Economia
Incêndios, contra-safra e calor fazem cair produção de azeite
Olival | Já se esperava uma baixa na produção de azeite, mas, até agora, os números são piores do que as primeiras estimativas e a colheita deverá estar terminada em Dezembro
“Fraca.” É assim que a colheita deste ano de azeitona é descrita pelos responsáveis dos lagares contactados pelo JORNAL DE LEIRIA para um balanço da safra deste ano. Após, em 2021, se terem batido recordes de produção, o cenário não é animador, devido à seca, às vagas de calor e a incêndios, que, nalgumas zonas, devoraram oliveira atrás de oliveira, provocando um prejuízo que se repercutirá durante anos.
Na zona da Serra de Sicó, a produção foi, sem surpresas, baixa, fazendo diminuir a expectativa de colheita que, em ano de contra-safra, já não era muito grande. Os olivicultores conhecem bem as manhas da natureza e sabem que, após um ano de abundância na frutificação das oliveiras e de boa safra, segue-se um ou mais de frutificação reduzida, ou “contra-safra”.
“No ano passado, de meia-dúzia de oliveiras, tirei quase 3.500 quilos. Este ano, fiquei pelos 75. Nem valeu o esforço de as guardar para a água [para conserva]”, diz Pedro Mendes, olivicultor da Almagreira, Pombal, apontando para os olivais num horizonte, onde o pico da Serra de Sicó domina.
Do outro lado dessa elevação, no lagar da Lagoa Parada, zona muito afectada pelos fogos de Julho que queimaram muito olival, Elisabete Domingues recorda as filas em 2021, com gente que vinha do concelho de Ansião, mas também do de Pombal.
“Esse foi um ano de azeitona e azeite de qualidade. Trabalhámos quase 24 horas por dia”, conta.
Este ano, já com a azeitona a cair das oliveiras, seca como passas, a safra começou logo em Setembro. A temporada começou mais cedo, antes que a chuva derrubasse o pouco que ainda se encontrava nos ramos.
“Apesar de tudo a azeitona que nos está a chegar é pouca, mas é de qualidade”, garante Elisabete Domingues.
Na ponta Sul do Maciço Calcário Estremenho, na Pia do Urso, Zulmiro Pedro gere o único lagar do concelho da Batalha que ainda se mantém em funcionamento. Mas a falta de concorrência não o livra de afirmar que se trata de “um ano praticamente para esquecer”.
“Disseram-me que, na zona de Pombal, alguns lagares nem abriram”, confidencia. No Lagar da Pia do Urso, este ano, trabalha-se um dia, folga-se no seguinte.
“A este ritmo, teremos tudo apanhado até Dezembro.”
No ano passado, por esta altura, o trabalho estendia-se quase 24 horas por dia. A maioria dos olivicultores sabe que a cura com fitofármacos é de evitar, mas nem isso valeu a quem se atreveu a aplicar “o produto” nas oliveiras.
A flor primeiro e depois a azeitona caíram ao solo.
Um ano melhor do que 2020 e 2021
Apesar do cenário pouco animador, o impacto do mau ano agrícola parece não ter chegado com a mesma força a todo o lado.
Com três semanas de campanha, no Meirilagar, nas Meirinhas, concelho de Pombal, a safra está a ser melhor do que o antecipado.
“Estava convencida de que iríamos receber muito menos quantidade, devido às adversidades do último ano, em especial os incêndios e a seca”, diz Alice Portela, sócia-gerente desta unidade de produção que opera no concelho de Pombal e nas freguesias do norte do de Leiria.
Ali, 2019 foi um “ano bom” e 2022, prevê a responsável, será melhor do que 2020 e 2021 combinados.
“Apesar disso, já recusámos muita azeitona por não estar em boas condições e por não cumprir, além da acidez, todos os parâmetros químicos de qualidade.
O Meirilagar, adianta a sócia-gerente, está a apostar na instalação de olival tradicional, na freguesia das Meirinhas e localidades vizinhas, além de promover e incentivar outros agricultores a seguirem o seu exemplo e a aumentar a produção.
“É a única via para a afirmação da nossa região, enquanto zona de referência na produção de azeite, a nível nacional e internacional.”
A aposta da empresa fundada em 2017, é, adianta, inserir Pombal no mapa das zonas de Denominação de Origem Protegida de produção de azeite.
Colheita terminada até final do ano
Produção deverá ser de apenas 75 mil toneladas
O armazenamento da produção do ano passado, a que se soma o de anos anteriores, é grande e tudo indica que haverá resposta para a procura, mesmo que outros países produtores, como Espanha e Itália, registem igualmente quebras na produção de azeite.
No país vizinho, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional (COI), a quebra é de 50% e na Itália 30%.
No ano passado, a produção foi de cerca de 200 mil toneladas, “um máximo histórico”, com 700 milhões de euros em exportações. Um ano depois, o volume que deverá ser produzido rondará apenas 75 mil toneladas.
“No ano passado, apesar da boa colheita, o preço do azeite manteve-se, mas agora está a subir. Está em cerca de seis euros por litro, em média”, afirma Zulmiro Pedro.
Em Portugal, a colheita, por regra, termina em Janeiro, mas o gerente do Lagar da Pia do Urso, acredita que tudo estará colhido e transformado em azeite, ainda antes até final de Dezembro.