Viver
Palavra de Honra | O altruísmo eleva-nos
Eunice Lisboa Neves, Arquitecta Paisagista e designer de permacultura
Já não há paciência... para a cultura capitalista e consumista que nos tenta convencer que somos mais felizes e importantes se tivermos os modelitos da última geração. O último iPhone, o último ipad, o último ‘i’ qualquer coisa. Basta. Nós não somos aquilo que temos, somos aquilo que fazemos pelo mundo que nos rodeia.
Detesto... a actual monocultura estética e o ideal de juventude artificial que nos impõem, onde cabelos brancos, pêlos e rugas parecem pecado. Proliferam lojas de cirurgia plástica e banalizam-se injecções de botox, como se fosse normal transformarem-nos todos em Barbies e Kens.
A ideia… de um mundo como o de Ami, o menino das estrelas de Enrique Barrios, encanta-me. Um mundo onde todos vivemos de forma simples, digna e feliz e colocamos o intelecto ao serviço do coração. É esse o mundo onde sonho viver.
Questiono-me… se os jovens pais têm a noção do colapso ecológico que está a acontecer no Planeta e se pensaram nesse ‘pequeno problema’ ao terem filhos. Se não pensaram, por favor, pensem agora. Há tantas coisas que todos podemos fazer para tentar reverter a situação.
Adoro... passar tempo com os filhos dos meus amigos e entrar nas histórias fantásticas e surpreendentes que eles inventam. São muito mais divertidas e entusiasmantes do que o mundo dos adultos. Acredito que a criatividade e assertividade das crianças é que nos vai safar.
Lembro-me tantas vezes... que não sou só os meus pensamentos, as minhas emoções, as minhas sensações… sou isso e muito mais. Sou esta presença que
me permite ser espectadora da minha própria vida e ‘parar a cassete’ sempre que é preciso.
Desejo secretamente... transformar São Romão num exemplo de sustentabilidade e permacultura. Cada casa com um jardim comestível, painéis fotovoltaicos, tanques de recolha da água das chuvas… Na rua, hortas comunitárias, crianças a brincar com os avós, passarinhos a chilrear entre os arbustos, artistas a pintar a estrada ondejá não passam carros, cheiro a pão acabado de sair do forno… quem não vai querer viver num sítio assim!?
Tenho saudades... da minha avó Celeste, que fazia a melhor sopa de feijão, os melhores pastéis de massa tenra, os melhores ovos mexidos… E que tinha um cheirinho a sabonete ‘Feno de Portugal’ que eu adorava e que ainda hoje cheiro sempre que passo na secção de sabonetes do minimercado, só para me sentir perto dela.
O medo que tive… quando apanhei boleia na Califórnia para uma viagem de oito horas e a meio caminho o condutor me disse que sofria de narcolepsia. Nunca falei nem rezei tanto na vida!
Sinto vergonha alheia... do ar altivo de algumas pessoas quando guiam o seu carro topo de gama pela cidade, como se este as elevasse a um estatuto maior que o comum dos mortais. Fico incrédula como gastamos centenas de milhares de euros em carros e aparências quando há tanta gente à nossa volta a precisar de ajuda para sobreviver. O altruísmo, esse sim, eleva-nos.
O futuro… da Humanidade e do Planeta está na corda bamba e ninguém consegue prever o que aí vem. Vamos lá arregaçar as mangas e unir esforços para resolver a encrenca em que estamos, antes que seja tarde demais.
Se eu encontrar... o Ministro do Negócios Estrangeiros à minha frente convenço-o a aceitar as centenas de afegãos que pediram asilo a Portugal e que estão há meses, num terror absurdo, à espera de resposta. Há espaço e recursos para todos, Senhor Ministro!
Prometo… continuar a acreditar e a lutar por um mundo onde não há fronteiras geográficas, raciais, sociais ou económicas. Onde estendemos a mão a quem mais precisa e partilhamos o que temos de coração aberto e sorriso na cara.
Tenho orgulho... nas mulheres da minha vida (na minha avó, na minha mãe, nas minhas tias e nas minhas amigas) cuja força interior, inteligência, sensibilidade e
determinação são difíceis de abalar. Mulheres assim ao poder!