Viver
Estes malabares são feitos para caminhar
Conheça o malabarista que coloriu os semáforos de Leiria, no trajecto de uma viagem que começou em Las Palmas há três anos
É, desde há alguns dias, figura habitual nos semáforos do Leiria Plaza, a colorir com malabarismos os tons aborrecidos das filas de trânsito – “as pessoas aqui também têm direito a encontrar-se com algo que de repente lhes arranque um sorriso” – e a experienciar uma vida nómada, literalmente, com mochila, tenda, uma guitarra e o companheiro Pitxu, um cão pequeno em tamanho mas grande em fidelidade.
Sergio Dominguez, 22 anos, originário da ilha de Gran Canaria, em Espanha, encontra-se em viagem há três anos – “algo que me faz feliz, que me faz viver aventuras, que me faz conhecer pessoas maravilhosas” – e cruza-se com Leiria de passagem, entre o Porto, Coimbra e o próximo destino, que ainda não tem decidido, mas que, provavelmente, será Lisboa, onde já esteve anteriormente.
Tem atraído olhares curiosos, no encontro das ruas dos Mártires, Machado Santos e Dr. João Soares com o Largo da República, junto à Villa Portela e ao edificio da Câmara Municipal de Leiria, a contribuir para um ambiente urbano mais contemporâneo e a alinhar a cidade com a tendência de disseminação das artes de rua.
Dorme onde pode – “não considero que vivo na rua, considero que estou a viajar”, um “outro tipo de estado mental” – e adopta “uma alternativa” ao modelo casa, família e trabalho, opção que, argumenta durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA, lhe permite “estar em movimento” e dedicar-se ao que mais gosta quando quer e como quer.
Um modo de existência que, apesar de tudo, implica compromisso. Sergio Dominguez chega a permanecer seis horas nos semáforos – uma, duas, três, quatro, cinco, seis, às vezes, sete bolas no ar – e junta-lhe outras três ou quatro horas diárias de treino.
“Comecei por necessidade e no final enamorei-me”, afirma. “Na verdade, quando estou triste, faço-o e fico feliz”.
Os exercícios com malabares, acredita, são bons “para a memória, para a coordenação, para aumentar a massa cerebral” e só exigem “força de vontade” e “empenho”.
Entre tutoriais do You Tube e dicas obtidas na estrada com outros malabaristas, é tudo uma questão de persistência e de amor pela arte, que quer partilhar com os outros. “É o meu pensamento onde quer que vou”.
Depois de alguns truques, e antes de o vermelho ceder ao verde, a ronda pelos automobilistas, em Leiria, depende do dia, de quem está ao volante e até da meteorologia, mas costuma dar para comer (só comida vegetariana) e para alimentar o amigo Pitxu, além dos trocos para seguir caminho, o que deve acontecer já esta sexta-feira.
Sergio Dominguez saiu de Las Palmas em 2018 e tem circulado entre Espanha e Portugal, quase sempre a pé.
Os planos de curto prazo envolvem uma bicicleta “e viajar por toda a Europa”, depois de visitar, em Portugal, o Cabo da Roca. “Algum dia gostaria de comprar uma terra e fazer uma casita, cuidar da terra, mas por agora o meu corpo e mente dizem-me viaja que tens muito que viver e que aprender e muito que conhecer”.
De Leiria, leva no corpo uma nova tatuagem, oferecida por um dos amigos que fez na cidade.