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Há dez anos a ecOar na cabeça de Leiria

20 out 2016 00:00

Era para se ter chamado Perspectivar e tinha como objectivo criar uma oferta cultural em Leiria numa área que o público de então considerava próxima dos "desenhos aos quadradinhos".

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Jacinto Silva Duro

A ecO foi fundada em Setembro de 2006, com o objectico, entre outros, de explorar o mundo da banda desenhada, da ilustração e do cinema de animação.

Com a chegada do 10.º aniversário, em Setembro passado, a ecO - Associação Cultural de Leiria deixou de ser uma teórica associação juvenil e assumiu a maturidade de que já há muito gozava ao ser uma das principais protagonistas do bom momento cultural que Leiria vive desde há alguns anos.

"O nome é evocativo de 'ecoar'. Entre os 40 associados originais, surgiram uma série de designações, mas a escolhida foi esta", recorda Nuno Granja, o novo presidente do colectivo. Hoje, a ecO é mais conhecida por iniciativas como o Cinema Vadio, que oferece gratuitamente, à população da cidade a possibilidade de ver cinema de qualidade num dos espaços verdes de Leiria, com mantinha e pés, de molho no Lis, o Estilhaços, um festival de curtas, que é organizado em colaboração com a Fade In - Associação de Acção Cultural ou o ciclo de cinema documental Hádoc.

"A Vírus - Mostra de Banda Desenhada, Ilustração e Cinema de Animação de Leiria, foi a primeira iniciativa organizada pela associação, tendo sido, possivelmente, o maior evento que organizámos. Quisemos começar logo em grande. Tivemos duas edições, uma em 2008 e outra em 2009", recorda o presidente da Direcção.

A ideia original de contagiar a cidade com a Vírus foi sua e de Tânia Afonso, antiga proprietária do espaço Cinema Paraíso, no seguimento de uma quotidiana conversa em mesa de café. A vontade de querer organizar a mostra de BD foi o gatilho que originou a associação.

Do cinema e audiovisual às letras
A ecO não ficou apenas pela BD e ilustração, virando as suas atenções para outras áreas. Publicou a Perspectivas, que surgiu com o intuito de criar uma publicação de distribuição gratuita. Cada um dos números desta "revista" aperiódica tinha uma orientação diferente e o tema era livre.

"Não conseguimos defender que o acesso à cultura deve ser gratuito, mas também não deve ser todo pago e é importante conseguir fazer chegar um bocadinho dessa cultura", enfatiza Granja. Numa década de actividade, houve tempo para publicar um livro. O 5ecO10 apareceu no seguimento da experiência realizada com um dos números da Perspectivas.

Havia sido pedido a cinco escritores de Leiria, que escrevessem um postal, com um microconto a partir de uma fotografia, depois compilado nessa edição.

"Alguns desses escritores voltaram a ser convocados a participar na 5ecO10. Desafiámo-los a convidar músicos para musicarem um poema escrito por eles e ainda envolvemos ilustradores para criarem uma ilustração para esse poema. o resultado foi um livro com um CD, que pode ser lido e ouvido", conta Nuno Granja.

A vontade de voltar a trabalhar com imagem acabaria por, inevitavelmente, levar a ecO a juntar a fotografia analógica aos campos intervencionados. Aconteceram oficinas teóricas e práticas e, pouco a pouco, o bichinho da lomografia e da fotografia analógica contagiou não apenas os elementos do colectivo, mas também a cidade.

"O Bruno Luís e o Hugo Pereira foram muito importantes neste processo. Há pouco tempo, o Hugo conseguiu mesmo que fosse aberta uma representação oficial da Lomography Embassy Store, na Arquivo Livraria, onde continuam a ser feitas formações e exposições", afirma o presidente da Direcção.

Não obstante, um dos maiores motivos de orgulho da ecO é o festival de curtas, Estilhaços. Por quê? Pela união de esforços que lhe deu origem. Terá sido uma das primeiras parcerias e projecto de co-produção importante entre duas associações da cidade.

De um lado a Fade In, que organiza o mundialmente famoso festival gótico Entremuralhas, no Castelo de Leiria, e a ecO. Organizado, normalmente em Novembro, o evento junta música, artes plásticas, fotografia, palavra e literatura e, claro, cinema, durante dois dias no Teatro José Lúcio da Silva (TJLS).

A mostra de cinema que criou cinéfilos
O Hádoc, a chegar à sua sexta edição, também resulta do trabalho incansável do núcleo duro da ecO. O ciclo de cinema documental é um filho querido de Nuno Granja e António Madeira.

Conheceram-se quando a Divisão da Cultura da cidade resolveu auscultar alguns amantes de cinema com vista à criação de um cineclube local. Depois de algumas reuniões, a ideia foi abandonada, mas o embrião para a criação de outra coisa já estava em crescimento.

O resultado foi o Hádoc que, segundo o colectivo, conta já com um público fiel e regular, levando às cadeiras do Teatro Miguel Franco, em média cerca de 80- 100 espectadores por sessão.

"É cinema de qualidade, mas sabemos que estamos a trabalhar para minorias", sublinha o presidente da Direcção. Em parceria com o TJLS, acontece durante três meses, na primeira e terceira terças-feiras de cada mês, normalmente, ao longo do primeiro trimestre do ano.

No entanto, se o Hádoc acontece entre o final do Inverno e o início da Primavera, faltava algo que levasse o público a aproveitar as cálidas noites estivais. Com o rio Lis como cenário, a ecO transformou o Jardim da Vala Real em sala de cinema, onde o público leva uma mantinha para estender na relva, com o argumento de assistir a uma sessão de cinema de qualidade.

No primeiro ano, 2015, o Cinema Vadio ocupou dois dias de um fim-de-semana de Verão. Em 2016, o desafio colocado pela Câmara e pelo TJLS foi mais ambicioso. Durante todos os sábados de Julho, a ecO deveria animar o jardim com filmes, músicos, actividades para os mais novos e conversas sobre cinema. E animou.

"Tivemos muito mais público, nesta segunda edição, especialmente na sessão infantil, onde estavam cerca de 500 pessoas. Todas as sessões tiveram mais gente", resume Tiago Carvalho, outro elemento da Direcção da ecO.

Projectos futuros, depois destes primeiros dez anos de trabalho e entrega à causa pública, há muitos, mas os que a associação tem em mãos são, de momento a prioridade.

"Não tenho sonhos para a ecO. Tenho uma vontade que não sei se será um desejo e definitivamente não é um sonho que é a conseguir que a actividade revista um formato, pelo menos, semiprofissional. É complicado gerir uma associação e faz falta ter alguém com tempo, que não esteja a correr entre o trabalho e dos filhos”, resume Nuno Granja.

Dez anos de ecO
Há festa na sexta-feira

A festa do 10.º aniversário da ecO será, nas palavras do seu presidente "uma comemoração muito descontraída". Está marcada para sexta-- feira, dia 21, por volta das 23 horas, no Praça Café, em Leiria. A animação fica a cargo dos Gunslingers, que vão passar música e animar associados e não associados. Ao longo de 2017, haverá outros eventos pontuais que marcarão o aniversário.

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