Sociedade

O dia em que os sinos de Ferrel dobraram contra a energia nuclear

17 mar 2016 00:00

Há 40 anos, o povo de Ferrel saiu à rua para impedir a instalação de uma central nuclear na aldeia. Pela voz de alguns dos protagonistas do protesto, recordamos esse dia 15 de Março de 1976, quando Ferrel fez nascer o slogan Nuclear, Não obrigada

Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
Marcha contra o nuclear
A marcha de 15 de Março de 1976 contra a construção de uma central nuclear em Ferrel, Peniche, terá juntado cerca de duas mil pessoas
A marcha de 15 de Março de 1976 contra a construção de uma central nuclear em Ferrel, Peniche, terá juntado cerca de duas mil pessoas
A marcha de 15 de Março de 1976 contra a construção de uma central nuclear em Ferrel, Peniche, terá juntado cerca de duas mil pessoas
Maria Anabela Silva

Escritos por Fausto, estes versos imortalizaram a luta do povo de Ferrel contra a instalação de uma central nuclear nesta aldeia de Peniche, travada há precisamente 40 anos. Por volta das 8 horas da manhã do dia 15 de Março de 1976, os sinos da capela de Nossa Senhora da Guia soaram a rebate. D. Crialmina, agricultora já falecida, tocou sem parar. Nem mesmo quando o badalo se desprendeu ela parou. Pegou nele e continuou a dar pancada no sino.

A população da aldeia e das povoações vizinhas acorreu, em força, juntando-se no largo da igreja, armada com todo o tipo de alfaias agrícolas. Enxadas, foices, sacholas, forquilhas, ancinhos, picaretas... Tudo servia para travar o 'monstro'. Foi dali que aquele aglomerado de pessoas – cerca de duas mil – marchou em direcção à serra, mais propriamente aos baldios de Moinhos Velhos, onde decorriam trabalhos de prospecção com vista à instalação de uma central nuclear. A missão era pôr fim a essas pesquisas.

“Uns iam a pé, outros de motorizada ou montados em carroças de burro, tractores, camionetas ou até em cima de debulhadoras”, conta António Júlio Santos, que morava no largo da igreja e que, assim que ouviu o sino, acorreu ao local. A viagem até ao alto de Moinhos Velhos, um trajecto com cerca de quatro quilómetros, demorou “mais de três horas”. “Aquilo era quase só areia. Altos e baixos. Não havia um caminho digno desse nome”, acrescenta, frisando que os trabalhos decorriam em “grande secretismo”. Nesse manhã, Tadeu Simões, já estava a trabalhar no campo quando ouviu o sino. “Larguei tudo e vim a correr”, recorda. Sem saber muito bem “ o que se estava a passar”, acompanhou a multidão, longe de pensar que iria participar num “acto heróico e corajoso do povo de Ferrel, a bem do País e da democracia”.

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