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Há um rei louco no novo teatro do Leirena com música de Surma

29 out 2021 14:15

Em A Última Batalha, o rei D. Juan I de Castela continua obcecado com o desejo de se tornar senhor de Portugal, mesmo após a morte

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Nova produção do Leirena estreia este fim-de-semana
Carlos Gomes

Como se comportariam Hitler, Franco ou Mussolini no Purgatório? A pergunta de Frédéric da Cruz Pires surge durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA sobre a nova produção de teatro do Leirena, que estreia sábado, no concelho de Porto de Mós.

Em A Última Batalha, o rei D. Juan I de Castela, que se apresenta, precisamente, no Purgatório, continua obcecado com o desejo de se tornar senhor de Portugal, mesmo após a morte e muitos séculos depois da batalha de Aljubarrota. Quatro generais, também castelhanos, tentam demovê-lo do absurdo apego ao poder, a fim de todos evitarem o desaparecimento e o vazio.

Com direcção artística e encenação de Frédéric da Cruz Pires, que também assina a cenografia, A Última Batalha tem música original de Débora Umbelino (Surma) intepretada ao vivo.

A apresentação estava prevista para a Praça da República, em Porto de Mós, ao ar livre, mas, por causa da meteorologia, deverá acontecer num espaço fechado: a Casa da Cultura de Mira de Aire, às 21:30 horas.

No espectáculo, o cenário manipulado pelos actores ocupa um lugar de destaque na trama, enquanto os sons criados por Surma participam no diálogo para reforçar o ambiente de cada situação e pontuar os estados de alma das personagens.

Além de Carlos Vieira, Carolina Ventura, Inês Valinho, Luís Mouzinho e Sofia Ramos, o elenco conta com a bailarina Matilde Cruz.

“Não é uma ópera, não é um musical”, é, segundo Frédéric da Cruz Pires, “um espectáculo completo”, provavelmente, “um dos mais arrojados que o Leirena fez em termos de estética e concepção” e “um dos melhores da companhia” até hoje.

“Procuro que os quadros cénicos sejam mesmo quadros, como se fossem uma tela, como se fossem pinturas”, explica o encenador, sobre A Última Batalha, em que assume a exploração do teatro expressionista, do teatro do absurdo e do teatro físico para chegar a um sublinhado “poético e visual”.

Criado em co-produção com o Município de Porto de Mós no âmbito da Rede Cultural Aljubarrota 1385, o espectáculo A Última Batalha do Leirena não é apresentado como recriação histórica daquele momento da história de Portugal, mas como ficção não medieval construída através de uma linguagem mais física com o objectivo de, por um lado, alcançar maior contacto com o público, e, por outro, estabelecer uma ligação com o Festival Teatro de Rua de Porto de Mós, um projeto de teatro comunitário da autoria do Leirena.

A companhia dirigida por Frédéric da Cruz Pires, com sede em Leiria, espera agora que a nova produção venha a circular pela capital de distrito e também por Batalha e Alcobaça, antes de entrar em itinerância, no próximo anos.