Desporto
O futebol regressa e os domingos voltam a fazer sentido
A competição da Inatel, que anima os pelados deste País, ainda não se conseguiu impôr no distrito de Leiria. Serra d'El-Rei e Turquel são excepções que comprovam que a amizade e o convívio são mais importantes do que os triunfos.
Após alguns anos de glória, com a conquista de uma Taça Distrital à mistura, o futebol morreu em Serra d'El-Rei há coisa de uma década. No outrora temido campo daquela vila do concelho de Peniche já não havia defesas impossíveis, golos espectaculares e os consequentes berros entusiasmados vindos das bancadas.
Entretanto, o silêncio tomou conta do pelado, fazendo companhia às ervas daninhas e às silvas. Até que, no início desta temporada, tudo mudou.
Rui Sousa (segundo a contar da esquerda na fila de cima) não tem mais do que 23 anos. Os domingos gloriosos do clube são memórias distantes de seus tempos de menino, mas como o orgulho que tem nas origens não tem fim, achou que estava na altura de fazer algo pelo clube, pela terra e, acima de tudo, pelos serranos.
Falou com a Direcção do clube e “facilmente” arranjou um grupo de interessados em jogar futebol. Rapidamente meteram mãos à obra. “Decidimos regressar. Joguei muitos anos futebol e acima do gosto pelo futebol está a amizade”, explicou.
O grupo, composto por 26 rapazes dos 17 aos 30 anos, não queria que o histórico emblema da Serrana continuasse esquecido. Resolveram agir e inscreveram a equipa nas competições da Fundação Inatel. Como (ainda) não existe competição no distrito de Leiria, tiveram de agarrar-se ao campeonato de Santarém.
“Os mais velhos já tinham envergado aquela camisola, mas os mais jovens – que nem se lembram de ter visto a Serrana a jogar – estão radiantes por envergarem o equipamento do clube da terra. O objectivo é incutir o espírito que a amizade não se cria virtualmente”, salienta o lateral-esquerdo, capitão, responsável pela secção e recentemente eleito secretário da Direcção da Serrana.
Foi um processo que só foi possível consumar com muita força de vontade. Antes de a bola rolar despenderam duas semanas das suas vidas a reabilitar os balneários, entre limpezas, arranjos e pinturas.
Para que o pelado voltasse a ser praticável contaram com a ajuda da câmara municipal e da junta de freguesia. “Conseguimos pôr tudo acolhedor”, garante.
“Começando do zero” e a treinar uma vez por semana, jogar nas competições distritais da Associação de Futebol de Leiria parecia um passo maior do que a perna. Decidiram-se então pelas competições da Inatel.
“Queríamos uma experiência sem grandes exigências e com menores custos. Por isso, achamos que tomámos a opção correcta.” Mais importante do que os resultados, que até são melhores do que o esperado, conseguiram que o povo serrano estivesse com eles desde o primeiro momento. “Estão 200 pessoas a puxar por nós e já vi gente a enervar-se mais do que a ver o Benfica.”
E chegamos à regra número um do futebol em Serra d'El-Rei. Todos querem ganhar, é bem verdade, mas há coisas muito, mas muito mais importante. “Desde o primeiro treino que dissemos: 'se ganharmos óptimo, se perdermos o mundo não acaba'.”
O objectivo desta equipa – e de muitas outras nesta competição – chama-se “convívio”. “Em muitos destes clubes, a intenção é fazer algo pela terra. Uns jogam melhor, outros pior, mas aqui todos jogam por igual. O que interessa é que o povo serrano esteja feliz.”
Não é que tenha grande interesse, mas a equipa, que queria pelo menos uma vitória, passou, inclusivamente, à segunda fase da competição. “Ganhámos, perdemos, mas nós já somos campeões. A maior vitória foi Serra d'El-Rei voltar a ter futebol.”
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