Viver

Palavra de Honra | Acredito na Escola como local de oportunidades, de aprendizagem, de afectos e, acima de tudo, de sonhos de futuro

24 nov 2024 17:00

Sandra Campos, professora

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Já não há paciência... de nos demitirmos da nossa missão como cidadãos. Como parte que forma um todo. Estamos sempre à espera dessa grande entidade abstracta “eles” ou “os outros”. Eles que façam, que mandem, que resolvam… e nós? E eu? E tu?

Detesto... o pequeno poder que maltrata. Ter poder é servir os outros e contribuir para a melhoria das suas vidas. Isso é ser poderoso.

A ideia... de uma máquina pensar e sentir por mim é aterradora. A inteligência não pode ser artificial. É humana por definição.

Questiono-me se... este ritmo contranatura em que vivemos, com decisões em milésimos de segundo, com reacção em vez de reflexão, com crítica em vez de empatia, nos vai levar a algum lado… também posso responder: não!

Adoro... pensar devagar, ler devagar, viver devagar. Cozinhar para quem amo e estar à mesa horas a conversar sobre a vidinha. Gosto mesmo.

Lembro-me tantas vezes... dos ensinamentos da minha avó Joaquina, agricultora, que me dizia frequentemente: “Sandra, só regamos a terra no dia em que a água nos pertence!” Respeito.

Desejo secretamente... viver até ser muito velhinha e enrugada para acompanhar as gargalhadas dos meus filhos e dos filhos deles e dos filhos dos outros…. Não gosto da ideia de deixar isto, pá!

Tenho saudades... das tardes imensas da infância, onde brincar não era um conceito estudado e conferenciado. Onde paus eram talheres, pedras batatas fritas e o vento as cortinas da casa imaginária.

O medo que tive… do vazio, do silêncio, do espaço crescente, da ausência de risos nos recreios, dos corredores sem eco, das salas sem perguntas, durante a pandemia. Não quero mais!

Sinto vergonha alheia... de quem se augura o direito de decidir o que faço com o meu corpo. Respeito.

O futuro... a todos nós pertence. Estamos todos implicados naquilo que somos e seremos. Acredito mesmo que somos parte da equação, o que acarreta responsabilidade e compromisso. Sou professora porque acredito que ponho as mãos e a alma no futuro dos que me rodeiam, a quem ensino e com quem aprendo.

Se eu encontrar... o Nelson Mandela numa rua estrelada num tempo qualquer, dou-lhe um abraço e grito: “Obrigada, mestre!”

Prometo... continuar a ser uma cidadã, mãe e professora que acredita na Escola como local de oportunidades, de aprendizagem, de afectos e, acima de tudo, de sonhos de futuro.

Tenho orgulho... nos meus alunos quando voam, com o mundo todo nos olhos e vontade de ser. É um orgulho que se traduz, muitas vezes, em lágrimas de alegria. Assumo a minha emoção como parte daquilo que sou. Os meus alunos sabem do que falo!