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Eu é que sou o “Marciano Pessoas” - Marciano Silva, músico vocalista de mARCIANO

9 nov 2015 00:00

"Nunca me interessou ter 15 minutos de fama. Aquilo [o Big Brother] era uma fama descartável, não se fazia nada de especial para a merecer. Estava-se ali enfiado num 'buraco'"

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Jacinto Silva Duro

Canker bit Jesus, Homem de Marte & Invasores, Índios da Meia Praia e Alfredo Marciano são alguns dos seus projectos musicais, aparece agora mARCIANO. Mais um alter-ego de Marciano Silva, o artista que é uma espécie de Fernando Pessoa da música de Leiria…
Sou mais o “Marciano Pessoas”. Tenho a necessidade de criar personagens, sempre que enveredo por um novo projecto musical. Tento romper fronteiras. Gosto de experimentar, de desafiar os limites, de abordar vários tipos de música. O mARCIANO é um projecto pessoal. Estava sozinho, por Lisboa, para onde me mudei e trabalho, arranjei um iPad e, sem querer, comecei a trabalhar. Comecei a compor.

É um som mais electrónico.
Sim, é mais pop electrónica. Digo “pop”, no melhor sentido da palavra, em formato canção cantada em português. Mas tudo isto é um mero caminho. Agora é a electrónica e, quem sabe, daqui a um ano, é outra estética completamente diferente. Decidi usar o meu próprio nome para baptizar esta fase, coloquei um “m” minúsculo no nome para ser algo que começa pequenino e depois cresce.

A sua estética é não apenas vocal, mas também está patente em palco. As suas actuações são marcadas por um visual muito próprio.
Desta vez, vemos um novo guarda-roupa… Tenho uma necessidade muito grande de ter um visual muito próprio e de criar uma “personagem”. É uma personagem muito real, que me transporta e ao público para outro lado.

Dentro de si, há “marcianos” ou pessoas da Terra?
Vejo esta coisa deste modo: adoro música e se tenho um palco à minha disposição, por que não aproveitar outras artes e dar magia às coisas? O espectáculo não tem de deixar de ser menos genuíno por causa disso ou porque não uso umas calças de ganga ou camisa de flanela. A teatralidade também lhe vem da sua passagem pelo palco d'O Nariz?

Participei, a convite de Pedro Oliveira, numa peça n'O Nariz.
Já fiz teatro há uns bons anos, mas foi pontual. Na sexta-feira, n'O Nariz apresentei dez temas de mARCIANO. Já tinha mostrado cinco canções no Há Música na Cidade deste ano e há muita coisa fresca. Sem dúvida alguma que é o meu trabalho mais pessoal. Escrever estas músicas foi um processo: senti-me muito só, apesar de ter muitas pessoas à minha volta, e o escape foi o mARCIANO.

É o pior tipo de solidão?
É o pior. Não estamos bem, temos de mudar de vida e, eventualmente, acabamos por fazê-lo. Muitas das coisas de que falo são, agora, passado e não estão tão presentes, contudo, não deixo de ter a ligação emotiva entre a música e os temas. Falo de muitas coisas, de sentimentos muito próprios, dos medos que nos bloqueiam e impedem de avançar na vida. Por exemplo, a música O futuro passado no presente fala de esperança e de acreditar… a M78 é uma metáfora sobre o deserto quase sobre um alquimista que busca “a tal”…

É um tema inspirado em Paulo Coelho?
Sim. Gostei da história do jovem que parte para longe, para o deserto em busca de um “tesouro” e que acaba por descobri-lo anos depois, no sítio de onde partira e onde tinha sido feliz. É a busca da “tal” de que falei. Depois tenho a TTI – Tratado do Espaço Interior -, que é uma metáfora do espaço, da exploração, de novas aventuras… é uma brincadeira a partir do Tratado do Espaço Exterior, tratado internacional que rege as actividades no espaço sideral. A TTI volta-se para o espaço interior do ser. É muito concreta em termos de sentimentos. Tenho outra canção onde personalizo a música como se fosse uma mulher e a descrevo como ser fosse uma pessoa de carne e osso. Há muitos sentimentos à flor da pele. Mas também tenho Cães, que é mais maléfica, que puxa a nossa parte má e mais sexual. É música que fala da vida e dos caminhos que estão à nossa disposição.

Apaixonado por música
Marciano Silva tem 36 anos, nasceu e viveu em Assenha, freguesia de Souto da Carpalhosa, em Leiria. “Fui para Leiria em 1994 e vivi lá 19 anos. Desde há dois que estou a viver em Lisboa”, diz. Trabalha numa empresa de sistemas de informática, depois de ter estudado Contabilidade. “Não faço nada que tenha a ver com o curso. Estou, também profissionalmente, a encetar uma fase nova.” A estrear mais uma pessoa nova na sua vida, faz uma incursão pela música electrónica com o novo projecto, mARCIANO. “Foi uma estética que apareceu naturalmente. Os sons foram puxando sons… tive a influência dos Liars, que andava a ouvir e aquilo serviu para o arranque. O objectivo final deste novo projecto é o que sempre quis: mostrar a minha paixão pela música.” É o vocalista dos Índios da Meia Praia, banda de tributo a Zeca Afonso, José Mário Branco, Fausto ou Adriano Correia de Oliveira; do Homem de Marte & Invasores – projecto de invasão musical que está adiado por indisponibilidade do vocalista -, é o mete-discos e dj Rocky Marciano… e é Alfredo Marciano, o artista que se apresenta apenas no Festival da Canção Alternativa. “Acho que faria muito sucesso com o single que levei lá: Bota Cavaco, brinca.

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