“Gostaria de construir um edifício de raiz”. Annarella Sanchez fundou academia em Leiria há 25 anos

Ao fim de 25 anos, Annarella Sanchez tem o sonho de construir em Leiria um edifício de raiz para a dança clássica, com salas de aula, refeitório, ginásio e gabinete médico. Tem sido um percurso “de grande trabalho, dedicação e obstáculos”, diz ao JORNAL DE LEIRIA nesta entrevista. “Posso considerar-me uma vencedora porque nunca desisti do meu caminho e dos meus objectivos, fazendo tudo para proporcionar o melhor ensino”.

Nasceu em Cuba em 1971 e em 1998 criou em Leiria a Annarella Academia de Ballet e Dança. Mais tarde, também em Leiria, iniciou o Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sánchez, um viveiro de talentos de várias nacionalidades de onde já saíram diversos bailarinos e bailarinas para os quadros de companhias profissionais. António Casalinho, actualmente na Alemanha, é o maior exemplo.

Os 25 anos da escola Annarella são assinalados no próximo domingo, 17 de Setembro, com um espectáculo no Teatro José Lúcio da Silva.

Especializada em dança clássica, a professora cubana também dirige em Leiria um Programa Pré-Profissional, que consiste numa formação de seis meses até três anos para aperfeiçoamento de bailarinos. Em paralelo, funciona a CBCL – Companhia de Ballet Clássico de Leiria, com estatuto de junior company, que tem apresentado bailados clássicos no Teatro José Lúcio da Silva.

Balanço?
Posso considerar que estes 25 anos foram de grande trabalho, dedicação e obstáculos que fomos ultrapassando ao longo do caminho. Algumas pessoas não acreditavam que a dança podia ser uma excelente profissão e uma maneira de vida. Alguns pais duvidavam que os seus filhos pudessem ter um futuro excelente como bailarinos profissionais em grandes companhias e teatros internacionais. Posso considerar-me uma vencedora porque nunca desisti do meu caminho e dos meus objectivos, fazendo tudo para proporcionar o melhor ensino, um ensino de qualidade com os melhores profissionais que existem no mundo da dança para todos os nossos alunos.

Momentos mais especiais?
A inauguração da Annarella Academia de Ballet e Dança em 1998 e a nossa grande actuação na Expo 98. Em 2009 consegui fazer um bailado com música clássica, Sonho de uma noite de verão, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. Até à data tinha sido impossível, porque sentia que o público gostava mais de espectáculos variados e talvez ainda não [estivessem] preparados para uma obra clássica. Quando fomos recebidos na Assembleia da República pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Em 2012 fomos convidados a dançar na gala “Estrelas de hoje apresentam as estrelas do amanhã” no Lincoln Center em Nova Iorque. Todos os prémios de melhor escola na competição YAGP em Paris e Nova Iorque ao longo de vários anos. Quando a Margarita Fernandes venceu o Prémio Hope Award no YAGP Paris em 2017. O anúncio de António Casalinho como vencedor em todos os concursos mais importantes que se realizam no mundo: em Varna, Bulgária; no IBCC na China; no YAGP Paris, Barcelona e Nova Iorque; no Got Talent Portugal e no Prix de Lausanne. O Convite do director do Ballet Bolshoi para conhecer a sua companhia e a maneira como fomos, António Casalinho e Margarita Fernandes, recebidos. A proposta de trabalho como solista de uma grande companhia internacional, a Bayerisches Staatsballet em Munique, Alemanha, para António Casalinho e Margarita Fernandes, a minha filha, com apenas 16 anos de idade. Quando António Casalinho foi promovido a primeiro solista da companhia Bayerisches Staasballet em 2023. A proposta a Francisco Gomes como solista da Companhia Nacional Bailado que inicia agora a nova temporada 2023/2024.

Quantos alunos se tornaram profissionais?
Muitos alunos se tornaram profissionais na área da dança clássica e contemporânea. Hoje posso mencionar alguns. Podemos começar com aqueles que ficam em Portugal: Emma Sicilia na Companhia Nacional de Bailado e Francisco Gomes como solista na Companhia Nacional de Bailado. Reino Unido: Matilde Rodrigues na companhia do Birmingham Royal Ballet. Temos vários na Europa em diversos países. Alemanha: Margarita Fernandes e António Casalinho na Bayerisches Staatsballett em Munique. Áustria: Margarida Abreu na Europaballet. Bulgária: Pablo Navarro e Roberta Marques no Ballet Varna; Leonor Frade na Ballet Russes. Croácia: Justin Popa na Companhia de Ballet HNK em Zagreb. Espanha: Jaume Garcia no Ballet de Barcelona. Finlândia: Giulio Diligente no Finnish National Opera and Ballet. França: Maeva Marcolini na Ópera de Paris. Itália: Lara Machado. Países Baixos: Dulce Jordão na Dutch Don´t Dance Division. República Checa: João Gomes na Companhia Národni Divaldo em Brno; Margarida Gonçalves, Avril Wieland e Lucia Marti em Ballet DJKT Plzen bem como o João Xavier como solista. Roménia: Pedro Marques e Beatriz Reis na Sibiu Ballet Theatre. Fora da Europa na África de Sul temos a Maryana Pobuta e Maria João Maldonado no Cape Town City Ballet. Para os Estados Unidos irá o Tomás Martinelli para o Ajkun Ballet Theatre e está Dandara Amorim Veiga na companhia de Alvin Ailey em Nova Iorque.

Melhores alunos até à data?
Falar de melhores alunos é difícil. Temos tido excelentes alunos, cada um com características diferentes, cada um com seu talento. Podemos talvez falar em alunos que foram mais premiados ou reconhecidos nacional e internacionalmente, como António Casalinho, Margarita Fernandes, João Gomes, Matilde Rodrigues, Francisco Gomes, Laura Matos Viola e Margarida Gonçalves.

O que é a escola hoje?
Hoje somos duas escolas: Annarella Academia de Ballet e Dança que tem as suas instalações na Quinta da Alçada, edifício da Sociedade Columbófila de Leiria, onde recebemos alunos a partir dos três anos de idade. Oferecemos as mais variadas modalidades de dança. Este é um ensino lúdico para ocupar os tempos livres que tem como objectivo educar através da dança. E o Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sánchez que aceita estudantes a partir dos 10 anos de idade, que tem por objectivo o ensino da dança como formação de futuros bailarinos profissionais. Também temos o Programa Pré-Profissional, que consiste numa formação que pode ser de 6 meses até 3 anos para aperfeiçoamento de bailarinos. Em paralelo a este programa temos a Junior Company, CBCL- Companhia de Ballet Clássico de Leiria, que apresenta diferentes bailados clássicos de repertório no Teatro de Leiria [Teatro José Lúcio da Silva] mensalmente assim como em diferentes teatros de Portugal. Agora temos propostas para fazer digressão internacional, que é um dos próximos passos com a nossa jovem companhia.

Quantos alunos?
A quantidade de alunos é sempre rotativa, e são de diversas nacionalidades: do Japão, Macau, Austrália, África do Sul, EUA, México, Brasil, Colômbia, Reino Unido, Espanha, Itália, Ucrânia, Roménia, Turquia, França, Alemanha, Bélgica e, claro, Portugal. Os professores, alguns são residentes permanentes e outros convidados, também de diferentes nacionalidades: Cuba, México, Reino Unido, França, Itália, Rússia, Ucrânia, Dinamarca, Alemanha e Portugal.

O que se segue no futuro da escola?
Gostaria de construir um edifício de raiz, sempre na zona de eleição, Gândara dos Olivais, porque foi neste lugar que nos sentimos sempre apoiados pela Escola Secundária Afonso Lopes Viera, desde a direcção passada do professor e director Pedro Biscaia, assim como a actual directora Celeste Frazão. Quando falo de instalações novas e de um grande edifício, é porque gostaria de ter salas de aulas para estudos académicos, pois também temos um considerável número de alunos que frequenta a escola académica online. Também gostava de ter um refeitório com uma equipa especializada em elaborar pratos de alimentação saudável, poder ter um ginásio para bailarinos e um gabinete médico. Estou consciente que existem profissionais que gostariam de se juntar ao nosso projecto internacional e lanço o desafio para os interessados neste investimento.