Sociedade

Comunidades portuguesas em Paris: um orgulho que podia ser (ainda) mais acarinhado

6 jul 2017 00:00

O JORNAL DE LEIRIA promoveu em Paris uma tertúlia para apresentar a revista que publicou sobre as comunidades portuguesas daquela região. Olhou-se para o passado, mas falou-se também do presente e do futuro

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Raquel de Sousa Silva

Juntar alguns dos mais destacados emigrantes portugueses em Paris e responsáveis institucionais para uma conversa à volta do percurso das comunidades portuguesas desde as décadas de 1960/70 até à actualidade foi o objectivo da tertúlia Comunidades Portuguesas em Paris – um orgulho nacional, evento com o qual o JORNAL DE LEIRIA assinalou a publicação de uma revista sobre a matéria.

Quinta-feira, 29, no Consulado, falou-se das dificuldades sentidas pelas primeiras vagas de emigrantes, muitos dos quais chegaram a França com pouco mais do que a roupa que levavam vestida, mas também de superação e de êxito.

Falou-se do passado, mas igualmente do presente e do futuro. Carlos de Matos, que chegou a Paris com 18 anos, recordou as dificuldade dos primeiros tempos, que não o impediram de se tornar num empresário de sucesso no ramo imobiliário.

“Há quem fale em sorte, mas ela certamente apanha a pessoa a trabalhar, porque sem trabalho nada se consegue”. Lamentou que os franceses que actualmente escolhem Portugal para viver ou investir sejam “mais bem recebidos” do que os emigrantes, que durante décadas enviaram remessas.

Carlos de Matos resolveu voltar para o nosso país, mas garante ter esbarrado com várias dificuldades. “Para mudar a residência fiscal tive de pedir uma certidão na alfândega em como não tinha pago impostos em Portugal nos últimos cinco anos. Demorou ano e meio. Mesmo tendo eu o melhor gabinete de advogados de Portugal. Imagine- se quem não tiver”, lamentou.

“Se calhar é mais fácil ser português, ter nacionalidade francesa e ir para Portugal como estrangeiro”. Carlos de Matos referiu ainda que gostaria mesmo era de ser considerado um “cidadão igual” aos outros, em todo o lado.

Irene de Oliveira Carmo foi outra das intervenientes no debate. Chegou a Paris em 1981 e disse na tertúlia ter encontrado uma comunidade “muito fechada”. “Ninguém vinha ter connosco para nos ajudar”.

Rapidamente percebeu que os portugueses eram um povo que “ficava sempre atrás da cena”, e que não intervinha na sociedade. “Éramos um povo pobre de espírito e de palavra”.

Acredita que alguma rivalidade ainda hoje existente “é um grande obstáculo” a uma maior afirmação da comunidade portuguesa como um todo. Irene Carmo, que foi autarca em Champigny durante dez anos, falou ainda da dificuldade que existia antigamente, e que considera ainda se manter de alguma forma, para as mulheres se afirmarem, sobretudo na política. “Há cada vez mais, é certo, mas isso é de há poucos anos para cá”, considerou.

Apesar das dificuldades que marcaram a vida dos primeiros emigrantes, a verdade é que muitos se tornaram empresários de sucesso. Mapril Baptista é um entre muitos exemplos que poderiam ser apontados. Chegou ainda criança, com os pais, mas com passaporte. “Tive mais sorte do que muitos”.

Nos primeiros anos sentiu o racismo existente em França, “muito grande” à época, mas a partir do momento em que passou a falar francês as coisas melhoraram. “Comecei a sentir-me francês a 100%. Continuo a sentir-me assim, e a sentir-me português a 200%”.

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