Desporto

Leiria lança projecto inédito para livrar o futebol jovem de maus comportamentos

13 out 2017 00:00

Associação de Futebol de Leiria avança com programa original que visa fazer do desporto jovem um muito melhor local para crescer. O 'Saber estar no futebol' quer alertar pais, treinadores, dirigentes e árbitros, e defender o percurso dos mais novos.

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Há uma linha que não se pode pisar. Pais que agridem árbitros, pais que agridem outros pais, pais que pressionam treinadores, pais que pressionam os filhos, treinadores que não metem os miúdos a jogar, miúdos que abandonam precocemente a prática desportiva.

As últimas temporadas têm sido ricas em comportamentos inadmissíveis em jogos dos escalões mais novos, onde o mais importante deveria ser o divertimento e não tanto a competição.

Os problemas estão de tal forma disseminados que é difícil apontar clubes mais problemáticos do que outros. São dificuldades, umas mais recorrentes do que outras, que preocupam – e muito – toda a pirâmide do futebol português.

A situação parece estar a ganhar dimensão e Carlos Martins, vice-presidente da Associação de Futebol de Leiria, achou que tinha de ser feita alguma coisa em defesa do jovem praticante.

E foi assim que, em 2015/16, começaram a ser dados os primeiros passos do Saber estar no futebol, um programa “absolutamente inédito” no País e que recentemente recebeu o Prémio de Ética Desportiva do Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED).

“Estavam a aumentar os comportamentos inadequados, de quase todos os agentes, mas mais do público. Por isso, a Associação de Futebol de Leiria decidiu lançar este projecto. Um dos objectivos é apoiar o atleta jovem e tentar que não abandone precocemente, qualquer que seja a razão. Os miúdos chegam a um ponto em que já têm a pressão na escola, de serem aceites socialmente, das redes sociais e se no desporto que eles mais gostam também sentem pressão, então tudo se torna mais complicado”, explica o mentor do projecto.

“Sou professor e costumo dizer que, nestas idades, os miúdos são uma esponja. Interagem com a família, colegas, adversários, treinadores, árbitros e directores, e se estão a aprender com maus exemplos, não estamos a formar bons desportistas”, adianta Carlos Martins.

“No futebol podem aprender a respeitar o outro e as normas da sociedade, podem aprender a ganhar, mas também a perder.” E meteram mãos à obra, à procura de pistas que indicassem o melhor caminho a seguir.

Realizaram sessões com treinadores e dirigentes de 36% dos clubes e distribuíram 7.500 livros produzidos pela Associação relativos ao código de ética e ao cartão branco, que premeia atitudes de fair play. Foi feito um inquérito anónimo a treinadores e dirigentes e, a partir das sugestões, “começou a tornar-se evidente de onde vinham os problemas”.

“Uma das causas que está bem retratada é a chamada campeonite. São os próprios pais, de miúdos de 7, 8 e 9 anos, idades em que não existem classificações, que fazem essas tabelas, situação que também acontece em alguns sites e jornais”, explica o responsável.

De norte a sul

A época 2016/17 começou com a apresentação do projecto à Federação Portuguesa de Futebol, que logo demonstrou vontade em apoiar. Acompanhado pelo psicólogo, pai e antigo treinador Fernando Ferreira, Carlos Martins realizou mais de duas dezenas de sessões de apresentação do projecto em clubes de norte a sul do distrito. No total, 521 encarregados de educação estiveram presentes nessas sessões.

“Agora é importante estabelecer pontos de diálogo e reflectir em conjunto. Fala-se de comportamentos, mas ninguém faz o que quer que seja. Estamos a tentar estabelecer pontes e moer preconceitos. Todos temos a aprender uns com uns outros. Ouço os árbitros e entendo o que eles querem dizer, os treinadores também e os pais também. Sabemos que o conflito é latente, mas não o eliminamos porque não nos sentamos para conversar”, diz Fernando Ferreira.

“Não estamos ali para dar lições de moral, mas para alertar”, sublinha Carlos Martins, que sabe que os encarregados de educação que estiveram presentes nas sessões não são, na sua esmagadora maioria, os mais problemáticos dos 24 clubes por onde passou. “Vão os mais interessados, mas temos a perfeita noção de que não vai mudar comportamentos de um dia para o outro. É apenas uma semente que esperamos que germin

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