Sociedade
Ex-padre lança petição pública pelo apoio às vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa
Nélson Araújo pede que a Igreja crie um fundo de apoio às vítimas
Nélson José Nunes Araújo, ex-padre, natural da Marinha Grande, é o primeiro subscritor da petição pública pelo apoio às vítimas de abusos de abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa, documento que pretende ser endereçado ao Núncio Apostólico em Portugal, ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, aos bispos residentes de Portugal e aos bispos eméritos de Portugal.
Defende a petição que,"em boa hora, embora tardiamente, a Conferência Episcopal Portuguesa decidiu constituir uma comissão independente para estudar e averiguar todos os eventuais atos de abusos sexuais praticados por membros da Igreja Católica em Portugal".
"As conclusões dos trabalhos da comissão independente foram apresentados nos últimos dias e depois disso a Conferência Episcopal assumiu uma posição pública sobre os mesmos que só, a todos os que esperávamos uma atitude de aceitação e reconhecimento da responsabilidade própria da hierarquia católica sobre quaisquer crimes ocorridos, pode merecer o nosso repúdio", salienta o documento.
"'A verdade vos libertará', disse Jesus e é essa verdade que o Papa Francisco tem exigido que seja assumida e reconhecida por todos os bispos no mundo inteiro, não deixando de ele mesmo impor as medidas necessárias para promover a justiça e a reparação de erros praticados pela hierarquia da Igreja em diferentes países, quando ocultaram ou omitiram à Justiça os crimes cometidos por padres, religiosos e outros responsáveis dentro da Igreja em cada país", prossegue a petição.
Contudo, nota, "a hierarquia católica em Portugal tomou uma direcção diferente e, ao arrepio do que tem sido o apelo do Papa Francisco, pretende manter um véu de ocultação sobre os crimes cometidos no passado, mais remoto ou mais recente, refugiando-se em questões jurídicas e em formalismos legais. Se no passado, e mesmo no presente, a hierarquia católica foi conivente com estes crimes ao não agir contra os abusadores, agora pretende esconder-se por detrás de pormenores técnicos, auto isentando-se de qualquer responsabilidade", aponta o documento.
"O que se espera da Igreja Católica em Portugal é que assuma as suas responsabilidades morais, não apenas legais, e que actue em conformidade. Porque os pecados dos seus antecessores, que não actuaram devidamente perante as denúncias de abusos sexuais cometidos na Igreja, recaem hoje sobre os bispos que são os seus sucessores, sendo a Igreja sempre a mesma", prossegue.
Assim, "pedimos assim que a Igreja Católica não se fique apenas pelas palavras de pedido de desculpas ou por gestos de suposta homenagem como a construção de um monumento de homenagem às vítimas. Porque isso não é suficiente. Além do mais, um memorial com esta natureza e finalidade apenas terá como efeito acentuar o sentimento de injustiça, perante a ausência de outras respostas mais efectivas e que cheguem efectivamente às vítimas e às suas famílias."
"As vítimas, do passado, do presente e do futuro, precisam e esperam mais da Igreja Católica. Esperam e precisam de apoio e reparação pelo mal que lhes foi infligido. Para isso pedimos que a Igreja Católica em Portugal crie um fundo de apoio às vítimas de abusos sexuais com as receitas da Renúncia Quaresma, de todas as dioceses do país, que está a decorrer, e que seja anualmente reforçado através de um ofertório nacional promovido pela Igreja Católica em todas as celebrações dominicais, num Domingo da Quaresma, uma vez que este é o tempo por excelência de penitência, expiação e reparação pelos pecados individuais e colectivos", propõe.
"Este fundo deve ser gerido de forma independente por uma comissão nacional a constituir pela Conferência Episcopal Portuguesa e servirá tanto para financiar uma bolsa de profissionais (terapeutas, juristas, apoio psicossocial, etc.) disponíveis para apoiar as vítimas e familiares, como para compensar financeiramente as mesmas vítimas por actos comprovados de abusos sexuais cometidos, nomeadamente, por padres, religiosos e/ou outros educadores que actuem em nome da Igreja Católica em Portugal, preconiza ainda.