Economia
Metade dos profissionais recusam ofertas de emprego devido ao salário
Num mercado laboral pautado por um “crescente desajuste” entre oferta e procura, salários continuam a ser principal motivo de recusa de ofertas por parte de profissionais qualificados
A dificuldade em identificar e recrutar talento tem vindo a criar “constrangimentos sérios nas empresas”. No ano passado, segundo o Guia do Mercado Laboral 2019, da Hays, 65% dos empregadores inquiridos tiveram de optar por contratar profissionais “pouco adequados às necessidades das funções que tinham em aberto”.
O mesmo estudo revela que o salário oferecido pelas empresas “destaca-se claramente como principal motivo de recusa de uma oferta de emprego, com 51% das respostas” dos candidatos ouvidos.
O “crescente desajuste” entre a procura e a oferta levou ainda a que 26% das empresas inquiridas tenham sofrido quebras na performance ou nos resultados esperados e 15% a repensarem planos estratégicos de crescimento ou de expansão.
No ano passado, apenas 9% dos inquiridos afirmaram não ter sentido dificuldade em recrutar talento, enquanto no ano anterior tinham sido 16%.
“Claramente, quando os profissionais não estão preparados para as funções que desempenham e necessitam de melhorar as suas competências, a sua performance é minimizada, necessitando de mais tempo para gerar resultados mais concretos e expectáveis por parte das organizações”, expõe Carla Ferreira.
A profissional da Factor H, de Leiria, adianta que também na nossa região se nota dificuldade em recrutar profissionais qualificados, principalmente para a indústria de moldes e plásticos.
“Existe a necessidade cada vez maior de apostar em talentos na área do AVAC, mecânica, serralharia e outras similares. Cada vez mais as empresas são confrontadas com dificuldades em integrar nos seus quadros profissionais já com conhecimentos nestas áreas, o que inevitavelmente as leva a um investimento acrescido na formação inicial e integração na organização”.
Também Cristina Ferreira, responsável pela CF Consultores, de Leiria, diz que nem sempre se conseguem encontrar as pessoas com o perfil pretendido. “As empresas acabam por admitir candidatos com falta de experiência, ou com menor escolaridade, e depois fazem formação on job, acompanhada por um trabalhador com mais experiência”.
O Guia do Mercado Laboral 2019 (que auscultou mais de 3100 candidatos e 600 empregadores) revela ainda que os empresários apontam como principal dificuldade do mercado de trabalho a falta de profissionais qualificados (53%), seguindo-se o desajuste entre a oferta de profissionais e as vagas disponíveis (49%) e a pouca articulação entre sistema de ensino e empresas (37%), além de outros aspectos (ver infografia).
O estudo analisa também a forma como empresas e profissionais avaliam determinados factores, como a oferta salarial. Se esta é o aspecto fundamental para 85% dos candidatos ouvidos, apenas 28% dos empregadores a vêem como ponto forte da proposta.
Em contraponto, 44% das empresas consideram que o seu prestígio no mercado é importante, enquanto da parte dos candidatos apenas 27% valorizam este aspecto.
“Elementos como a oferta salarial, plano de carreira, plano de formação, prémios de desempenho e cultura empresarial apresentam uma percentagem de referências de candidatos muito superior à dos empregadores”, exemplifica o guia.
Sendo o salário o aspecto mais valorizado pela generalidade dos candidatos a emprego, não é por isso de estranhar que seja o principal motivo de recusa de ofertas. Em 2017 foi apontado por 49% dos inquiridos, no ano passado por 51%.
Comerciais e engenheiros entre os mais procurados
A dinâmica da economia e o crescimento das empresas leva-as a apresentar “elevadas perspectivas” de recrutamento para 2019, com 82% dos inquiridos a admitir que tencionam contratar este ano. Leiria poderá registar cenário semelhante.
“A tendência efectivamente é para recrutar e os primeiros dias do ano mostram-nos um crescimento deste serviço na Factor H”, aponta Carla Ferreira.
Já a responsável da CF Consultores fala antes em “estabilização”. Na opinião de Cristina Ferreira “não se perspectiva grande procura para novas contratações”, nomeadamente no sector dos moldes, já que a “indefinição” da indústria automóvel, no que toca a novos modelos de carros, “faz com que as empresas de moldes que trabalham sobretudo para esta indústria tenham menos projectos a entrar”.
E o que procura quem quer recrutar? Comerciais, profissionais das Tecnologias da Informação (TI), engenheiros, administrativos e técnicos de marketing e comunicação lideram o top five (ver infografia).
“Da experiência dos últimos meses, os comerciais são sem dúvida profissionais difíceis de encontrar no mercado, principalmente quando aliamos (e cada vez mais) a função técnica à vertente comercial”, aponta Carla
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