Desporto
Da prancha de esferovite ao arrepio na espinha por representar Portugal
André Rodrigues é um bodyboarder da Praia da Vieira vai defender cores lusas no Europeu.
Se, neste texto, fizermos uma nota prévia avisando que vamos falar de bodyboard, o mais certo é o caro leitor fazer uma imediata associação à Praia do Norte. Se pensar assim está redondamente enganado, pois vamos falar de um rapaz, ainda por cima campeão nacional, mas que mora 35 quilómetros mais a norte. Senhoras e senhores, eis André Rodrigues, o rei das ondas da Praia da Vieira.
Estranho? Nada disso. “É verdade, vivo numa praia com condições inconsistentes, mas numa costa consistente”, diz o detentor do título português de sub-18. Sendo a Praia da Vieira aberta e pouco abrigada, no Verão é aliciante para os desportos de ondas, mas no Inverno, por estar demasiado exposta aos ventos e às marés, por vezes torna-se complicada.
O que faz André? Mete-se no carro. “Independentemente das condições do tempo, encontro ondas para curtir, cinquenta quilómetros para norte ou cinquenta quilómetros para sul”, explica.
Esta busca incessante pela conjugação de factores que lhe permite entrar dentro de água é, admite, algo que lhe agrada. “O bodyboard confere mais um estilo de vida do que propriamente um desporto. Lidamos com condições imprevisíveis, aprendemos a ser pacientes e percorremos muitos quilómetros à procura de ondas.”
De preferência com os amigos Rúben Fernandes, Dylan Pedrosa e Bruno Mendes, todos juntos, e com a música a soar alto no carro.
Para quem nasce na praia, ainda para mais quando a gravidez da mãe foi passada a respirar a maresia, as ondas atraem como se de ímanes se tratassem.
“Lembro-me de o meu avô me puxar para a bola, mas eu só queria olhar para o mar”, recorda o atleta, que ainda assim foi futebolista no Vieirense e no Marinhense, mas cedo percebeu que o que queria era conhecer a força do oceano.
Desde os “cinco ou seis anos” que André se atirava para o mar. Primeiro numa prancha de esferovite, mais tarde devidamente equipado e pronto a desafiar outro tipo de obstáculos. Aos 12 anos, entrou pela primeira vez num campeonato local.
Depois, começou a participar nas provas nacionais. Ganhou algumas etapas dos escalões em que competia, mas nunca fez melhor do que o quarto lugar na classificação final do circuito.
O ano passado, então, foi para esquecer. Já nos sub-18, arrancou a temporada com um terceiro lugar, mas em todas as restantes etapas do circuito nacional não passou da... primeira ronda. Foi um momento de dúvida, mas André respondeu no mar.
Este ano venceu três das cinco etapas da competição e arrebatou o título nacional. “Aproveito para passar a mensagem que quando temos um sonho, tudo é possível”, enfatizou o professor na The Surfers Place, na Praia da Vieira.
O que mudou? “A minha atitude. Concentrava-me nos outros e não em mim e comecei a perceber que o meu bem-estar é que realmente importa. E a querer muito ganhar.”
O ano tem sido de arromba, com outros resultados de destaque, mas o melhor estava guardado para o final. Cumpriu o sonho de ser campeão nacional, mas está prestes a realizar outro, grande, enorme, o maior de todos.
André Rodrigues foi convocado para representar Portugal no Campeonato Europeu, competição de selecções que se realiza a partir de sábado, em Marrocos. E está, naturalmente, feliz.
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