Economia

Dos 'bidonvilles' ao topo da sociedade parisiense

29 jun 2017 00:00

Revista Comunidades Portuguesas - Paris nesta edição

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Chegaram a França durante as primeiras vagas da emigração portuguesa, com pouco ou nada de seu. Muitos fizeram a viagem “a salto” e instalaram-se em bairros de lata, os conhecidos bidonvilles.

Superaram dificuldades, não desistiram e concretizaram o sonho de criar as suas empresas no país a que chegaram sem grandes perspectivas e sem sequer falar francês. Hoje, nas mais diversas áreas, os portugueses são exemplos de sucesso na sociedade parisiense.

Portugal é, na sua identidade, um País virado para o exterior, tendo começado a vincar essa tendência desde os tempos dos Descobrimentos. De lá para cá, nunca as nossas fronteiras foram entrave para que milhares de portugueses tentassem a sua sorte noutros países, com especial incidência nos períodos de maiores dificuldades económicas.

Actualmente são cerca de 2,3 milhões os portugueses a viver fora do País, número que cresce para mais de 30 milhões se considerarmos os luso-descendentes até à terceira geração, o que faz com que haja portugueses espalhados um pouco por todo o Mundo.

Nenhum destino é, no entanto, tão simbólico da nossa emigração como França, principalmente a região de Paris, que, nas décadas de 1960/70, foi procurada por milhares e milhares de portugueses que fugiam da vida de miséria e de repressão que o Portugal de Salazar lhes oferecia.

Desses tempos, ficaram na memória colectiva do nosso País as famílias desmembradas, as passagens de fronteira “a salto”, a miséria dos bidonville s, as vidas recomeçadas do zero.

Também a coragem e o espírito de sacrifício de quem decidiu partir, num tempo em que tudo era mais distante, incerto e desconhecido. Vem desse tempo, também, algum preconceito relativamente aos emigrantes, que são ainda olhados por muitos como portugueses de segunda, como uma espécie de subcategoria do nosso povo.

Nada mais injusto e sem sentido, pois a maioria dos que saíram para França, principalmente a primeira geração nas décadas de 1960/70, fê-lo com muito sacrifício e foi empurrada pela miséria que o País lhe oferecia, tendo, no geral, aproveitado as oportunidade que encontrou, melhorado as suas vidas, ascendido socialmente, proporcionado às gerações seguintes a educação que não teve.

Muitos fizeram fortuna e são figuras incontornáveis na sociedade francesa. Foram uns vencedores e um exemplo do que é ser português, por mais que isso custe a muita gente.

É verdade que a primeira geração dos portugueses que chegaram a Paris era constituída, na maioria, por pessoas de pouca cultura, oriunda de meios deprimidos e sem grandes qualificações, e que era frequente ostentarem de forma algo arrogante a sua ascensão social quando visitavam Portugal.

Mas quem poderá criticar aqueles que, tendo conseguido sair do buraco e alc ançado uma vida confortável, têm vaidade no seu percurso?

Só a ignorância poderá justificar alguns resquícios desse preconceito, sendo um dos objectivos desta revista, precisamente, retratar as comunidades portuguesas que vivem na região de Paris, dando a conhecer o muito de bom que têm conseguido alcançar.

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