Hugo Borges liderou bombeiros portugueses nos incêndios do Canadá

Estávamos no dia 14 de Junho quando a Força Operacional Conjunta portuguesa partiu para o combate aos fogos florestais no Canadá. A missão de auxílio foi formada por 140 operacionais, prontos a ajudar os canadenses a travar os incêndios que fustigavam o país da América do Norte.

A Hugo Borges, comandante da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Batalha (AHBVB), coube a liderança dos 38 bombeiros portugueses integrados na missão, originários da Região Centro e da Região Autónoma da Madeira.

“Foi uma liderança facilitada porque os bombeiros portugueses já estão habituados a estes desafios. A nível operacional e de motivação do pessoal não senti dificuldades”, começa por afirmar Hugo Borges, comandante dos BVB há cerca de um ano.

Aquando da chegada ao Canadá, além de uma pequena formação sobre segurança, designadamente sobre os animais daquela zona florestal e dos perigos dos animais de grande porte, os bombeiros inteiraram-se da situação dos fogos florestais e dos procedimentos e técnicas de abordagem aos incêndios naquele país.

“Em Portugal costumamos estar mais no combate directo aos fogos, enquanto no Canadá há um combate mais indirecto. Outra diferença é que naquele país não combatem os fogos à noite, e nós em Portugal usamos precisamente a humidade da noite para combater os incêndios. Apesar destas diferenças, adaptámo-nos bem”, assegura Hugo Borges.

No Canadá os operacionais encontraram um “território com uma dimensão enorme”.

“Quando lá chegámos o incêndio mais pequeno já tinha 15 mil hectares ardidos. São áreas muito extensas, sem caminhos, com muitos lagos e vegetação muito densa. São áreas que tinham de ser vistas com recurso a helicópetros”, revela.

Entre as várias missões dos bombeiros destacaram-se o reforço e operacionalização das linhas de defesa à população e o combate e consolidação de pontos quentes.

“Para todos os bombeiros foi um orgulho representar o País. Partilhámos estratégias, conhecimentos e tecnologias, e foi muito enriquecedor”, realça o comandante.

A Força Operacional Conjunta portuguesa, destacada ao abrigo do Mecanismo de Protecção Civil da União Europeia, além dos bombeiros, integrava elementos da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, da Força Especial de Protecção Civil, da Unidade de Emergência de Protecção e Socorro, da Guarda Nacional Republicana, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e do Instituto Nacional de Emergência Médica.

Melhorar as condições dos operacionais é a prioridade

Com 37 viaturas, entre transporte de utentes, veículos de socorro e veículos de combate a incêndios, e 118 operacionais na corporação, Hugo Borges tem como principal prioridade “assegurar as melhores condições”.

“Esses são os nossos principais desafios, melhorar as condições do quartel, assegurar os equipamentos de protecção. A nossa prioridade são os nossos recursos humanos”, afirma o comandante. A captação de mais operacionais, sobretudo jovens, é outro dos grandes desafios enfrentados.

“O País e o mundo estão a mudar muito. A vida hoje em dia é muito mais stressante, há muito mais actividades e menos tempo para o voluntariado. Neste contexto, a profissionalização da primeira intervenção é muito importante”, salienta Hugo Borges.

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Batalha detém três equipas de intervenção permanente (EIP), com perto de 40 bombeiros profissionais. Entre as principais actividades da corporação contam-se a emergência hospitalar, o socorro às populações em caso de acidentes ou catástrofes, o combate a incêndios, o treino para missões, entre outras, sem esquecer também o apoio em eventos de associações, do município e de empresas, e a realização de formações e palestras. Ainda que conte com perto de 40 bombeiros profissionais, “é o voluntariado que assegura a sustentabilidade da corporação, o pilar da nossa casa”.

“Até porque mesmo os bombeiros profissionais, depois são igualmente voluntários.” A AHBVB promove cerca de uma recruta por ano, entrando em média para a corporação entre cinco a 10 elementos.

“Na verdade, até parece que estamos em contraciclo, porque temos conseguido motivar e cativar as pessoas para a nossa corporação. As coisas estão a fluir bem”, afirma Hugo Borges, num balanço do seu primeiro ano enquanto comandante, depois de ter assumido também a função de sub-comandante