Desporto

Mundial dos sem abrigo: histórias incríveis e uma bola de futebol

25 jul 2016 00:00

Luciano Gonçalves, natural da Batalha, arbitrou provas neste campeonato mundial. Regressou a Portugal de coração cheio e com histórias de vida extraordinárias para contar.

Foto: Anita Milas
Foto: Alex Walker
Foto: Alex Walker
Foto: Alex Walker
Foto: Anita Milas
Foto: Anita Milas
Foto: Anita Milas

Quando se fala em futebol de rua, pensa-se em campos de terra, balizas feitas com pedras, um meio campo calculado a olho e a inexistência de regras. E a “brincadeira” acaba quando o dono da bola se chateia e vai embora com o esférico. Mas sabia que existem competições nacionais e até mundiais de futebol de rua, com uma estratégia bem definida: a inclusão social?

Pois é. Reclusos, institucionalizados, sem-abrigo e jovens em risco são os protagonistas deste desporto. Rapazes e raparigas, com mais de 16 anos, com vidas negativamente marcadas pelos mais diversos problemas sociais.

Luciano Gonçalves é natural de Alcanadas, Batalha, e é presidente da APAF – Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol. Foi árbitro na 2.ª Divisão entre 2002 e 2013. Há cerca de cinco anos foi convidado por um colega de profissão a participar no campeonato nacional de futebol de rua, disputado com equipas de quatro jogadores. “Quando fui a primeira vez fiquei fascinado”, revela Luciano Gonçalves. Desde esta altura que todos os anos está presente nestes campeonatos. No ano passado, foi convidado a assistir ao mundial em Amesterdão, na Holanda. Mas a paixão pelo que estava a ver era de tal forma forte que, ao segundo dia, Luciano Gonçalves, teve que pedir para “entrar no espírito”. “Era no campo que eu queria estar e não apenas a assistir, como convidado”, confessa.

“O futebol é apenas um pretexto”, refere o árbitro. Durante o campeonato, existem workshops, histórias partilhadas e “uma série de ensinamentos”. Para chegar ao mundial, disputa-se um campeonato a nível nacional – o distrito de Leiria participa com uma equipa de Peniche. Não é a equipa vencedora da prova nacional que vai ao mundial: os 10 jogadores são seleccionados entre as equipas que estão na fase final. Cada atleta só pode ir uma vez ao mundial, para dar oportunidade a todos. Depois de escolhidos, partem para um estágio de cerca de 12 dias durante os quais “vivem como se fossem uma família”.

Cartão azul dá “segunda oportunidade”

No futebol de rua, o principal objectivo é proporcionar a estes jogadores uma melhor qualidade de vida. Existem equipas masculinas, femininas ou mistas e as regras são muito específicas, adequadas à modalidade e aos princípios que a regem, explica Luciano Gonçalves. Existe um cartão vermelho e um cartão azul. Sim, azul. “É exibido em situações que, no futebol comum, se daria um vermelho”, explica. Funciona como uma “segunda oportunidade”. O jogador sai de campo durante dois minutos e, caso volte a cometer alguma falta, é apresentado o cartão vermelho. Neste caso, será posteriormente feito um “trabalho a nível social” com o jogador em causa.

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