Sociedade

Joaquim Quintino Aires: “Homossexualidade é a principal causa de suicídio na adolescência em Portugal”

21 jan 2016 00:00

O psicólogo considera que os jovens estão hoje mais ignorantes em relação ao sexo e que, de forma geral, os portugueses têm uma cobardia incrível até para explorar o seu próprio corpo

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Daniela Franco Sousa

E se eu lhe lançar um piropo? Vou presa?
Parece que a lei quer que vá. Mas era mau para os dois. Para si, que ficava presa. E para mim, que no futuro já não os ia ter.

Afinal, que problema tem o piropo para a integridade da mulher?
O piropo não tem problema nenhum. As pessoas que proibiram o piropo é que têm perturbação grave da personalidade.

As portuguesas não se masturbam nem vêem pornografia. Que verdade há nesta afirmação?
Pouca. Felizmente já vêem bastante pornografia e também já se começam a masturbar. Não o fazem com muita arte. Mas vão fazendo. Não fazem com arte... porquê? Por desconhecimento. Na semana passada, na Hora do Sexo, na Antena 3, todos os dias eu e a Raquel Bulha fomos pedindo aos ouvintes que nos enviassem desenhos de vulvas, fossem eles feitos a computador ou no papel, a lápis de carvão. Com esse pedido, a ideia foi falar sobre o facto de nem a mulher conhecer a anatomia da sua própria genitália. Portanto, se não conhece... Ainda recentemente me pediram para divulgar um livro de educação sexual. A primeira coisa que fui ver era o que explicavam sobre a vulva, sobre os grandes lábios, e eles nem sequer estavam desenhados. Ora essa é uma das zonas onde a mulher tem mais prazer. E se até nos esquecemos que eles existem...

São os efeitos de uma educação religiosa?
Aqui a religião não é a culpa, é a desculpa. Nós temos um medo horroroso do sexo, porque temos um medo horroroso de falhar. Temos um medo terrível do desconhecido onde se possa falhar. Então, arranjamos uma desculpa, como por exemplo que a religião não permite, para não fazer e para não querer descobrir mais. É o medo de falhar coisas que não dominamos, que não controlamos. Nós não arriscamos. É um contraste enorme pensar nos navegadores no tempo das Descobertas e nos portugueses actuais. Acho que até é um insulto. Quando nós hoje em dia os evocamos, eles até devem dar 500 voltas na campa. Eles caracterizaram-se pela coragem e nós pela cobardia. Até para explorar o nosso corpo nós temos uma cobardia incrível.

O que revelam best sellers como As Cinquenta Sombras de Grey sobre a nossa sexualidade?
Uma vergonha para a sociedade. Procuramos lá aquilo que não conseguimos encontrar. E aquilo que lá está é tão poucochinho, tão poucochinho, que é uma desilusão. Se ficamos excitados com As Cinquenta Sombras de Grey, veja-se a desgraça, a pobreza que é a nossa sexualidade.

A crise também empobreceu a vida sexual dos portugueses?
Não. Não empobreceu, porque não nos deixou assim tão privados. E ainda bem que não deixou. Mas se a crise nos tivesse deixado um pouco mais privados, talvez passássemos um bocadinho mais de tempo com o nosso corpo e menos com os jogos electrónicos com os quais a gente não tem grandes sensações eróticas.

O sexo não estará a ser também sobrevalorizado? Até que ponto não querer fazer sexo é realmente um problema?
É uma doença grave. No livro Cosmos, Carl Sagan faz referência a um estudo muito interessante, com resultados apurados entre 400 sociedades, onde se mostra que o não sexo é a origem da violência entre os humanos. As sociedades mais agressivas são as do não sexo. As sociedades onde há sexo e masturbação, na adolescência e antes do matrimónio, são sociedades sem violência. Diga não à violência, faça sexo.

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