Sociedade

Natal rima com reencontros

22 dez 2017 00:00

Jantares pré-natalícios são indispensáveis para quem vive fora.

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Maria Anabela Silva

O percurso pessoal e profissional afastou-os fisicamente da terra que os viu nascer e crescer. Saíram, em muitos casos, para estudar e acabaram por se fixar em vários pontos do País. Outros, deixaram mesmo Portugal e encontram- se espalhados um pouco por todo o Mundo.

Mas, no Natal regressam sempre (ou quase sempre) às origens, para participar naquela que é considerada a festa da família.

É o tempo de matar saudades dos entes queridos, à volta da mesa e da lareira, tendo como ingredientes principais a conversa e a comida caseira. Mas é também o tempo para o reencontro com os amigos de infância e de juventude.

Aqueles companheiros de escola, de farra ou de equipa, que deixaram de estar fisicamente presentes no dia-a-dia, mas que, nesta época do ano, se juntam, em encontros mais ou menos organizados, para retomar conversas, recordar histórias de outros temos, contar as novidades e as mudanças que o último ano trouxe, falar dos projectos que se concretizaram ou que se sonharam, das viagens que se fizeram, da família… Enfim, fazer “um ponto da situação” da vida.

A 'noite dos abraços'

A tradição começou há cinco anos, com um convite de Jorge Dias, gestor do bar Anúbis, em Leiria, para Maria Miguel Ferreira “meter uns discos” com a amiga Tânia Afonso, ambas a viver em Lisboa. “Passámos a palavra a alguns amigos que iam estar na cidade nessa época e muitos deles apareceram. Não somos DJ profissionais e é tudo muito rudimentar, mas tornou- se tradição”, conta Maria Miguel, directora da Startup Portugal.

A “festa”, como gosta de lhe chamar Maria Miguel, realiza-se, invariavelmente, na sexta-feira antes da noite de Natal, no bar do costume. “Quando, nesta altura do ano, nos cruzamos na cidade e perguntamos se nos vamos ver 'lá', já sabemos que o 'lá' é a festa [no Anúbis]”, explica, contando que em Novembro começa a receber mensagens de Inglaterra, EUA e de outros pontos do globo a perguntar pelo evento.

“Muitos vêm por pouco tempo, três ou quatro dias, e esta é uma forma de um certo grupo de amigos, que cresceu junto, poder voltar a reunir- se e a pôr a conversa em dia.”

Apesar de ser uma das DJ de serviço - tarefa que continua a partilhar com Tânia Afonso, que fundou o Cinema Paraíso, em Leiria e que actualmente trabalha na produção de espectáculos no Centro Cultural de Belém –, Maria Miguel Ferreira acaba por estar pouco tempo a passar música, privilegiando os momentos de conversa com os amigos.

“Deixamos a música a tocar e aproveitamos para matar saudades uns dos outros”, conta a director da Startup Portugal, que baptizou a tradição como a “noite dos abraços”. O nome é uma alusão àquilo que a DJ observa quando de encontra na cabine de som. “Como está um pouco elevada em relação ao restante espaço, vejo pessoas a entrar no bar. Vão encontrando amigos e é uma sucessão de abraços. São momentos muitos especiais. Espero por esta noite sempre com muita alegria e uma grande expectativa.”

Expectativa é também um dos sentimentos com que o cineasta Pedro Neves aguarda o reencontro com os amigos de escola e dos tempos em que jogou andebol na União Desportiva de Leiria, que acontece todos (ou quase todos) os Natais na cidade onde nasceram e cresceram.

Para promover o reencontro, há invariavelmente um jantar ou um almoço que, muitas vezes, se prolonga pela noite dentro, e, sempre que possível, um jogo de andebol. “Precisamos de, pelo menos, 14 elementos para formar duas equipas e, às vezes, é difícil conciliar agendas”, refere o cineasta, de 40 anos, a viver no Porto desde os 18. Esse problema de agenda, normalmente, é resolvido por André Lage e o seu “método de organização” de jogo. “Contamos com isso, André”, pressiona, em jeito de brincadeira, Pedro Neves.

Além dos momentos de convívio organizados, há depois reencontros, mais ou menos fortuitos, seja enquanto se bebe um café ou uma cerveja nos locais do “costume” ou durante as compras de última hora feitas “nas lojas de sempre”.

Há ainda passagens “obrigatórias” pela Praça Rodrigues Lobo ou tempo para “beber uma cerveja – ou várias – no Manel [da Quitéria] e nos Filipes”. Nesses encontros, “não faltam temas de conversa. Pode é faltar tempo para tanta conversa”. Mas há assuntos incontornáveis. Recordam- se histórias de outros tempos, “algumas já batidas e repetidas vezes sem conta”, mas fala-se também dos percursos profissionais, da família e das “mudanças que vão ocorrendo nas nossas vidas”, revela Pedro Neves

“Gosto sobretudo de estar com aquelas pessoas. Do continuar conversas de há um ou dois anos, do sentir que, por muito longe que estejamos uns dos outros, por poucas vezes que nos encontremos, continuamos a gostar muito uns dos outros e que há interesses que se mantêm comuns”.

Missa do galo' festejada com

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