Viver
Hádoc para sentir e pensar
Festival de cinema documental começa a 4 de Abril em Leiria e estende-se até Junho
A lista de partida inclui dezenas de obras, antes de se chegar à selecção final, de apenas sete. “O critério transversal é que os programadores do Hádoc, enquanto público, sejam eles próprios afectados pela experiência do filme que acabaram de visualizar. Tem de haver reacção. Algum tipo de alvoroço intelectual ou emocional”, comenta Nuno Granja, responsável, com António Madeira, pela 12ª edição do festival de cinema documental, que tem apoio do JORNAL DE LEIRIA e é organizado pela associação ecO.
A temporada volta a abrir com um encontro entre a música e a sétima arte: Hallelujah: Leonard Cohen, uma Viagem, uma Canção, de Daniel Geller e Dayna Goldfine, para ver no Teatro Miguel Franco, em Leiria, a 4 de Abril, depois das 21:30 horas.
As sessões prosseguem até 27 de Junho, na mesma sala e no mesmo horário, ou seja, durante três meses, com exibições, tipicamente, de 15 em 15 dias.
Como em edições anteriores, o programa também inclui filmes que se debruçam sobre o ambiente, a economia e os conflitos ou questões sociais, porque o Hádoc mantém o objectivo de ser um impulso de debate e reflexão.
“Esta vontade de promover a discussão e estimular o pensamento crítico são efectivamente o motor para continuarmos”, diz Nuno Granja. “Talvez mais do que nunca, com a quantidade de informação que está disponível para o cidadão comum e cujo excesso e superficialidade por vezes se traduzem em desinformação, é relevante existirem espaços onde se possa ter acesso a outras formas de comunicar e aprofundar o conhecimento de (outras) realidades. Programar filmes que abordem temas actuais e que despertem para a diferença ou que nos façam olhar para nós e o mundo de forma mais ponderada, é uma estratégia para lutar contra [a] desinformação”.
Por outras palavras, há muito cinema além do visionamento. “Este é um caminho, aliás, que em termos do projecto do Hádoc, ainda tem muito para ser trilhado”, reconhece a organização. “Falta-nos orçamento, tempo e disponibilidade (e talvez método) para estimular essa troca de ideias no final dos filmes. Mais do que salas cheias, a batalha é ganha quando, no fim da sessão, o público se junta no foyer ou na rua, junto à porta do Teatro, porque sente necessidade de conversar sobre o que viu e dizer o que pensa e sente. É isso que faz tudo valer a pena”.
Importantes para a compreensão da actualidade são, desde logo, A Retirada,de Matthew Heineman, uma análise aos últimos meses das forças armadas americanas na guerra do Afeganistão, e O Território, de Alex Pritz, acerca da extracção ilegal de madeira e minerais no espaço de povos indígenas.
Há ainda cinema independente e de autor (A Loja de Penhores, de Łukasz Kowalski, e Périphérique Nord, de Paulo Carneiro) e dois nomeados aos Óscares (Tudo o que Respira, de Shaunak Sen, e Amor Vulcânico, de Sara Dosa).
Todos os anos, o cartaz do Hádoc tem incluído nomeados aos Óscares, o que, na perspectiva de Nuno Granja, não significa que sejam obras “necessariamente mais interessantes ou mais prementes”, mas, “normalmente têm boas produções e algo de diferenciador”.
“A indústria já tem a coisa bastante afinada. Não fazemos questão que os filmes que passamos tenham esse “selo” da Academia de Hollywood, mas de alguma forma isso pode ser apelativo para algum público”, concede.
Programa Hádoc 2023
4 de Abril: Hallellujah: Leonard Cohen, uma Viagem, uma Canção
18 de Abril: Tudo o Que Respira
2 de Maio: O Território
16 de Maio: A Loja de Penhores
30 de Maio: A Retirada
13 de Junho: Périphérique Nord
27 de Junho: Amor Vulcânico
Sessões no Teatro Miguel Franco, às 21:30 horas