Sociedade
Nobel da Paz atribuído ao Presidente da Colômbia
Juan Manuel Santos viu ser reconhecido os seus esforços para pôr fim à guerra civil
O prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos seus esforços para pôr fim à guerra civil do País, que durou mais de 50 anos e matou pelo menos 220.000 colombianos, informou o Comité Nobel norueguês.
O prémio deve também ser visto "como um tributo ao povo colombiano, que apesar de grandes dificuldades e abusos, não perdeu a esperança de uma paz justa", assim como a todas as partes que contribuíram para o processo de paz, pode ler-se no comunicado do comité.
"Este tributo é prestado, não menos importante, aos representantes das inúmeras vítimas da guerra civil", que fez mais de 220 mil mortos e seis milhões de deslocados.
Questionada pelos jornalistas sobre se o comité considerou atribuir o prémio a mais partes, nomeadamente ao líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a 26 de setembro assinou um acordo de paz histórico com Juan Manuel Santos, a presidente do Comité Nobel Norueguês escusou-se a comentar outros candidatos.
"Há muitas partes no processo de paz. O presidente Santos tomou uma iniciativa histórica, ele dedicou-se completamente, com grande força de vontade, para alcançar o resultado", disse a presidente, Kaci Kullmann Five, acrescentando que o comité vê este prémio como "um forte encorajamento para todas as partes neste processo negocial".
Sobre a eventual contestação à decisão do comité, uma vez que o acordo de paz entre a Colômbia e as FARC foi rejeitado pela maioria dos colombianos em referendo, a presidente admitiu ser comum o Nobel da Paz ser contestado, mas garantiu que o objectivo foi "honrar o trabalho que foi feito por todas as partes" e manifestar "apoio ao povo colombiano".
"Não é desrespeito. É claro que respeitamos o processo democrático e o voto do povo, mas eles não disseram não à paz, apenas a este acordo", sublinhou, afirmando que "é extremamente importante evitar que a guerra civil recomece".
No seu comunicado, o Comité Nobel norueguês recorda que Juan Manuel Santos iniciou as negociações que levaram ao acordo de paz entre o Governo colombiano e as guerrilhas da FARC, procurando consistentemente levar o processo de paz adiante.
Embora soubesse que o acordo era controverso, o Presidente garantiu que os eleitores colombianos podiam manifestar a sua opinião sobre o acordo em referendo, relembra o comunicado.
"O resultado do referendo não foi o que o presidente Santos queria: uma curta maioria dos mais de 13 milhões de colombianos que votaram disse não ao acordo. Este resultado criou grande incerteza sobre o futuro da Colômbia. Há um perigo real de o processo de paz parar e de a guerra civil recomeçar. Isto torna ainda mais importante que as partes, lideradas pelo presidente Santos e pelo líder das guerrilhas das FARC, Rodrigo Londoño, continuem a respeitar o cessar-fogo".
O Comité sublinha que o facto de o referendo ter sido rejeitado nas urnas não significa que o processo de paz tenha morrido.
"O que o lado do 'não' rejeitou não foi o desejo de paz, mas um acordo específico", recorda o comunicado, sublinhando que o próprio Presidente tornou claro que continuará a trabalhar pela paz até ao último dia do seu mandato.
O comité espera, por isso, que o Nobel da Paz lhe dê força para alcançar esse objetivo, porque só quando o país puder recolher os frutos do processo de paz e reconciliação será possível abordar eficazmente outros desafios, como a pobreza, a injustiça social e o crime associado à droga.
O Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram a 26 de Setembro um acordo de paz histórico, prevendo a desmobilização dos 5.765 combatentes da guerrilha e a conversão das FARC em movimento político legal.
Para entrar em vigor, este texto de 297 páginas deveria ter sido aprovado pelos eleitores, uma consulta não obrigatória, mas desejada pelo presidente colombiano, para dar “uma legitimidade maior” à paz.
Apesar de a maior parte das sondagens preverem a vitória do “sim”, foi o “não” que ganhou, com 50,21% dos votos, contra 49,78%, num escrutínio em que a abstenção atingiu os 62%.
O Nobel da Paz distingue a pessoa ou organização que mais tenha trabalhado "pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela organização ou realização de congressos de paz", segundo o testamento do criador dos prémios, Alfred Nobel.
Este ano, o Comité Nobel recebeu um número recorde de candidaturas ao Nobel da Paz, 376, dos quais 228 pessoas e 148 organizações.
O Comité só pode divulgar os nomes dos candidatos ao fim de 50 anos, pelo que estes só são conhecidos antes se forem divulgados pelas entidades que os nomeiam.
O Nobel da Paz é o único atribuído fora de Estocolmo, de acordo com a decisão de Alfred Nobel, já que na época a Noruega integrava o Reino da Suécia.
A entrega dos Nobel realiza-se, de acordo com a tradição, em duas cerimónias paralelas, a 10 de Dezembro, em Oslo para o prémio da Paz e em Estocolmo para os restantes, data de aniversário da morte do químico e industrial sueco.