Sociedade

Frederico Brazão Ferreira, empresário: "Jovens deviam ser obrigados a trabalhar nas férias"

18 ago 2016 00:00

Vê a emigração como um “alargar de horizontes” para os jovens, que deviam trabalhar nas férias, e entende que o projecto em curso no edifício da antiga Moagem “dignifica” a cidade

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Raquel de Sousa Silva

A emigração é uma inevitabilidade ou uma oportunidade para jovens quadros com ambição de carreira?

No mundo global em que vivemos, a emigração não é um mal necessário, mas antes uma oportunidade, um alargar de horizontes. Ela aumenta quando há menos oferta de emprego cá, naturalmente. Formamos pessoas a um ritmo maior do que aquele a que o País pode dar resposta.

Os jovens devem escolher a sua formação de acordo com os seus gostos e interesses pessoais ou de acordo com as necessidades do mercado?

As duas coisas. Mas em primeiro lugar deve fazer-se aquilo de que se gosta. As pessoas têm de procurar a sua vocação, porque não há nada pior do que estar a fazer qualquer coisa contra vontade.


Hoje não há empregos para a vida, como antigamente…

Não. Houve tempos em que o currículo altamente diversificado que se apresentava a uma empresa era um plus. Mas noutras alturas isto poderia significar que aquela pessoa não parava em nenhum sítio. É necessário a pessoa ter várias experiências, mas não apenas numa perspectiva de ser mais uma. Tem de haver bom senso e ponderação.


É empresário há mais de 50 anos. Há diferenças na forma de fazer negócios face a outros tempos…

Muitas. O cliente está muito mais bem informado. Sabe o que quer. A internet é um instrumento extraordinário e o cliente tem hoje muito mais saber sobre aquilo que pretende do que antigamente. Nessa altura o argumento de venda era só de um lado. Quase que havia uma compra por impulso, nomeadamente no caso do automóvel. Hoje a clientela está mais culta. Isto é um incentivo, porque obriga o empresário a ter muito mais conhecimento do seu produto e do mercado, sobretudo tratando-se de produtos que obrigam a desenvolvimento, em que é preciso estar sempre a par das tendências.

 

Um bom empresário é um bom técnico, um bom líder, ou um misto de ambos?

Tem de ser uma mescla disso tudo. Não tem necessariamente de ser o melhor em cada uma das áreas. Um empresário tem, sobretudo, de possuir visão, compreensão, apostar num intercâmbio muito próximo com os seus colaboradores. Tem de ter a liderança. Mas a liderança é muito difícil, porque exige muito na parte humana, extremamente importante dentro de uma empresa. O empresário tem de decidir. Deve ouvir todos, ter um grupo restrito de conselheiros, colaboradores, e depois decidir. A sua responsabilidade é a decisão. Mas a tendência é que, cada vez mais, seja uma decisão partilhada. Antigamente é que era o 'quero, posso e mando'. O empresário era o homem que tinha o dom de fazer as coisas e só ele estava certo. Mas por maior que seja a preparação de uma pessoa, a nível técnico, humano, psicológico, ninguém é um super-homem. Embora haja pessoas fantasticamente estruturadas, as suas decisões devem basear-se sempre num colégio, mais ou menos próximo.

 

Fez a sua formação na London School of Economics. Em que medida é que esta passagem por Inglaterra o moldou?

Bastante. É importante a pessoa ter contacto com outros povos. Quando estive em Inglaterra tive oportunidade de trabalhar como guia turístico, conheci a Europa desta forma. Nas férias escolares tinha a possibilidade de ganhar dinheiro e de conhecer outros países e outros povos. Isso forma, molda a pessoa. Depois das aulas estava numa cervejaria ou num café a trabalhar. Lavei pratos em Victoria Station, por exemplo. Mas só uma vez. Lavar pratos à mão é uma coisa horrorosa! Fui guarda nocturno num parque de automóveis, onde apanhei de tudo, desde o bêbado àquele que me dava gratificações de cinco libras. Na altura pagava pelo meu pequeno apartamento 2,5 libras. Este tipo de experiências é importante. Mas actualmente a lei dificulta estas coisas. Se alguém me entrar na empresa a pedir um emprego de Verão dificilmente posso dar-lho. Além dos seguros e de toda uma série de outras condicionantes, há a questão da idade.

 

Seria desejável que jovens com 17, 18 anos, pudessem trabalhar nas férias?

Devia ser obrigatório. Com essa idade devem começar a ganhar o seu dinheirinho. Isso é importante. Ao mesmo tempo, vão fazendo contactos que são enriquecedores. Todos os meus filhos trabalharam nas férias. Até o voluntariado é extremamente importante. Tenho uma neta que está a acabar a sua formação em farmácia e que tem trabalhado como voluntária tanto em Portugal como no estrangeiro. E eu vejo-a a ficar cada vez mais enriquecida, vejo-a a sentir, por exemplo, o que é a velhice. Há pessoas que estão nos lares e que não têm ninguém a quem dar uma palavra, porque a família os 'pendurou' lá.

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