Viver

Micael Sousa: “A 'Capital da Cultura' em Leiria tem todas as condições para acontecer”

4 abr 2016 00:00

O recém empossado presidente do Cepae fala dos planos que a nova Direcção pretende desenvolver e fala de crescimento sustentado.

micael-sousa-a-capital-da-cultura-em-leiria-tem-todas-as-condicoes-para-acontecer-3625
Jacinto Silva Duro

É o novo presidente do Cepae (Centro de Património da Estremadura), o que é e para que serve este organismo?
É uma associação que actua nos concelhos de Batalha, Caldas da Rainha, Leiria, Marinha Grande, Pombal, Porto de Mós e Ourém. Já teve como designação Centro de Estudos do Património da Alta Estremadura, mas percebeu-se que “Alta Estremadura” era um termo muito fechado e bairrista. A mudança de designação serviu para uma maior aproximação ao distrito e alargamento da visão, até porque a nossa região é pouco definida. Se não conseguirmos ter uma maior flexibilidade e abrangência, dificilmente, conseguiremos abarcar a realidade local, que não encaixa muito bem nas fronteiras que se foram desenhando. O Cepae começou por ser, quando surgiu, nos anos 90, mais ligado à inventariação do património. O objectivo era, mais tarde, poder-se intervir e salvaguardá-lo. Essa fase passou e o património está, praticamente, todo inventariado . Agora falta fazer o trabalho de valorizar e salvaguardar o património, aproximando-o das populações. Aqui, o Cepae, sendo uma instituição que também está ligada aos municípios, sendo que eles também são associados e são a razão de ser da existência do centro, esta pode ser a possibilidade de conseguir fazer e apostar mais na promoção e divulgação intermunicipal, congregando também a sociedade civil, porque as pessoas podem ser também associadas em nome individual. Claro que falta ainda identificar muito património móvel, pouco conhecido. Se há coisa que pode ser promovida e dinamizada é o património e história, porque ninguém nos pode tirá-los. São coisas que não se deslocalizam para outra parte do mundo.

A promoção e dinamização é então um dos vossos objectivos principais?
Para estes dois anos de mandato, uma das estratégias que definimos é a aproximação do património à população da região, conseguindo envolvê-las e trabalhar mais em rede. Queremos tentar unir estas sinergias e continuar a registar, a fazer publicações, físicas e online. Esta parte é muito importante, porque este tipo de publicações podem sempre ser usadas no futuro, para outros estudos.

E para desenvolvimento local, através da promoção do património.
E do turismo… tudo tem ligação neste momento. O que importa é que o desenvolvimento seja sustentável. Temos de ter em conta de que o património é um recurso, mas que se esgota se não for bem gerido. Se tivermos taxas de uso superiores àquilo que ele consegue aguentar, será destruído e não será sustentável para o futuro.

Quem são as pessoas da nova Direcção e quais são as mais-valias de cada um?
Tentámos que fosse um grupo ecléctico, diversificado, jovem e com muita experiência no património. Sou eu, é o Adélio Amaro, o vice-presidente, que tem muita experiência como editor e como jornalista, características que são muito importantes para nós, temos a Ana Moderno, que está ligada ao trabalho com património material e a iniciativas mais lúdicas e de aproximação à população, e tem uma grande experiência no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha. Há ainda a Helena Godinho, ligada à Casa da Cultura da Marinha Grande, que tem também grande experiência e ligação à parte lúdica, conhecendo muito bem o funcionamento, por dentro, dos municípios. Finalmente, temos o Sérgio Barroso, que faz a transição da anterior Direcção e que tem também muito conhecimento na ligação às escolas e ao património através da fotografia. Destas múltiplas valência tentamos concretizar os objectivos que já referi. Queremos também envolver mais os associados, para que o trabalho não seja uma coisa apenas da Direcção. Gostaríamos de lançar projectos e conseguir que alguns os consigam assumir e desenvolver, com iniciativa e independência. Como diz Lipovetski, instituímos uma sociedade de liberdade e não podemos exigir autoritarismo sobre as pessoas. Elas só vão fazer aquilo que gostam e em que acreditam. Se acreditam nos projectos, vão fazê-los e não podemos estar com moralismos autoritários a dizer que “isto é que tem de ser feito” e “aquilo é que é bom”. Não! As pessoas devem acreditar no que fazem.

Podemos então esperar a continuação do apoio à publicação de trabalhos de investigação nas áreas da história e património?
Sim. Continuaremos esse trabalho. Há trabalhos bons que não são publicados, mas nós podemos , com os poucos fundos que temos, tentar continuar a fazer publicações. Queremos alcançar as pessoas também através da comunicação social regional e divulgar o património e os projectos do Cepae. Queremos dar voz a quem queira falar de assuntos de património. Seria uma forma interactiva de nós chegarmos às pessoas e de elas chegarem a nós. Por exemplo, alguém que tenha uma investigação interessante, poderá escrever um texto e publicá-lo num jornal ou alguém que alerte para um património na sua terra, que nunca foi estudado.

Perfil Engenheiro civil com gosto pela História Micael Sousa, 33 anos, é licenciado em Engenharia Civil e em História, com um grau em Artes e Património, pela Universidade Aberta, e mestre em Energia e Ambiente pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL). Actualmente, é mestrando em Estudos do Património, na Universidade Aberta. Natural da freguesia de Parceiros, Leiria, trabalhou em engenharia de obras públicas e foi investigador na área de mobilidade e transportes, no IPL. Fez consultoria em algumas empresas desta área, enquanto acalentava uma paixão por História. “Depois desse percurso profissional, fiz nova licenciatura. Começou por ser por gosto pessoal, mas, depois, percebi que havia uma ligação importante entre património e urbanismo, relacionada com a História”. Actualmente, é adjunto da vereação do Ambiente, Urbanismo, Planeamento e Ordenamento do Território e Reabilitação Urbana, na Câmara de Leiria. “É um trabalho de equipa e, por isso, nem sempre ficamos nestas divisões. É um trabalho de conjunto, onde se coordena esforços para as tarefas necessárias num determinado momento.”

Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo