Sociedade

Memorial ainda não foi feito e já divide MpM

29 mar 2018 00:00

Deputado pediu suspensão por um ano

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Daniela Franco Sousa

Ainda não saiu do papel, mas o projecto do memorial sobre os incêndios já causou grande polémica na Marinha Grande.

Além de uma petição pública que conta com 1200 assinaturas e diz Não ao desbaratar de 216 mil euros para um memorial à destruição do nosso pinhal (que o JORNAL DE LEIRIA já noticiou), o projecto do monumento está a criar divisões no seio do MpM.

Fernando Crespo foi o artista natural de Vieira de Leiria que propôs a sua ideia de memorial à Câmara. Mas Fernando Crespo também é deputado municipal pelo MpM, onde nem todos os membros se revêm nesta edificação.

Agora o MpM emitiu um comunicado onde se demarca da iniciativa de Fernando Crespo, e Fernando Crespo, por sua vez, revela ao JORNAL DE LEIRIA que já pediu suspensão de mandato por um ano, não querendo ser “um constrangimento” para o movimento.

Questionado sobre o facto do seu memorial ter sido cabimentado em orçamento municipal sem que tenha sido realizado concurso público ou concurso de ideias – e a restrição dos concursos públicos é uma das bandeiras do seu movimento – Fernando Crespo justifica por que razão a sua ideia não se enquadra nesse tipo de procedimento.

Fernando Crespo recorda que durante a tomada de posse, Cidália Ferreira, presidente da Autarquia, expressou publicamente a sua vontade de edificar na Marinha Grande um memorial relativo ao incêndio de 15 de Outubro.

Uma vez que o artista já tinha pensado num memorial do género aquando do incêndio de Pedrógão Grande, em Junho, não hesitou em apresentar o seu projecto à presidente do seu Município. “Como vieirense não fiquei indiferente à perda da mancha verde onde nasci e que é uma referência para mim”.

E “a peça é minha, fui eu que a propus. Não é uma obra de construção civil, mas uma escultura. É uma proposta objectiva de determinado autor”, frisa Fernando Crespo, que diz já ter trabalhado com outras autarquias da mesma forma, com projectos apresentados por sua iniciativa.

O artista também não compreende o motivo da polémica. Primeiro, porque quando a presidente anunciou publicamente a sua vontade, ninguém contestou. Depois, porque esta aceitou a ideia com muito entusiasmo e, quando a autarca mostrou o projecto à restante vereação, numa reunião informal, ninguém a rejeitou, conta o deputado.

Em todo este processo, Fernando Crespo realça a “lisura e a correcção” com que tem sido tratado por Cidália Ferreira. Mas lamenta que uma petição, assinada por pessoas que nem conhecem a obra, seja suficiente para fazer uma das forças políticas, que até tinha incentivado a edificação do memorial, tenha agora outra posição pública.

Também realça que o valor do memorial não são 216 mil, mas 176 mil euros, já incluindo custos de logística, transportes e fixação. Fernando Crespo recorda que, mesmo não havendo garantia de haver obra, na eventualidade de esta estar contida no orçamento municipal, absteve-se de o votar.

Também compreende que o MpM se tenha demarcado da sua iniciativa e entende que não deve prejudicar o movimento. “Não quero ser um constrangimento para o MpM, por isso vou esperar calmamente até que possa voltar a ser uma mais-valia”, explica o deputado, que pediu suspensão de mandato por um ano.

Ao JORNAL DE LEIRIA e ainda sobre o memorial do pinhal, Pedro Correia, segundo secretário da Mesa da Assembleia Municipal eleito pela lista MpM, disse que o mais adequado é que se conserve a memória do pinhal e o património documental ainda existente, com a “parte possível e necessária do orçamento municipal”, através da “instalação de um verdadeiro Museu da Floresta com núcleo central no Parque do Engenho”.

E em comunicado, o MpM sublinha que foi “por sua iniciativa, na qualidade de cidadão”, que Fernando Crespo entendeu apresentar a sua proposta à presidente e diz compreender a contestação popular.

“Aguardamos que o processo chegue a reunião de Câmara para se conhecer, discutir, com o mesmo princípio com que foi apreciado o orçamento, mas não prescindindo de exigir respostas para as carências básicas dos nossos concidadãos, onde não se enquadra o memorial”, remata o movimento.