Sociedade
O meu Natal é melhor do que o teu!
A trabalhar, a partilhar, a orar ou a desembrulhar presentes, o Natal é uma quadra diferente para cada um de nós. O JORNAL DE LEIRIA foi à procura dos valores e das tradições que tornam a data numa experiência única para cada cristão
Está frio lá fora, as ruas estão iluminadas, há bolas de cores e azevinho a decorar as montras. Não há dúvidas, chegou o Natal. Mas num País maioritariamente composto por cristãos, que por convicção ou por tradição festejam a quadra, serão os Natais todos os iguais? Que valores e rituais se impõem para cada um de nós nesta época do ano?
MANUEL VIEIRA E CÉSAR LOPES Viver o Natal... a servir o outro
Foi militar, habituou-se a passar a Consoada no quartel, ao serviço dos outros, e continua a fazê-lo nesta fase da sua vida, já não por obrigação profissional, mas por “dever cívico” e de “compromisso” para com os que se encontram numa fase menos boa da vida.
Para o major Manuel Vieira, voluntário e presidente de direcção da Liga dos Amigos do Hospital de Leiria, a quadra natalícia já não teria o mesmo sabor se não fosse vivida com a “família alargada” que são os utentes daquela unidade. A liga é uma associação com cerca de mil sócios, dos quais cerca de 130 a 140 são voluntários.
Para se ser voluntário, há que fazer um curso de formação e assumir um compromisso para com os utentes do hospital, explica o presidente. Isso passa por dar de si ao longo de muitos momentos do ano, não apenas durante o Natal. Até porque os voluntários podem contribuir para a humanização do serviço, com a sua companhia e amizade, mas não têm o poder nem a incumbência de curar os doentes ou de interferir no serviço.
Como tal, não há propriamente rabanadas ou bacalhau que voluntários e internados possam partilhar na noite de 24. Existe, isso sim, a tradicional distribuição de lembranças aos vários doentes internados – este ano aconteceu a 22 de Dezembro – e o apoio de carácter administrativo aos utentes das urgências e das consultas externas.
“Não nos podemos prender aos doentes, sob pena de comprometer a nossa saúde”, salienta Manuel Vieira. No entanto, “há relações saudáveis” que se constroem entre voluntário e doente e que perduram para além da passagem pelo hospital, considera o major. “Se não fizer isto, já sinto falta”, concretiza o presidente da liga.
César Lopes vai atrasar a preparação da Consoada por uma boa causa. Um dos responsáveis pela implantação do projecto Refood em Leiria começa o dia 24 fazendo a recolha dos alimentos por restaurantes e pastelarias aderentes. A meio da tarde serão entregues as refeições, que irão alegrar a noite de Natal de algumas famílias carenciadas de Leiria.
“É a primeira vez que vou estar a fazer voluntariado nesta data. Os meus filhos vêm passar o Natal comigo, pelo que terei de ser eu a preparar as coisas. Mas tudo se há-de arranjar.” A distribuição da comida será à tarde, quando também se realiza um lanche natalício entre os voluntários.
“Só depois de tudo feito é que irei para casa preparar a Consoada”, diz. “Sou um dos gestores do projecto, não podia falhar neste dia. Faço este sacrifício, mas é com boa vontade. Vou ter tempo para tudo”, garante. César Lopes acredita que alguns estabelecimentos vão dar uns miminhos e lembrar-se desta data especial. “Reunimos alguns produtos para oferecer um mini cabaz às famílias.”
LUÍS VASCO PEDROSO Viver o Natal... sem esquecer o negócio
Actualmente, Luís Vasco Pedroso é gerente do Old Beach, em São Pedro de Moel, e é gerente do bar do Operário, na Marinha Grande. Antes destas, passaram pela sua mão várias casas de diversão nocturna da região que, mesmo durante a quadra de Natal, nunca deixaram de abrir portas.
Para permitir aos seus clientes manter a tradição de sair de casa na noite da Consoada e no dia de Natal para reverem os amigos no café ou no bar do costume, Luís Vasco Pedroso habitou-se a abdicar da sua própria festa de Natal.
Ou melhor, habituou-se a vivê-la em versão resumida, de forma a conseguir conciliá-la com o dever profissional. Começa por delegar a compra dos presentes no irmão para conseguir trabalhar até às 17 horas do dia 24.
Só nessa altura dispõe de algum tempo para os embrulhos e para se preparar para a ceia. À hora de jantar costuma reunir-se com cerca de 20 familiares na casa de uma prima, de onde sai bem antes da meia-noite. Nessa altura, na maioria dos lares, já as crianças desembrulharam os presentes e foram dormir, e muitos adultos gostam de sair para estar com os amigos.
Por isso, no bar, “a noite de Consoada é noite de casa cheia”, salienta o gerente. Há muito que trabalhar, até cerca das 5 horas. O dia 25 é ainda mais duro, explica Luís Vasco. Depois da noite passada praticamente em claro, há que levantar cedo para almoçar com a família. “É assim há 25 anos”, salienta o gerente. Tão habitual é esta rotina de trabalho que nem a família critica, nem o próprio põe em causa se o Natal devia ser de outra maneira.
CARLOS JORGE Viver o Natal... próximo de Deus
Para Carlos Jorge, sacerdote da Igreja Nova Apostólica há cerca de sete anos, na Marinha Grande, a quadra de Natal é, tal como todos os dias da sua vida, aquilo que define como “uma espera activa”. Ou seja, como todos os que pertencem à Igreja Nova Apostólica, a meta “é esperar que Deus cumpra o prometido e envie o seu Filho para nos levar para o seu Reino”, explica Carlos Jorge.
Mas, enquanto tal não se concretiza, a espera é activa no sentido de trabalhar, reflectir, para que cada um de nós se torne o mais parecido com Ele possível, nos valores e nos actos que pratica com o outro”, prossegue o sacerdote. Todos os dias são de trabalho e de introspecção nesse sentido, acrescenta ainda.
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