Economia
“Digitalização é uma oportunidade para estruturar e organizar a indústria”
Ralf Dürrwächter, director-geral da VDWF, associação alemã que representa as indústrias dos moldes e ferramentas, oferece uma visão comum à Alemanha, Portugal e restantes países da União Europeia sobre os desafios e oportunidades que as políticas ESG apresentam para os sectores dos moldes e plásticos
No âmbito das políticas ESG (Environmental, Social, and Governance), a indústria de fabrico de ferramentas enfrenta múltiplos desafios decorrentes de questões como as alterações climáticas, a conservação de recursos e o respeito pelos Direitos Humanos, ao longo da cadeia de abastecimento.
Estas questões não só estão a ser mais incorporadas na legislação, como também são exigidas às empresas pelos próprios clientes e investidores.
A sustentabilidade, sublinha Ralf Dürrwächter, director-geral da VDWF, associação alemã que representa as indústrias dos moldes e ferramentas, “vai muito além da simples preocupação com o ambiente e a biodiversidade”.
É necessário ter em conta os aspectos Ambiental, Social e Governança e prestar atenção, por exemplo, a condições de trabalho ou garantir que a gestão empresarial cumpre as leis, regulamentos e padrões éticos, relatando as medidas tomadas.
“Como a sustentabilidade afecta as empresas de várias formas, é natural que também tenha de ser abordada de diferentes maneiras”, considera o responsável. Para isso, deve sempre considerar-se toda a cadeia de valor de uma empresa, incluindo os processos a montante e a jusante.
Ralf Dürrwächter adverte que as organizações que ainda não encontraram uma resposta para as suas questões de sustentabilidade terão dificuldades em ser bem-sucedidas, inclusive na rentabilidade a longo prazo.
Sublinha que os três aspectos do ESG estão “intrinsecamente ligados”, e tanto os colaboradores como os clientes exigem acções em todas estas áreas.
"Os fabricantes de ferramentas têm de fazer mais do que simplesmente construir ferramentas; precisam de lidar com todos os aspectos da sustentabilidade.”
Quanto ao impacto a curto prazo na competitividade, especialmente nos mercados fora da UE, este responsável reconhece que abordar adequadamente estas questões terá inicialmente custos em termos de recursos, tempo e dinheiro.
“A curto prazo, haverá quem considere esta questão como uma desvantagem competitiva.”
No entanto, vê uma grande oportunidade na perspectiva de que, mais cedo ou mais tarde, os clientes de todo o mundo farão as mesmas exigências.
Se as empresas aproveitarem sistematicamente os potenciais de desenvolvimento e poupança de custos ligados ao desafio da sustentabilidade, “abrir-se-ão uma miríade de vantagens competitivas”, especialmente em relação aos concorrentes que se baseiam unicamente na oferta de preços baixos.
O director-geral da VDWF recorda que a sua organização introduziu o uso de um selo de Compromisso com a Gestão Sustentável, que permite às empresas demonstrarem a sua conformidade com os princípios da sustentabilidade.
“Esta medida torna imediatamente claro para os clientes e parceiros de negócios que uma determinada empresa está a alinhar as suas operações com a sustentabilidade, factor competitivo cada vez mais importante a nível internacional.”
“Quase todas as indústrias estão a lutar para atrair jovens”
Abordando a questão da escassez de mão-de-obra qualificada, um problema significativo no sector, tanto na Alemanha como em Portugal, reconhece que esta é uma questão generalizada e sugere que os estágios em férias para estudantes do ensino secundário podem ser uma das abordagens possíveis para atrair talentos, mas ressalva a necessidade de um esforço mais amplo para tornar o fabrico de ferramentas numa profissão mais atraente.
“Quase todas as indústrias estão a lutar para atrair jovens, independentemente de se tratar da área da tecnologia da saúde ou outros”.
Recomenda, no caso português, a utilização de estágios de férias para estudantes do ensino secundário como uma forma de atrair jovens talentos e estratégia útil para as empresas portuguesas enfrentarem a escassez de mão-de-obra qualificada.
No entanto, salienta, isto deve fazer parte de um esforço mais amplo para tornar a indústria atraente para os jovens.
Já o equilíbrio entre a experiência dos trabalhadores mais velhos e a necessidade de atrair novos talentos assemelha-se difícil para o tecido empresarial português, uma vez que o País enfrenta desafios demográficos significativos.
As empresas portuguesas poderiam avaliar o emprego de programas de mentoria ou de transferência de conhecimentos, para “garantir que o know-how valioso dos trabalhadores mais experientes não se perca”, quando estes se reformam.
Embora a introdução de ferramentas digitais seja importante, as estruturas de negócio nacionais devem também valorizar e manter as suas capacidades de interacção presencial e demonstração técnica.
É que, como chama a atenção, embora a pandemia de Covid-19 tenha rompido novos caminhos em termos do teletrabalho, a verdade é que, em tarefas mais específicas e de grande complexidade técnica, como as que existem nos moldes e plásticos, situações de trabalho à distância não são exequíveis.
No que diz respeito à incorporação futura de IA e robótica, Dürrwächter vê a digitalização como uma oportunidade para estruturar e organizar a indústria, tornando os dados acessíveis “em situações que vão além das capacidades humanas”.
“Isto é essencial para documentar em detalhe processos complexos e recorrentes, mas também muito rápidos ou para simular estes processos. A digitalização na produção dá às pessoas a liberdade de serem criativas e permite-lhes ultrapassar os seus limites e testar vários cenários sem correr riscos”, afirma.
No entanto, aponta “a existência de demasiadas soluções isoladas”.
É por isso que lidar com os problemas de interface decorrentes da digitalização é, muitas vezes, mais difícil do que trabalhar em ambiente real.
O responsável ressalva a necessidade de uma abordagem holística à sustentabilidade da ESG, reconhecendo os custos iniciais, mas destacando os potenciais benefícios a longo prazo em termos de competitividade e inovação.
Para o sector português de moldes e plásticos, estabelece pontos de reflexão necessária, nomeadamente, a adopção de práticas sustentáveis, não apenas como obrigação regulamentar, mas como vantagem competitiva, que é particularmente relevante num mercado global, cada vez mais consciente e aberto às questões levantadas pela ESG.
Ralf Dürrwächter sublinha que, embora existam desafios significativos, também há oportunidades substanciais para as empresas que estão dispostas a adaptar-se e a inovar.
“Para o sector português de moldes e plásticos, conhecido pela sua capacidade de adaptação e excelência técnica, estas ideias podem servir como um catalisador para uma maior inovação e crescimento sustentável”, resume.
Ao executar uma abordagem proactiva à sustentabilidade, ao investir no desenvolvimento de talentos e ao abraçar a digitalização de forma estratégica, os moldes e plásticos podem “empreender um caminho de sucesso a longo prazo, num mercado global em rápida evolução”.