Abertura

Marta, 29 anos, prostituta. Uma vida sem esperança e à procura de direitos

30 jan 2020 00:01

É apontada como a profissão mais antiga do mundo. Praticá-la não é crime, mas mulheres, sobretudo, e homens não têm acesso a apoios sociais ou benefícios como outro qualquer cidadão. A discussão vai ao Parlamento

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Falta de dinheiro, dependência de drogas e redes de exploração empurram mulheres para a prostituição
Ricardo Graça

“Dez euros? Como acha que me sinto quando um homem me oferece dez euros para fazer todo o serviço? Humilhada e sem qualquer dignidade.” O desabafo é de uma trabalhadora do sexo, de 29 anos, cujo sonho é abandonar a prostituição e ter uma vida “normal”.

Marta (nome fictício) não tem família. Viveu desde pequena num orfanato na Bulgária. Quando se deu conta estava em Portugal, de saltos altos nos pés, à beira da estrada a vender o corpo. “Fui enganada por um pedaço de pão.”

“Não é um orgulho nem uma solução, mas não consigo um emprego e preciso de dinheiro para pagar renda e comer. Tenho procurado outro tipo de trabalho, mas a resposta é sempre a mesma: depois ligamos”, admite ao JORNAL DE LEIRIA, numa sexta-feira de chuva, que não a impediu de ir para a rua para ganhar o seu ‘salário’, cujo valor depende sempre dos clientes do dia. Marta mostra a revolta pela vida que leva.

Com os olhos embargados afirma que preferia ganhar pouco, mas ter um trabalho que não a obrigasse a prostituir-se para ter dinheiro para sobreviver. “Todos merecem uma oportunidade e gostaria de a ter. Não faço isto porque quero, mas por necessidade. Gostava que me pudessem ajudar a ter outra opção de vida. Gostava de estudar para crescer enquanto pessoa. Sentir- me uma pessoa útil. As pessoas não fazem ideia daquilo por que passamos. Pergunto-me muitas vezes qual vai ser o meu futuro? Se vou ter filhos, um relacionamento?”

Além de ser trabalhadora do sexo, a mulher assume problemas com drogas: “Já deixei várias vezes de consumir, mas a vida de m** que levo empurra-me de novo para baixo, entro em depressão e a droga ajuda-me a esquecer de tudo. É um escape.” Ana Loureiro lançou em Novembro a petição Legalização da Prostituição em Portugal e/ou Despenalização de Lenocínio, desde que este não seja por coacção, que alcançou agora o número de assinaturas para que o assunto seja discutido na Assembleia da República. Na terçafeira, já 4367 pessoas tinham subscrito a petição.

Dignidade às trabalhadoras do sexo

Em declarações ao programa da TVI, A tarde é sua, a autora da petição admite que gere uma casa de acompanhantes de luxo e pretende que esta prática seja considerada uma profissão “para dar dignidade” às mulheres e a possibilidade de trabalharem em melhores condições, com um contrato de trabalho, que lhes permita ter acesso a uma baixa médica e reforma, exemplificou.

Marta concorda com a legalização, precisamente para que todas as trabalhadoras do sexo possam ter os mesmos apoios que qualquer cidadão. “Não sou pior do que qualquer outra pessoa por fazer o que faço. Mas não tenho acesso a uma baixa médica, não faço descontos e não consigo, por isso, garantir quaisquer apoios. Ao menos essa regulamentação poderia dar-nos um salário e até ter esperança num futuro melhor”, adianta, ao acrescentar que a legalização ajudaria também a regulamentar a profissão e melhorar as condições

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