Autárquicas 2025
Leiria: Num debate com casa cheia, houve troca de ideias, de presentes e de farpas
Habitação, mobilidade, saúde e segurança foram os temas em destaque, num debate que juntou os oito candidatos à Câmara de Leiria
Foi com casa cheia que encerrou o ciclo de debates autárquicos promovido pelo JORNAL DE LEIRIA, com o último, realizado esta segunda-feira à noite, a juntar os oito candidatos à Câmara de Leiria no Mercado de Sant’ Ana. Num debate centrado nas questões da habitação, mobilidade, saúde e segurança, houve troca de ideias, mas também de presentes e de farpas, estas tendo quase sempre como alvo Gonçalo Lopes, candidato do PS e actual presidente da câmara.
Ditou o sorteio que fosse, precisamente, o cabeça-de-lista socialista a abrir o debate, que começou por abordar o tema da mobilidade. Com todos os candidatos a concordarem com a necessidade de reforçar o Mobilis, de construir mais parques de estacionamento e de abolir as portagens na A19 e em parte da A8, no troço entre Marinha Grande e Leiria (incluindo o antigo IC36), houve divergências noutras propostas, como o projecto de Metro.
Gonçalo Lopes defendeu um metro bus, “semelhante a Coimbra e a Braga”, com recurso a “autocarros eléctricos a circular em vias dedicadas”, alegando que é uma solução “mais económica” do que o metro de superfície, proposto pela Iniciativa Liberal (IL) e pelo PSD, que considerou um projecto “megalómano”.
“Os alemães, os franceses e os belgas, por exemplo, não são megalómanos”, ripostou, mais à frente, Paulo Ventura da IL, garantindo que a proposta que apresenta “está estudada” e é “viável” e “sustentável”, também do ponto financeiro.
Já Sofia Carreira (PSD) frisou que o projecto do metro “não pode ser pensado apenas no âmbito da Linha de Alta Velocidade (LAV) para Leiria e para a Barosa”, mas tem de abranger as “freguesias vizinhas e também a Marinha Grande. A social-democrata disse ainda que “não é aceitável que o município, que tem um orçamento de 140 milhões de euros (ME) dedique apenas 2 ME ao transporte público”.
Assumindo “não acreditar em metro bus ou em metro de superfície”, que também classificou como “projectos megalómanos”, Nuno Barroso (ADN) propôs a aposta em mini-autocarros, de preferência híbridos, para assegurar a ligação entre freguesias e Leiria. O candidato defendeu ainda a gratuitidade dos transportes públicos. Esta é uma medida também preconizada por José Peixoto, cabeça-de-lista da coligação Avançar Leiria (BE, PAN e Livre), apologista da municipalização da rede Mobilis e que se opõe ao investimento num sistema de metro, “um projecto que dá nas vistas, mas que custa muito dinheiro”.
Nuno Violante (CDU) disse que é preciso “reformular a rede de transportes públicos”, reforçar a mobilidade pedonal em algumas freguesias e aproveitar a oportunidade trazida pela LAV para “planear a cidade”.
Identificando a mobilidade como “um problema que os leirienses estão a sofrer na pele”, Luís Paulo Fernandes (Chega) saiu em defesa das abolição de portagens e desafiou o PS e o PSD a aprovaram na Assembleia da República o projecto de lei que, como deputado, apresentou em Julho.
Soluções diversas para a habitação
Na habitação os candidatos foram unânimes em apontar esta como uma área prioritária, mas divergiram nas soluções. Nuno Barroso (ADN), que abriu a ronda, sugeriu a criação de “uma unidade de fiscalização de prédios devolutos” e a aposta na sua reabilitação.
Já Branca Matos (CDS-PP) defendeu a aquisição de terrenos por parte do município para construção de habitação a custos controlados – o mesmo sugeriu o candidato da CDU - e o reforço das residências para estudantes, eventualmente, através do reaproveitamento de unidades hoteleiras devolutas em Monte Real.
Por lado, Nuno Violante (CDU) acusou o actual executivo de “desprezar” o problema da habitação e de “falta de iniciativa para captar fundos do PRR” para esta área, lamentando que a estratégia local para o sector, além de “pouco ambiciosa, não tenha sido concretizada”. “Previa-se a construção de 50 casas. Fizeram-se cinco e recuperaram-se 30”, apontou.
O candidato da IL preconiza a constituição no município de um ‘gabinete de construção 2.0”, que reduza a burocracia dos processos de licenciamento, bem como a deslocalização da ‘prisão-escola’ e a construção nesses terrenos de residências estudantis, forma a libertar as casas ocupadas por estudantes para as famílias. Lamentou ainda que a antiga pousada da juventude, que passou para a tutela da câmara, não seja usada para alojamento estudantil, em vez de servir para ampliar a biblioteca.
Criticando a “ausência de estratégia e de trabalho” feito pelo actual executivo na área da habitação, Sofia Carreira explicou que a proposta do PSD para construir mil fogos a custos controlados “pensa Leiria não a quatro ou oito anos, mas como líder de uma grande área metropolitana”. Especificou ainda que essa habitação será também para as freguesias, contribuindo para “criar novas centralidades”.
“Vamos fazer casas para quem?”, questionou o candidato do Chega, para quem essa não é uma responsabilidade da câmara. No seu entender, o papel do município é de planeamento, não permitindo “a construção desenfreada junto a estradas, que depois vai hipotecar o futuro, impedindo o alargamento de vias”. Defendeu também a alteração do PDM e a fiscalização à Lei dos Solos.
Respondendo às críticas, Gonçalo Lopes disse que, no último mandato, a estratégia do executivo na área da habitação passou pela reabilitação do parque habitacional da câmara, centrada nos bairros sociais, e no apoio ao arrendamento, que está a chegar a cerca de 250 famílias. “Menos de 1% da população leiriense apoiada”, contrapôs Sofia Carreira. “É uma medida rápida e eficaz”, justificou o candidato socialista, que se comprometeu, caso seja eleito, a construir 500 novas casas de habitação pública, a executar, em duas fases, até 2030.
‘Vouchers’ para consultas e cartão de saúde
De acordo no diagnóstico quanto ao (mau) estado da saúde no concelho, onde há cerca de 40 mil pessoas sem médico de família, os candidatos apresentaram receitas diferentes para o problema. Por exemplo, Branca Matos propôs a atribuição de ‘vouchers’ por parte da câmara, para comparticipar consultas de urgência no sector privado, enquanto Nuno Violente defendeu apoios para a fixação de profissionais de saúde.
Sublinhando que esta é uma área da “responsabilidade do Estado Central”, Paulo Ventura pediu um maior envolvimento dos privados na solução. Já José Peixoto criticou o programa Bata Branca, que considerou “extremamente injusto, porque, para termos médicos aqui, vamos tirá-los de outro lado”, e assinalou a importância de se actuar na prevenção, com programas de promoção da saúde, “diminuindo a afluência às urgências”. Alertou ainda para a necessidade de reclamar junto do Governo a ampliação e remodelação do hospital.
Sofia Carreira atirou culpas aos governos socialistas pelo estado a que chegou a saúde no concelho e no País e apontou como prioritário o reforço dos cuidados de saúde, de forma de “aliviar a pressão sobre o hospital”, sem apontar medidas concretas. Para Luís Paulo Fernandes, a solução está em exigir “respeitinho” ao Governo, reclamando melhores cuidados de saúde.
Por seu lado, Gonçalo Lopes saiu em defesa do trabalho feito, nomeadamente, do programa Bata Branca, que já garantiu 50 mil consultas a utentes sem médico de família, e ao investimento em seis novos centros de saúde (três já concluídos e outros tantos em execução”. Se for reeleito, o candidato do PS quer, no próximo mandato, criar um cartão municipal de saúde, que garanta o acesso a consultas, sobretudo, a quem não tem médico de família.
Polícia municipal divide opiniões
Na área da segurança, um dos temas que dividiu opiniões foi a criação da polícia municipal, com os candidatos do PS, IL e CDS-PP a manifestarem-se a favor da medida, enquanto PSD e CDU alegaram que a mesma não vai resolver as questões de insegurança.
O candidato da CDU lamentou ainda a “histeria” em torno da segurança no concelho, “que serve alguns interesses”, sendo secundando nesta opinião pelo cabeça-de-lista da coligação Avançar Leiria, que alertou, no entanto, para a necessidade de combater a violência doméstica e os crimes ambientais.
Já Paulo Ventura criticou o recente programa municipal para apoiar o reforço da segurança dos estabelecimentos comerciais. “Não gostava de ver a cidade de Leiria com grades em todo o lado, como no Rio de Janeiro”, disse. Sofia Carreira acusou o executivo de não ter reclamado, em devido tempo, a redução de efectivos das forças de segurança e lamentou o arrastar dos processos para dar “condições condignas” à PSP e GNR.
“Não sinto que tenha falhado aos leirienses em matéria de segurança. Demos o máximo do que temos ao nosso dispor para colmatar as deficiências”, contrapôs Gonçalo Lopes, que, além da criação da polícia municipal, quer reforçar o sistema de videovigilância, “não só na cidade, mas também nas freguesias”
Luís Paulo Fernandes e Nuno Barroso defendem maior controlo na atribuição de atestados de residência. Questionado se associava as questões de insegurança ao aumento da imigração, o candidato do Chega respondeu: “Não temos nada contra ninguém”.
À margem
Ventura “bom”
A determinado momento, o cabeça-de-lista do Chega dirigiu-se ao da Iniciativa Liberal como o “candidato Ventura”. “O Ventura bom”, ripostou Paulo Ventura.
Troca de lembranças
O candidato da IL ofereceu a Gonçalo Lopes (PS) uma camisola azul, cor representativa do partido liberal escolhida também pelos socialistas para a campanha em Leiria. Em troca, recebeu uma caneta.
Tamanho do logotipo
O tamanho do logotipo do PS nos cartazes foi assinalado durante o debate. “Pequeno, mas o suficiente para quem quiser o nosso projecto saber onde votar”, disse Gonçalo Lopes.