Sociedade
Estado deixa antigo bairro prisional de Leiria ao abandono
Devolutas Das 58 casas do bairro dos guardas prisionais, 31 estão vazias e, em muitos casos, bastante degradadas. Assim continuarão, porque não existe qualquer plano para as recuperar e ocupar
Já estiverem todas ocupadas. Havia até lista de espera. Hoje, das 58 casas que compõem o bairro dos guardas prisionais, anexo à ex-prisão escola de Leiria, 31 estão desabitadas e, em muitos casos, em avançado estado de degradação. E, assim continuarão, não existindo qualquer projecto para a sua requalificação e, consequente, ocupação.
Numa das entradas do bairro, na Rua da Malaposta, o antigo campo de jogos, construído pela Casa de Pessoal do Estabelecimento Prisional de Leiria, vai acumulando ferrugem, marca do passar dos anos e da falta de utilização e de manutenção. Ao lado, o edifício onde funcionou o restaurante daquela associação, fechado há cerca de cinco anos, sofre do mesmo mal.
“Havia também uma mercearia, onde tínhamos um pouco de tudo”, conta uma moradora, que, tal como outros habitantes do bairro com quem o JORNAL DE LEIRIA conversou, pede para não ser identificada. “Eles não gostam que falemos com jorna listas sobre o bairro”, justifica, enquanto vai desfiando algumas memórias do tempo em que as casas se encontrava todas habitadas.
“Estas ruas estavam cheias de miúdos. Os quintais eram muito floridos. Chegou a haver concursos para eleger o mais bonito”, recorda a moradora, que não esconde a tristeza por ver muitas das habitações desocupadas e, pior, a degradarem-se ano após ano.
Esse é um sentimento partilhado por outro habitante, antigo funcionário da ex-prisão-escola agora reformado, contando que algumas das casas têm sido alvo de vandalismo, acentuando ainda mais a sua degradação. “Há muitas luas, isto estava cheio. Agora, é como se vê.
Com tanta falta de casa, por que é que não se recuperam estas para habitação social, através de um acordo com a Segurança Social ou com a Câmara de Leiria?”, questiona. A ideia não é nova. Há alguns anos, durante um dos mandatos de Isabel Damasceno, a autarquia e a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais chegaram a discutir a cedência de algumas das casas à câmara, mas o processo não teve andamento.
Questionados agora pelo JORNAL DE LEIRIA, tanto o município como o Ministério da Justiça não esclarecem as razões que inviabilizaram esse princípio de acordo. “Não dispomos de informação sobre essa intenção nem sobre as razões de não concretização”, informa a tutela.
Por seu lado, a Câmara não respondeu ao pedido de esclarecimentos. Um antigo morador recorda-se disso ter sido falado no bairro e de haver “quem não quisesse que viessem para cá pessoas de fora”. Mas diz desconhecer se foi por isso que a ideia não avançou.