Sociedade
Obras públicas são exemplo de que primeiro se estranha...
Contestar é, muitas vezes, a primeira reacção à mudança
Nas últimas semanas, o Município de Pombal tem vindo a realizar sessões de apresentação de projectos de obras, onde a crítica do público presente tem sido nota dominante. Aconteceu primeiro com a apresentação do projecto de requalificação da zona da Várzea e o cenário repetiu-se mais tarde, aquando da apresentação da zona de interface de transportes públicos.
Mas estes episódios não são filhos únicos. Nem no País, nem na região de Leiria em particular. A nível nacional, note-se o caso do Centro Cultural de Belém, que viu contestada desde a sua localização até à arquitectura adoptada, ou a Casa da Música, no Porto, em volta da qual se gerou grande polémica acerca de uma estética pouco consensual.
Na região de Leiria, só nos últimos 20 anos, foram vários os casos de obras que nasceram sob forte contestação. Nalguns casos, o tempo mostrou que as intervenções foram estratégicas para os territórios. Noutros, porém, o reconhecimento público ainda está por vir. Em qualquer das situações, a rejeição parece ser sempre a primeira reacção à mudança.
Álvaro Órfão, antigo presidente da Câmara da Marinha Grande, foi responsável por um vasto conjunto de obras públicas naquele concelho, sendo que algumas delas se ergueram sob forte contestação. O Parque da Cerca, inaugurado em 2004, foi uma dessas intervenções. “Inventaram que naqueles terrenos havia produtos tóxicos, quando eu sabia que os operários da Fábrica Escola os usavam para cultivo”, expõe o ex-autarca, para quem, neste caso, a contestação partia sobretudo dos adversários políticos, bem como de uma família em particular, que não queria desfazer-se daquela propriedade. “Quantas pessoas já morreram por frequentar o parque?”, ironiza Álvaro Órfão, que se congratula com o equipamento de lazer hoje muito utilizado pela população.
O Parque Municipal de Exposições foi também alvo de contestação política devido ao elevado valor do investimento, recorda o antigo presidente. “Custava à época 210 mil contos, mas tinha apoio comunitário de cerca de 80%”, recorda Álvaro Órfão. “Havia fundos disponíveis para este tipo de infraestrutura e se não aproveitássemos nós, aproveitaria outra câmara”, salienta. Duas décadas depois, é reconhecido o valor do espaço, nota o ex-presidente. Foi naquele parque que se realizaram vários concertos emblemáticos, a Bienal Internacional de Artes Plásticas e Design Industrial, além das feiras económicas, exemplifica.
“Qualquer coisa que se faça de diferente, a primeira reacção é contestar”, considera, por sua vez, Lino Ferreira, presidente da Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria, que recorda as críticas lançadas aquando da requalificação da Praça Rodrigues Lobo, há cerca de 20 anos. Os comerciantes opunham-se ao fecho daquelas ruas à circulação automóvel, mas também contra o tipo de piso aplicado na praça, bem como o mobiliário e o facto de a estátua do poeta que dá nome ao largo ter sido instalada num canto, sem a notoriedade que merecia, relata Lino Ferreira.
Mas, questões estéticas à parte, fechar a praça ao trânsito mostrou-se uma solução certeira, defende o dirigente da Acilis, que reconhece que aquele se tornou num dos principais pontos de convívio da cidade de Leiria. Para o sucesso desta obra concorreu também a criação do parque de estacionamento subterrâneo da Fonte Luminosa, impulsionado por iniciativa da Acilis, recorda.
Quando o reconhecimento tarda
Outras obras públicas existem na região, que não mereceram grande entusiasmo à partida e que continuam sem colher o reconhecimento de muitos.
A requalificação da zona envolvente ao Mosteiro de Alcobaça enquadra- se nesse perfil. O escultor J
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