Sociedade

Os recados do Presidente da República nas homenagens em Pedrógão Grande

18 jun 2018 00:00

Um ano depois do incêndio de 17 de Junho, Marcelo deixou várias mensagens.

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Em Nodeirinho, há um novo memorial, inaugurado ontem, domingo, que lembra as vítimas do grande incêndio de Pedrógão Grande. "Um símbolo que representa" o querer "dar um passo em frente", afirma Vítor Godinho, que há um ano perdeu quatro amigos com quem estava de férias. Uma iniciativa da população para não deixar o 17 de Junho de 2017 cair no esquecimento, explica Adelaide Silva, moradora na aldeia. Uma homenagem que assinala o dia em que Maria do Céu Silva e a família se esconderam da morte, e salvaram, no tanque que era o único ponto de água no interior de uma cortina de fumo e labaredas.

Este domingo, 17 de Junho, passou um ano sobre o incêndio que em 2017 matou 66 pessoas e feriu 250, com epicentro nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, onde se contam grande parte dos prejuízos (497 milhões de euros), das casas destruídas (251 de primeira habitação, só nestes três concelhos) e da área ardida (46 mil hectares, na soma com outros municípios vizinhos, também atingidos).

Oportunidades. Na terra queimada ainda algumas árvores se erguem em direcção ao céu vestidas de negro. Pelo chão que as chamas comeram, há um novo tapete verde que alastra com o vigor da vida. Dor e luto, renascimento e esperança. Um ano depois, é o próprio Presidente da República, de regresso a Pedrógão Grande, a dar voz à "mistura de sensações e de sentimentos", que pulsa nos territórios varridos pelo fogo. Emoções ancoradas nas memórias que ninguém esquece, mas, também, "o desejo de olhar para o futuro, de querer construir um futuro diferente", um que "dê oportunidade às crianças" e "aos jovens" dos concelhos do interior norte do distrito de Leiria, salienta Marcelo Rebelo de Sousa. 

Com a classe política em peso, a desfilar diante das câmaras de televisão, as homenagens mais sentidas deste domingo tiveram por protagonistas a população anónima e os bombeiros. Missa na igreja matriz de Pedrógão Grande, inauguração do monumento Fonte da Vida na aldeia de Nodeirinho, cerimónia na sede da Associação de Familiares das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande. Marcelo Rebelo de Sousa esteve em todas – começou o dia em Pedrógão Pequeno, no Congresso Nacional de Queimados, no sábado já tinha estado em Castanheira de Pera, na apresentação do projecto Pinhal de Futuro, no quartel dos voluntários e na abertura do festival literário Palavras de Fogo – e a ligação do Presidente da República aos concelhos do interior, mas sobretudo às pessoas que os habitam, parece mais uma vez autêntica, um prolongado reinado de afectos.

Em Nodeirinho, Marcelo Rebelo de Sousa participou na inauguração do monumento Fonte da Vida e elogiou a força dos habitantes da aldeia. Destacou a "vontade de renascer manifestada desde há um ano, dia após dia, semana após semana, mês após mês". E sublinhou as palavras bíblicas inscritas na obra assinada pelo escultor local João Viola: "Eis que faço novas todas as coisas".

Já à saída da missa na igreja matriz de Pedrógão Grande, o primeiro-ministro, António Costa, tinha enaltecido "a esperança e a força extraordinária" que toda a população dos concelhos afectados pelos incêndios de 17 de Junho "tem demonstrado" no esforço de reconstrução, um exemplo que diz ser uma "força inspiradora".

Recados e mensagens. Ao longo do fim-de-semana, o Presidente da República repetiu recados e mensagens. Disse que Portugal mudou irremediavelmente depois dos incêndios de 2017, considerou que o Portugal das cidades descobriu da pior forma os portugais esquecidos, afirmou que na prevenção e na limpeza da floresta está a ser feito o que é possível, mas colocou o foco numa nova atitude cívica e cultural, que seja capaz de resolver os problemas de fundo do interior, desencadear a mudança, que seja suficiente para corrigir as assimetrias e eliminar as desigualdades entre regiões de um país que avança a diferentes velocidades. E não deixar cair as preocupações actuais no esquecimento.

Marcelo Rebelo de Sousa acredita que "há toda uma mudança de mentalidade, de cultura cívica" em relação aos fogos e à floresta, mas "não basta", afirma, porque impõe-se "ultrapassar as diferenças económicas, sociais, culturais". Avisa que "enquanto houver essas diferenças, que num ou noutro caso são abismos, pode não ser esta tragédia, e esperemos que nunca mais seja, mas haverá outro tipo de problemas e de injustiças".

Ou seja, diz o Presidente da República, "é preciso ir mais longe, fazer mais por estas terras e por estas gentes". Daí a meta que Marcelo Rebelo de Sousa estabelece: até 2023, "para se ver se o Portugal metropolitano quer olhar um bocadinho mais para aquilo que não é metropolitano".

Férias em Pedrógão Grande. Já ao final da tarde, à saída da sede da Associação dos Familiares das Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande, onde participou numa cerimónia reservada, o Presidente da República desafiou os portugueses a passarem as férias de Verão nos concelhos afectados pelos incêndios de há um ano e anunciou que ele próprio planeia reservar alguns dias de descanso na região centro, na Praia das Rocas e em passeios pedestres. "Eu gostava de passar aqui um ou dois dias e na zona da tragédia de Outubro um ou dois dias, no começo de Agosto ou no final de Agosto, como se fosse passar férias, entre aspas, como turista".