Desporto

Os estrangeiros que treinam e não podem jogar

6 mar 2020 09:45

No âmbito da Protecção de Menores, o regulamento da FIFA impede crianças e jovens de praticar futebol federado. Verificaram-se 27 jovens jogadores nesta situação no distrito de Leiria.

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Por estes dias, a Academia CCMI conseguiu inscrever (finalmente) uma futebolista dos infantis
Ricardo Graça
Paula Sofia Luz

Quatro vezes por semana, Pedro (chamemos-lhe assim) percorre os três quilómetros que separam a urbanização onde mora, na Nova Leiria, até ao campo de treinos da Academia do Colégio Conciliar Maria Imaculada (CCMI), na Cruz da Areia. Depois volta para casa, num total de seis quilómetros a pé. 

É natural do Uzbequistão, tem 17 anos, mora e estuda em Leiria há cerca de quatro anos. Antes de jogar futebol neste clube, já treinara na União Desportiva de Leiria. Aqui, tal como lá, nunca jogou. Tem a certeza de que seria sempre convocado para jogar, tal é o empenho.

Mas está entre as centenas de jovens estrangeiros em Portugal que não podem ser inscritos ao abrigo do regulamento da FIFA, no âmbito da Protecção de Menores. As excepções aplicam-se apenas a casos muito particulares, e desde que os jogadores (crianças e jovens até aos 18 anos) residam em Portugal há mais de cinco anos.

Pedro mudou-se da União de Leiria para a Academia do CCMI porque ouviu dizer que ali era mais fácil resolverem a sua situação. “Porque já tínhamos conseguido desbloquear um caso, reunimos uma série de documentos, juntámos um grupo de pais, um deles advogado, e depois de conseguida a nacionalidade, foi mais fácil”, conta ao JORNAL DE LEIRIA Renato Cruz, presidente da Direcção do clube.

Mas no caso de Pedro, não está fácil. “É frustrante para o miúdo. Treina imenso, dedica-se muito, e quando à sexta-feira vem a convocatória…nunca é para ele”. Na Academia, Direcção e treinadores esperam que aguente mais um ano, até atingir a maioridade. Mas não tem sido sempre assim. 

“Há miúdos que desistem. Às vezes custa muito, porque são jovens talentos, mas sobretudo porque o desporto é tão importante na vida das crianças e jovens. E quando desanimam, dificilmente os conseguimos recuperar para uma vida saudável”, sublinha Renato Cruz. O dirigente insiste: “a mim o que me preocupa é mais a questão social. Não é a parte competitiva que nos perturba, é mesmo ao nível da integração”.

Por estes dias, o clube conseguiu inscrever (finalmente) uma atleta dos infantis, ao cabo de uma luta titânica. “Foi uma pequena vitória”, afirma o dirigente, mas a par do rapaz do Uzbequistão, há mais meia-dúzia de casos que atormentam a Academia, nascida em 2015, onde actualmente treinam e jogam 300 atletas, em 20 equipas de futebol. 

Os casos de impedimento são de crianças e jovens naturais do Brasil, Angola e Cabo Verde. Com o aumento do número de estrangeiros em Portugal (registado nos últimos anos), os clubes têm vindo a pressionar as Associações distritais e a Federação Port

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