Viver

O coleccionador de países

25 fev 2016 00:00

Este professor de piano do Orfeão de Leiria visitou em nove anos 101 dos 193 países que existem no planeta. Um “vício” que o impele a conhecer pessoas, partilhar histórias e coleccionar aventuras. Rui Daniel da Silva fez-nos um relato desta verdadeira.

Jacinto Silva Duro

Rui Daniel da Silva, 38 anos, professor de piano no Orfeão de Leiria, acaba de visitar o seu 101.º país o Benim. Só não se aventurou no 102.º porque foi preso e ameaçado de deportação. Mas já chegamos a essa parte desta história.

A pedalar, de scooter, em barco, de comboio, em avião lowcost ou num ronceiro autocarro este músico de formação clássica que nasceu no Luxemburgo, mas viveu a juventude em Aveiro, vai somando carimbos no passaporte e quilómetros na mochila.

Seguindo o exemplo do poeta espanhol Antonio Machado que, certo dia, disse que o caminho faz-se andando, o que atrai Rui Daniel são as pessoas, os diferentes ritmos de vida, as cores, as culturas e as curiosidades.

“E a ausência de stress. Por exemplo, quando apanhamos um autocarro ou táxi, nalguns sítios de África, dizem-nos sempre que o carro vai sair daí a 20 minutos… e isso pode ser daí a cinco minutos ou cinco horas. Quando estiver cheio, arranca. Claro que, se pagarmos os lugares todos, ele até sai logo.”

Na bagagem, nunca falta uma máquina fotográfica e um livro da Lonely Planet, edição para mochileiros, que o ajuda a orientar-se no país visitado. Nada mais é indispensável para coleccionar aventuras e episódios singulares.

Tantos que já nem se consegue lembrar de todos e muito menos contá-los numa conversa de café. Como gosta de sublinhar, o primeiro país que visitou foi França, o segundo Espanha e o terceiro foi Portugal.

Curiosidades de quem nasceu no mais português dos grão-ducados no mundo. Mas voltemos à aventura africana em bicicleta que o fez ir muito além do Bojador, dobrar o cabo, e atingir a marca dos cem mais um países visitados. Há três semanas, no Benim, carimbou o 101.º visto no passaporte.

O Togo foi o 100.º e na Nigéria deveria ter alcançado o 102.º, mas uma detenção no Gana, onde aterrou, atrasou-o e impediu-o de alcançar o objectivo. “Levaram-me para uma sala onde estava um nigeriano algemado e quando olho à volta, vejo apenas fotos de fugitivos nas paredes e algemas por todo o lado”, conta. Grande parte da responsabilidade pela detenção imputa-a ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) nacional.

“Como não há embaixadas de todos os países do Mundo, em Portugal, pedi ao SEF informações sobre o visto necessário para entrar no país. Disseram-me que poderia pedi-lo no aeroporto. Em Accra, no Gana, como não tinha visto para entrar no país, disseram-me que iria ser deportado.

Detido por contrabando
Mas essa não foi a primeira vez que teve problemas com serviços fronteiriços. Já antes tinha sido detido uma vez em Singapura e, por isso, encarou a detenção com alguma distância.

“Lá fui detido por contrabando de cigarros. Foi uma coisa que aconteceu por saber que aquele país não permite que se leve tabaco. É que, na Malásia, que faz fronteira com Singapura, um maço custa 40 cêntimos, mas, em Singapura, custa 10 euros. Como ia lá passar uma semana, antes de seguir para a Indonésia, decidi aviar-mecom um volume de cigarros.”

Na fronteira, os guardas viram que Rui Daniel tinha um maço de cigarros e questionaram-no. “Na minha inocência, porque desconhecia a lei, abri a mochila e mostrei-lhes o resto do tabaco. 'Mas há problema?', perguntei… prenderam-me durante três horas, até que perceberam que eu era apenas um turista e não um contrabandista. Paguei uma coima e deixaram-me seguir com um papel no bolso a atestar que eu podia fumar tabaco malaio.”

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