Viver

Manel Cruz: "Se calhar ando mais à procura da imperfeição do que da perfeição"

19 jun 2019 00:00

Vida Nova este quarta-feira no palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.

manel-cruz-se-calhar-ando-mais-a-procura-da-imperfeicao-do-que-da-perfeicao-10377

Está de volta aos palcos, com o álbum Vida Nova, depois de um vazio criativo. Em paz com os seus próprios fantasmas e à procura de se encontrar nas imperfeições. Manel Cruz actua esta quarta-feira, 19 de Junho, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no contexto do Festival A Porta. A entrevista completa pode ser lida no papel, na edição de amanhã, 20 de Junho, do Jornal de Leiria.

Está correcto dizer que o Manel Cruz descobre depois dos 40 anos que é mais músico do que outra coisa qualquer?
Não me sinto mais músico, sinto é que consegui perceber que a música é a minha profissão. Dá-me subsistência e tento fazer as coisas o melhor possível, gosto daquilo que faço, mas existe um compromisso. Mas sinto-me uma pessoa, antes de mais, com outros interesses – e gosto de sentir que são tudo portas abertas a muitos níveis. Não sinto que seja mais músico. Se calhar do ponto de vista prático acabo por ser, mas sinto-me sempre mais um artista, naquele sentido em que o meu ofício é criar e tudo o resto são ferramentas.

Resistiu durante algum tempo à ideia de que a música também é uma profissão?
Resisti, porque não me queria sentir comprometido. Primeiro, não tinha a necessidade de estar comprometido como tenho agora depois de ter filhos. E sempre joguei muito à defesa face à minha ignorância e às minhas dúvidas. Deixei-me andar e ia fazendo as coisas sempre tentando estar o menos comprometido possível. Neste momento é uma certeza que quero fazer da música a minha profissão, até um dia achar que não. Mas sinto-me com uma certeza que nunca senti.

As dúvidas e inseguranças em relação à música, nomeadamente quanto ao prazer de tocar ao vivo ou ao facto de ser um espaço de liberdade mas também de trabalho e regras, estão resolvidas?
Se calhar não é uma questão de estarem resolvidas, é mais uma questão de pôr a mão na massa. A questão de tocar ao vivo era uma questão muito concreta de gostar de tocar, mas não me apetecer estar comprometido com isso porque não gostava sempre. E quando decides que é essa a tua profissão, arranjas maneira de aprender a gostar daquilo que fazes. E enfrentares, e resolveres os problemas, e começares a tirar prazer não só da coisa em si (numa primeira fase) mas de estares a conseguir lidar com. Tens de aceitar um conjunto de regras e lidar com elas, à tua maneira. A minha liberdade não passa por fazer aquilo que me apetece, passa por conquistar algum tempo do meu dia para fazer o que me apetece. Essa é a minha ideia de liberdade: conquistar através do compromisso, do trabalho e das regras, e conquistar na prisão, os meus momentos de liberdade.

Quer explicar melhor a insatisfação com o palco?
Tem a ver com uma ideia simples de ser algo que envolve a tua pessoa física. Se estiver só o teu trabalho em cheque, a tua cabeça e o teu corpo são meros funcionários das ideias e da forma como lidas com as coisas. Quando envolve a tua pessoa física, aí há uma outra coisa, há uma arte performativa, há uma codificação de ti para um suporte que envolve a tua acção física. E aí há todo um trabalho a fazer, que é um misto de actor com pessoa. Não interessa muito o que é, o que interessa é que é o início de um novo trabalho que não é uma fuga para frente. É um enfrentar dessas coisas. A partir do momento em que assumes que isso é parte da tua vida, fazê-lo bem não é só o resultado é também o processo de descoberta dessa tua nova faceta. E é engraçado, depois de tantos anos de estar em palco, sentir que estou no início dessa relação.

Melhor do que há 20 anos ou só diferente?
É diferente, mas sinto-me melhor, sem dúvida. Porque sinto-me mais em paz. Nomeadamente, com o erro. Se te empenhas e dás tudo o que tens, o erro é aceite por ti próprio. Se andas a fugir para a frente e erras, sentes que o erro é fruto da preguiça, da falta de coragem. No fundo, tudo tem a ver com o prémio que dás a ti próprio e o prémio que dás a ti próprio é a tua consciência, é o teu brio. Não é propriamente ser perfeito. Se calhar ando mais à procura da imperfeição do que da perfeição. Ando à procura de contrariar essa ideia de perfeição porque nessa ideia de perfeição não me vou encontrar, de certeza vou encontrar-me nas minhas imperfeições. Mas aceitar essas imperfeições depende de facto de seres honesto contigo próprio e para seres honesto tens de te entregar.

Leia a entrevista completa na edição em papel do Jornal de Leiria, amanhã, quinta-feira, 20 de Junho.