Viver

Esta Porta teve de tudo, como na mercearia

9 jun 2016 00:00

A Porta veio para ficar...

Fotografias: Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

A Meia-dúzia e Meia de Gatos Pingados, voltou a fazer história. Para os anais vai ficar a segunda edição do Festival A Porta que ocupou casas e edifícios devolutos, lojas e jardins vazios da rua direita (rua Barão de Viamonte), que já foi a mais importante via e zona comercial da cidade de Leiria, devolvendo-lhe, por pouco mais de oito horas, as gentes, o bulício e a animação de outros tempos.

Durante dois dias, A Portafoi uma espécie de epítome da mercearia de bairro. Ali, havia de tudo: ilustração, pintura, fotografia, instalações, performance, teatro, gastronomia, contadores de histórias e até um balão de ar quente!

Sim, um balão de ar quente, embora o vento não tenha ajudado muito aos passeios nas alturas. Ao todo, aconteceram 14 oficinas para crianças, actuaram 18 bandas e artistas e encheram-se mais de 1100 metros quadrados de paredes, com obras de mais de 30 artistas plásticos.

O frio da noite de sexta feira, contrastou com o calor que as bandas Twin Transistors e Cave Story levaram a Leiria, para atiçar o rastilho que iria fazer explodir a festa d’A Portadepois de os jantares em casa de estranhos e concertos, nas noites anteriores, o terem acendido.

Como se esperava, o sábado rebentou em cores, sons, sabores e cheiros. Milhares de pessoas visitaram a rua direita tentando usufruir de tudo o que A Porta deixou escancarado.

Dizemos “tentando”, porque a oferta era tanta que se tornava difícil abarcar tudo. O centro nevrálgico do festival, há que dizê-lo, foi a “casa plástica”, e o pequeno palco montado no jardim, nas suas traseiras, foram a maior jóia de uma coroa onde outras gemas preciosas concorriam por um lugar de destaque.

Num labirinto de corredores, salas, quartos e escadas da casa amarela de três andares da rua direita, mais de três dezenas de artistas tomaram a si a missão de insuflar vida e criatividade às poeirentas paredes, dando à “casa plástica” o beijo da vida, roubando-a à penumbra e deixandoa cair nos braços de Morfeu.

Lá fora, as paredes da rua direita foram embelezadas por murais e portas pintadas, que ficarão como testemunho desta festa que quer ser anual. No sábado, à tarde, a música de Rapaz Improvisado, Surma e Whales deu o mote para um serão bem animado no Jardim Luís de Camões, com a actuação dos Equations e da superbanda nacional Keep Razors Sharp, onde toca o músico de Leiria, Afonso Rodrigues.

Os concertos serviram como antecâmara do domingo e para um piquenique nos relvados à beira-rio, do Parque coronel Jaime Filipe da Fonseca (parque do avião). Com a criançada ao rubro e os assadores ligados, houve espaço para uma Feira Bandida, para a actuação da Companhia Bipolar, passeios de barco e caiaque nas águas frescas do esquecido Lis, gincanas de bicicleta, yoga do riso e papagaios de papel.

A Portafechou-se este ano com um concerto de Les Enfants Terribles. A Meia-dúzia e Meia de Gatos Pingados, grupo de voluntários que agarrou este projecto de levar vida às zonas moribundas da cidade, são Lara Portela, Miguel Xavier, Ana Santos, Paula Lagoa, Gui Garrido e Joana Areia.

“Os cafés, os bares e as lojas estiveram cheios e tudo gra- ças à cultura”, sublinha Gui Garrido, porta-voz da organização, que entende que este e outros sinais demonstram bem o peso da cultura na renovação do tecido social, económico e cultural.

“Se os espaços estavam cheios de pessoas, isso deveu-se à capacidade de atracção das artes e dos artistas plásticos e era preciso que isto ficasse bem presente nas mentes.”

O artista agradece a todos os voluntários, à autarquia, à Inpulsar, aos patrocinadores e a todos os que, de alguma forma auxiliaram à realização do evento. “Acreditamos no espírito comunitário e mostrámos que é possível mudar e fazer, neste festival que, desde a primeira edição cresceu imenso.”

Como desafios já para 2017, Gui Garrido elege, por exemplo, a criação de melhores condições de trabalho para os artistas e maior qualidade na programação. “A Porta são vários festivais num só e queremos que ela tenha repercussões periódicas no incentivo da cultura em Leiria, ao longo do ano, com vários acontecimentos, conteúdos específicos e para vários públicos”, anuncia.

Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.