coimbra foi perdendo a relevância do seu tecido industrial, concentrando a sua actividade no sector de serviços. Já Leiria, entende, tem trilhado “um lento mas consistente caminho oposto”, com crescimento demográfico, actividade industrial e do poder de compra.
Conclui que Coimbra conta com uma elite capaz de pensar projectos ambiciosos, enquanto Leiria tem iniciativa privada, individualista, e “carece de um programa comum de desenvolvimento de incentivo da modernidade”.
Coimbra quer marcar a liderança regional
E, enquanto Leiria está “encalhada” e persegue o sonho sempre adiado de ser uma das mais importantes e influentes cidades nacionais, Coimbra quer voltar a ter a importância e o papel de liderança regional de outros tempos. Pelo menos foi essa a tónica do discurso eleitoral de Manuel Machado, candidato do PS que venceu a autarquia conimbricense.
Primeiro, anunciou uma candidatura à Capital Europeia da Cultura 2027, depois de Leiria ter feito o mesmo e, a seguir, deu o dito por não dito na questão da abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego civil, retirando o apoio dado em Fevereiro. Machado anunciou que liderará “no próximo mandato autárquico a transformação do aeródromo de Coimbra num aeroporto civil comercial", justificando com a necessidade de “devolver a liderança da região Centro a Coimbra”.
O JORNAL DE LEIRIA pediu aos presidentes das Câmaras de Leiria e de Coimbra que elegessem as mais-valias que uma e outra cidade têm, em confronto directo. O vice-presidente da autarquia, Gonçalo Lopes refere que Leiria está a “dar passos importantes na consolidação de uma estratégia comum, que pode ser ilustrada por dois exemplos: a abertura do tráfego civil no aeroporto de Monte Real e a candidatura de Leiria a Cidade Europeia da Cultura 2027.”
O autarca refere ainda o peso do tecido empresarial no concelho que ronda os cinco mil milhões de euros/ ano. “O investimento público, infelizmente, não tem sido proporcional”, lamenta. Manuel Machado recusou comentar, afirmando que “neste momento, não pretende pronunciar-se sobre o assunto”.
O JORNAL DE LEIRIA também fez uma lista, que pecará por defeito, sobre o que uma e outra cidade têm para oferecer.
Ao nível das instituições públicas de ensino superior, Leiria conta com um Instituto Politécnico muito reconhecido e de valor incalculável para o cluster dos moldes e plásticos da
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