Viver
“Musicalmente não sou muito dotado”
Paulo Fuentez,designer gráfico
Nuno Filipe, elemento da banda The Allstar Project (TAP), de Leiria, costuma dizer que “o Paulo Fuentez foi fundamental para a criação de grupos como Sinclair, The Allstar e Twin Transistors”, mas “depois de as criar, vai--se embora”.
Nos Allstar ainda estive uns cinco anos e a banda terá, hoje, 11 ou 12 anos de existência. Também estive, até à auto-extinção, nos Sinclair. Nos Twin Transistors é que estive no gatilho e, depois, fui embora. Como penso que, musicalmente, não sou muito dotado, não me mantive.... Se calhar, é verdade. Dei força no início dos projectos e depois fui embora. Já li que isso tem a ver com o facto de o meu signo ser Carneiro. Criei os Sinclair com dois elementos que, agora, estão nos Twin Transistors, o Hélder e o Miguel, que é o baixista. Já os Allstar nasceram por volta de 2002, porque os Sinclair e os Phase estavam praticamente parados. Os Sinclair tinham um espaço disponível para ensaiar e as duas bandas juntaram-se e nasceram os TAP. Em brincadeira, quando íamos tocar, costumávamos perguntar, ao telefone, se “as estrelas iam tocar” naquele dia. Entretanto, a Câmara de Leiria convidou-nos para darmos um concerto na Praia do Pedrógão, e não tínhamos nome. Pediram-me o nome da banda. Respondi que podia ser Allstar... Project.
Como apareceu a estética musical post-rock dos TAP?
Isso é um tema engraçado... não tínhamos vocalista e ninguém queria cantar. O Mendes não estava para aí virado e o Helder, que era o vocalista dos Sinclair, também não estava interessado. Os temas instrumentais nasceram do facto de aquilo ser uma brincadeira. Tocávamos por gozo. O primeiro EPaté se chamava Berlengas Connection, o que mostra que era tudo completamente no gozo. A música nasceu sem nós ouvirmos muitas das coisas que, hoje, são referências musicais dentro daquele estilo. Tenho ideia que aquilo nasceu mesmo por geração espontânea naquele sítio de ensaio, com as influências que cada um de nós levou.
E os Twin Transistors?
Nasceram um pouco como os TAP. Sou muito amigo do Hélder, que já tinha estado comigo nos TAP e nos Sinclair, e começámos a fazer umas brincadeiras mais electrónicas. O nome vem daí – twin, de dois, e transistors, por causa da electrónica. Durante uns dois ou três anos, andámos a brincar com a música até que entrou o Veloso, para a bateria, e começam os primeiros concertos. Cedo, percebi que não tinha tempo para levar a banda a sério, como eles queriam. Agora, sou amigo deles e fiz odesignda capa do seu novo álbum.
A sua profissão é a de designer gráfico, mas a sua entrada nesse mundo deu-se pela passagem pela antiga claque da União Desportiva de Leiria, os Ultra Fantasmas, onde chegou a desenhar logótipos e bandeiras.
Não posso dizer que enveredei na profissão por causa daquilo, mas foi a primeira expressão de design gráfico na minha vida. Sem saber o que era odesign, usei ferramentas e tive pensamento dedesigner, quando ainda só tinha uns 16 anos. Mas, no secundário, queria ser veterinário. Também criei um núcleo dos Ultra Fantasmas, e acho que isso já tinha a ver com o meu espírito de organização e de fazer acontecer. Eram os Ultras – Zona Norte – Brigada Fantasma, que eram do norte de Leiria... já tinha este pensamento de ter um nome e uma ideia e uma identidade. Fiz as t-shirtse as pessoas iam por haver essa identidade.
O seu trabalho pode ver-se em comunicação de marca e empresarial, pela cidade de Leiria. O Caco e as Green Boots são dois exemplos...
A imagem e a gestão gráfica do Caco são da minha autoria. A Green Boots também. Faço a comunicação do Orfeão de Leiria, desde há seis anos, e trabalho com o Suite também desde essa ocasião, a quem fiz o logótipo, a identidade e o nome. Trabalhei muito com discotecas. Por exemplo, o Alibi, quando era mais alternativo, e a Shushi Electrónica, fiz a imagem do Festival de Teatro Acaso, durante seis ou sete anos, e agora estou a trabalhar com o Grupo de Teatro Leirena, para quem fiz a nova identidade. Fiz o logótipo da Creaminal e ganhei um prémio com ele. Estive na génese doShopOn. A ideia não é minha, mas o nome e a identidade são. Fiz as capas todas dos All Star e dos Twin Transistors. Estou muito ligado à cidade de Leiria, onde sempre vivi.
Perfil
“Os clientes são meus amigos”
Paulo Fuentez tem 36 anos e é natural de Leiria. Começou a trabalhar, autodidacta, no design, ainda antes de terminar o ensino secundário. O primeiro trabalho pago foi a carta de cervejas do bar Pharmácia. Recebeu 30 contos – 150 euros.
“Fiz esse trabalho para o Mário Brilhante... ainda hoje lhe faço trabalho para o restaurante Aromas. Tenho esta coisa de tornar os meus clientes em amigos.” Em miúdo tinha uma fonte perto de casa e era conhecido como “Paulo da Fonte”.
“Até que alguém passou a coisa para espanhol. Nos Allstar Project, tínhamos todos um alter-ego, havia o Nunez, o Phil Mendrix, o Sawyer, o Ramon... Toda a gente me chamava Fuentez e percebi que o nome ficava mais na memória... ainda por cima, chamome Paulo Silva. Deixei cair pruridos e comecei a assinar Paulo Fuentez”.
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