Sociedade
D. José Ornelas é o novo bispo de Leiria-Fátima
Nomeação anunciada esta manhã pelo Vaticano. A tomada de posse será no dia 13 de Março.
Está confirmado: D. José Ornelas, até agora bispo de Setúbal, é o novo titular da diocese de Leiria-Fátima. A nomeação do Papa Francisco foi anunciada, esta manhã, pela sala de imprensa da Santa Sé, que dá também nota da aceitação da renúncia ao cargo de D. António Marto.
A tomada de posse do novo bispo está marcada para o dia 13 de Março, sendo que, até lá, D. António Marto assume a função de administrador apostólico da diocese, como o próprio explica numa mensagem publicada no site da instituição.
Nesse vídeo, D. António Marto reage com “louvor e júbilo” à nomeação de D. José Ornelas, realçando as características do novo titular da diocese.
Como missionário “é portador de uma visão enriquecedora e de uma experiência universal da Igreja” e como bispo de Setúbal e presidente da CEP “tem dado provas de experiência pastoral aliada com o dinamismo missionário de uma Igreja próxima e em saída, capaz de tomar decisões corajosas e inovadoras no propósito de renovação do Papa Francisco”, destaca o agora bispo emérito de Leiria-Fátima sobre o seu sucessor.
“A diocese está de parabéns e D. José Ornelas vem encontrar uma Igreja viva, que o vai acolher de coração aberto”, reforça D. António Marto, convicto que o novo bispo trará “uma riqueza enorme e única, capaz de imprimir um novo impulso e renovação pastoral à diocese e ao Santuário [de Fátima]”.
Na hora da despedida da diocese, onde estava há quase 16 anos, D. António Marto diz que “na vida, há um momento para tudo” e agradece a compreensão “paternal, amiga e afectuosa” do Papa Francisco ao atender ao seu pedido de renúncia.
O prelado explica que essa solicitação teve a ver com o aproximar da idade canónica limite para o desempenho das funções, os 75 anos, que completa em Maio, mas também por sentir “maior limite das forças físicas e anímicas para exercer adequadamente o cargo face às exigências pastorais da Diocese e do Santuário de Fátima”.
No balanço que faz dos quase 16 anos que esteve como bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto assume que “as realizações ficaram aquém das aspirações”, mas que sai com os diocesanos no coração.
“Amei e continuarei a amar com toda a minha alma esta Igreja de Leiria-Fátima e os seus fiéis, como me senti querido por tantos de vós”, diz na mensagem que deixa aos diocesanos. E acrescenta: “Levo uma riqueza que não trocaria por todo o ouro do mundo: os nomes e os rostos de todos vós, sobretudo, dos meus amiguitos e amiguitas [expressão com que se dirige sempre às crianças]”.
O agora bispo emérito de Leiria-Fátima promete ainda que, “enquanto tiver saúde e forças”, continuará “a trabalhar ao serviço do Evangelho em tudo” o que lhe for possível.
“Que Nossa Senhora de Fátima me acompanhe nesta missão”
Por seu lado, D. José Ornelas reage à nomeação com “um misto de sentimentos” e diz que parte para este novo desafio com “total disponibilidade” para acolher aquilo que a Igreja lhe pede.
“Sinto um misto de sentimentos contrastantes, que não é fácil de exprimir, mas que posso resumir em duas atitudes, de Jesus e de Maria, pelas quais tenho procurado orientar a minha vida ao serviço do Evangelho”, afirma o novo bispo de Leiria-Fátima.
D. José Ornelas diz que vai ter saudades da diocese de Setúbal, onde estava desde 2015, mas assegura que parte “contente” para o novo desafio, que irá assumir “com verdadeira emoção, alegria e esperança”.
Em comunicado, o novo bispo de Leiria realça a “amizade fraterna” que o liga a D. António Marto. “Assumo com gratidão e como desafio a herança de pastor que ele me deixa, no seguimento de outros dedicados bispos, de quem D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva é testemunha”, pode ler-se na nota.
À nova comunidade diocesana D. José Ornelas expressa o desejo de que “juntos” procurem “escutar o chamamento de Deus a toda a Igreja, convocada para um caminho sinodal de escuta, comunhão participada e missão”.
O novo bispo de Leiria-Fátima dirige-se ainda ao reitor do Santuário de Fátima e a “quantos com ele servem este local especial de referência para a Igreja e o mundo”, recordando que, quando iniciou funções em Setúbal, percorreu a diocese com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima.
“Ela foi a minha primeira guia na missão que Deus me confiava. Agora, peço-lhe que me acompanhe nesta nova missão em Leiria-Fátima. Que ela nos ensine a todos a sermos uma Igreja modelada na sua atitude de Mãe carinhosa, atenta à Palavra de Deus”, escreve D. José Ornelas.
Também o reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas, já reagiu à nomeação, numa mensagem onde agradece a “solicitude pastoral” do cardeal D. António Marto e dá as boas-vindas ao novo bispo D. José Ornelas, que, a partir de agora, será o primeiro responsável pela instituição.
“Neste momento quero agradecer ao senhor cardeal D. António Marto toda a dedicação que teve para com o Santuário de Fátima e para com os seus peregrinos. Não tenho dúvidas de que ficará no coração dos peregrinos de Fátima quer pela sua proximidade quer pela profundidade da sua reflexão sobre Fátima”, afirma o padre Carlos Cabecinhas, nomeado reitor do Santuário por D. António Marto, em 2011.
Sobre o novo bispo, o reitor realça o conhecimento que prelado já tem do Santuário de Fátima, “quer porque já presidiu aqui a celebrações” e já colaborou com a instituição, “mas sobretudo porque presidia e preside ao Conselho Nacional da Conferência Episcopal para o Santuário de Fátima”.
“No início do novo ministério que lhe é confiado, o Santuário deseja-lhe as maiores felicidades e assegura-lhe a oração dos peregrinos para que o Senhor o acompanhe no novo ministério”, conclui o reitor.
Antes, esteve como missionário em Moçambique, uma experiência “suprema” que lhe marcou a vida “a todos os níveis”, como admitiu na entrevista concedida ao JORNAL DE LEIRIA em Dezembro de 2020.
“Foi um ponto fundamental de consolidação, por um lado, e de abertura de horizontes, por outro”, reconhece D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Em 2015, preparava-se, aliás, para iniciar uma nova missão em África – era então superior-geral da congregação dos dehonianos - quando o Papa o escolheu para liderar a diocese de Setúbal.
Quem o conhece destaca o modo como se dedica aos problemas da sociedade, com especial atenção para os mais desfavorecidos. Aliás, também já lhe chamaram 'bispo vermelho' numa alusão a D. Manuel Martins, bispo de Setúbal que ganhou esse cognome pela acção de denúncia de situações de fome e de injustiça social.
“É uma pessoa que admiro tanto. Foi um elemento inspirador da nossa Igreja em Setúbal. Quanto a cores, já disse que não sou daltónico. Isso não me preocupa. Preocupa-me sim, tal como se preocupava D. Manuel Martins, que não defendeu nenhuma ideologia, a defesa do Evangelho e da dignidade das pessoas.”