Sociedade

Investigador de Leiria ganha bolsa milionária

8 set 2016 00:00

Mais de um milhão de euros foram atribuídos a Francisco Freire para estudar as mais recentes adaptações políticas das populações de língua árabe do ocidente saariano.

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Quando leu Terra dos Homens, de Saint-Exupéry, Francisco Freire ficou com a certeza de que as sensações que tivera em Nouakchott eram partilhadas por muitos. As primeiras visitas que fez à capital da República Islâmica da Mauritânia deixaram-no rendido. Não com qualquer característica física da cidade, nem com a dimensão impressionante do deserto que isola a urbe.

O que realmente o impressionou foram as idiossincrasias das populações. Tão simples, mas tão cheias. “Pessoas tão desprovidas de bem materiais, mas culturalmente tão ricos”, sublinhou o investigador de Leiria. “Nouakchott é uma terra sem nada, sem árvores, sem belezas naturais, sem confortos materiais, mas as populações são muito bonitas.”

Depois de um período grave de seca, no final dos anos 70 do século passado, as populações foram “sedentarizadas”, mas guardam algumas “características apaixonantes”, como a “profunda literacia das suas classes religiosas” e a “riqueza cultural das famílias de griots” – os nossos jograis, músicos e poetas. Chega a ser comum ver pessoas a passear de livro na mão, algo que, no nosso contexto ocidental, não é propriamente comum.

Doutorado em Antropologia, Francisco Freire viaja há década e meia para a zona oeste do deserto do Saara, onde tem vindo a trabalhar academicamente sobre as populações desta região.

Quando era estudante de licenciatura começou a trabalhar em projectos em Marrocos e a interessar-se mais pelo mundo muçulmano. No momento em que decidiu avançar para o mestrado decidiu seguir para sul, para a Mauritânia, onde tem centrado a investigação até hoje.

Agora, com o projecto Abordagens críticas à política, activismo social e militância islâmica na região ocidental do Saara, foi um dos seleccionados para receber uma bolsa do prestigiado Conselho Europeu de Investigação (ERC), já recebida em anos anteriores por nomes firmados da ciência portuguesa, como Elvira Fortunato.

“Fiquei surpreendido e agradado. Era um concurso dificílimo, de tal forma que em três mil candidaturas deram 50 bolsas”, salientou. A ERC Starting Grant é uma bolsa para indivíduos com doutoramento concluído até há sete anos. Francisco estava no último ano desse prazo e não poderia concorrer mais.

O valor do financiamento para este projecto de quatro anos ascende a 1,192 milhões de euros. Em Portugal foram atribuídas mais duas: uma para estudar a história da cartografia náutica medieval, a outra para abordar memórias da guerra colonial.

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